sábado, 30 de julho de 2022

OLÁ! PRA COMEÇO DE CONVERSA...

 

SEJA BEM-VINDO!

 

 

S E para quem ficará o que tu acumulaste?'
Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não é rico diante de Deus
.'( Lc 12, 21).

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2022

18.º DOMNGO DO TEMPO COMUM – ANO C

OLÁ! PRA COMEÇO DE CONVERSA...

Reunidos em assembleia litúrgica, vamos pedir a Deus o auxílio de sua sabedoria para buscarmos sempre o essencial para nossa vida em nossa sociedade do consumo que nos propõe buscar muitas coisas, mesmo sem as condições necessárias. Com a sabedoria divina, evitaremos o risco de uma vida ilusória e poderemos colocar nossos dons e bens a serviço do próprio Deus e dos irmãos e irmãs, na vocação a que somos chamados.

1-    Liturgia do 18.º Domingo do Tempo Comum- C

Domingo do rico que acumulou muitos bens. Escutamos do Senhor a parábola do homem que passou a vida acumulando riquezas. Recebemos dele a advertência contra todo tipo de ganância. Celebramos a páscoa de Jesus que se manifesta em todas as pessoas e grupos que vivem a dimensão da partilha.

Era costume os mestres e rabinos do tempo de Jesus resolverem contendas e brigas entre familiares e vizinhos, constituindo-se numa espécie de juiz de conciliação. Jesus recusa este papel de juiz ou árbitro, para não ficar reproduzindo e legitimando o sistema que gera estas desavenças. Ele assume uma atitude de crítica cultural ao sistema que provoca a cobiça e a ganância. É neste contexto que conta a parábola do homem ganancioso que enche seus celeiros e que se gaba da eficiência da produtividade. Através dela, Jesus mostra como esta cultura é ridícula, frágil e sem fundamento, convidando os discípulos a se posicionarem de outro modo, a partir de outros critérios, que não o lucro desmedido.

Ao afirmar que a vida não depende de seus bens, Jesus, certamente, não está querendo legitimar um sistema que deixa as maiorias sem o mínimo necessário para viver. É evidente que os bens materiais são necessários para a vida. Mas a vida não resulta da riqueza e muito menos quando esta é resultado da acumulação. Se fosse assim, os ricos não ficariam doentes nem passariam pela morte ou pelo sofrimento. Do lado inverso, os pobres nunca poderiam ser felizes. No entanto, muitas vezes, encontramos pessoas que, materialmente, não têm motivos para se alegrarem e, assim mesmo, têm uma atitude positiva perante a vida, alegrando-se com as pequenas coisas.

Na celebração deste domingo deixemos que a palavra nos console e alegre o nosso coração com a promessa de vida e felicidade como dons de Deus. Que ele nos livre da ganância e da tentação de possuir bens a qualquer preço, sobretudo quando resulta do empobrecimento e da exploração dos outros. Que se realize em nossas vidas todo o sentido de partilha e de comunhão experienciado na celebração.

https://revistadeliturgia.com.br/celebracao-da-palavra-18o-domingo-do-tempo-comum-ano-c/

2-    “Buscar o essencial” (Papa Francisco)

 O Evangelho de hoje (cf. Lc 12, 13-21) tem início com a cena de um homem que se levanta na multidão e pede que Jesus resolva uma questão jurídica sobre a herança da família. Na sua resposta Ele não trata o problema mas exorta a afastar-se da ganância, isto é, da avidez de possuir. Para desviar os seus ouvintes dessa busca frenética da riqueza, Jesus conta a parábola do rico insensato, que acredita que é feliz porque teve a sorte de uma extraordinária colheita e se sente seguro pelos bens que acumulou. ... A história ganha vida quando surge o contraste entre o que o homem rico projeta para si mesmo e o que Deus lhe promete. O rico põe ... perante si mesmo, três considerações: os grandes bens acumulados, os muitos anos que esses bens parecem assegurar-lhe, e terceiro, a tranquilidade e o bem-estar exagerado (cf. v. 19). Mas a palavra que Deus lhe dirige cancela estes projetos. Em vez dos «muitos anos», Deus indica o imediatismo «desta noite; esta noite morrerás»; em vez do «gozo da vida», Ele apresenta-lhe a «prestação de contas da vida; entregarás a vida a Deus», com o consequente juízo. Quanto à realidade dos muitos bens acumulados sobre os quais o rico baseava tudo, foi coberta pelo sarcasmo da pergunta: «E o que preparaste, de quem será?» (v. 20). Pensemos nas lutas pelas heranças; muitas batalhas familiares. E a tantas pessoas, todos nós conhecemos alguma história, para as quais se aproxima a hora da morte, começam a chegar os netos, os sobrinhos, perguntando: “Mas o que cabe a mim?”, e levam embora tudo. ... Ele é insensato porque na prática negou Deus, não fez as contas com Ele. A conclusão da parábola, formulada pelo evangelista, é de eficácia singular: «Assim acontece a quantos acumulam tesouros para si mesmos e não se enriquecem com Deus» (v. 21). É uma advertência que revela o horizonte para o qual todos somos chamados a olhar. Os bens materiais são necessários — são bens! — mas consistem um meio para viver honestamente e partilhar com os mais necessitados. Hoje Jesus convida-nos a considerar que as riquezas podem aprisionar o coração e desviá-lo do verdadeiro tesouro que está no céu. São Paulo também nos recorda isto na segunda leitura de hoje. Ele diz: «Procurai as coisas do céu... dirigi os vossos pensamentos para as coisas do céu, não para as da terra» (Cl 3, 1-2). Isto — compreende-se — não significa afastar-se da realidade, mas procurar o que tem valor verdadeiro: justiça, solidariedade, acolhimento, fraternidade, paz, tudo o que constitui a verdadeira dignidade do homem. Trata-se de se orientar para uma existência vivida não no estilo mundano, mas segundo o estilo evangélico: amar a Deus com todo o nosso ser e amar o próximo como Jesus o amou, isto é, no serviço e no dom de si mesmo. Francisco na oração do Angelus de 04 de agosto de 2019)

https://www.diocesedeerexim.org.br/painel/admin/upload/revistas_pdf/rev-358-7.missasjulho-2022.pdf

3-    Agosto: Mês vocacional – tema: “Cristo Vive! Somos suas testemunhas”; no lema: “Eu vi o Senhor!” (Jo 20,18).

Todo ano, sempre no mês de agosto, a Igreja Católica celebra o Mês Vocacional.

Vocação. Do latim, vocare, que significa chamado. É por essa palavra que agosto é reconhecido no calendário da Igreja Católica desde 1981, quando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 19ª Assembleia Geral, o instituiu como o Mês Vocacional, um tempo dedicado totalmente às vocações.

 

Criado com o objetivo de conscientizar as comunidades acerca da responsabilidade que compartilham no processo vocacional, desde então, em cada domingo do mês de agosto é celebrada uma determinada vocação.

 

O que é uma Vocação?

A vocação é um chamado que provém da boca de Deus. E, compreender a vocação como um dom é reconhecer que, em todas as circunstâncias, Deus nos chama a viver e realizar seu projeto de amor. Cabe a nós, entender e aceitar ou não os planos que Ele tem para as nossas vidas.

 

Em seu infinito amor, o Senhor modelou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, os chamou à vida, para que, na liberdade de filhos e filhas, fossem os seres que dessem continuidade à sua criação.

 

Portanto, vocação é dizer ‘sim’ a Deus, pela fé, é descobrir o próprio lugar no mundo, na família, na comunidade e no serviço aos irmãos. Para descobrir bem este projeto, porém, faz-se necessário um discernimento.

 

O que é um mês vocacional?

Dedicado à oração, assim é conhecido o mês de agosto, com reflexões e olhares voltados para as vocações. De domingo a domingo, em forma de oração, a intenção é pedir a Deus que prepare boas pessoas para cumprir e aceitar o chamado de Deus na Terra, tornando o discernimento como algo essencial em nossa vida.

 

Por isso, o mês de agosto é tão importante: é um tempo de esperança e de entendimento sobre o que Cristo quer para a vida de cada um de nós. 

https://www.pelavida.redevida.com.br/blog/por-que-agosto-e-o-mes-das-vocacoes

4-    Santos da primeira semana de Agosto

1 – Afonso de Ligório, bispo e doutor da Igreja.

2 – Eusébio de Vercelas, bispo e São Pedro Julião Eymard.

3 – São Nicodemos.

4 – João Maria Vianney, Cura d'Ars.

5 – Santa Maria Maior, dedicação da Basílica.

6 – Transfiguração do Senhor e Papa Hormisda, papa.

 


SB SABENDO BEM DESTE DOMINGO E DESTA SEMANA

 


 

01-   OLÁ! PRA COMEÇO DE CONVERSA...

 

1.    Liturgia do 18.º Domingo do Tempo Comum– Ano C;

2.    “Buscar o essencial” (Papa Francisco);

3.    Agosto, mês Vocacional;

4.    Santos da primeira semana de Agosto.

 

 

02-   LEITURAS DA MISSA DO 18.º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ANO C;

 

03-   LITURGIA DA SEMANA DE 01 DE AGOSTO A 07 DE AGOSTO;

 

04- REFLEXÃO DOMINICAL I: O IMPORTANTE É SER RICO PARA DEUS;

05- REFLEXÃO DOMINICAL II: QUE A GANANCIA NÃO ENDUREÇA O CORAÇÃO;

06-  REFLEXÃO DOMINICAL III: O VERDADEIRO TESOURO.

07-  FÉ E POLÍTICA SE ABRAÇARÃO II;

08- PECADOS CAPITAIS: COMO PODEMOS COMBATER O PECADO DA AVAREZA?

09-  A VIDA ECONÔMICA: O HOMEM, POBREZA E RIQUEZA SEGUNDO OS ASPECTOS BÍBLICOS;

10- 5G NO BRASIL: GUIA EXPLICA O QUE VAI MUDAR COM A NOVA TECNOLOGIA;

 

11-  SANTOS DA PRIMEIRA SEMANA DE AGOSTO EM DESTAQUE:

SANTOS AFONSO MARIA DE LIGÓRIO E SÃO JOÃO MARIA VIANEY;

12- SANTO AGOSTINHO E O PENSAMENTO SOCIAL: A CARIDADE E O RETO USO DOS BENS;

 13- SUGESTÃO DE LEITURA

1.    A Riqueza e a Pobreza: Sermões de São João Crisóstomo (S.João Crisóstomo);

2.    Avareza (Emiliano Fittipaldi).

 


ENDEREÇO DO SB SABENDO BEM

 


Caro(a) Leitor(a) amigo(a):

O meu abraço fraterno e uma ótima semana a todos!

ACESSE SEMPRE O BLOG: sbsabendobem.blogspot.com e divulgue aos seus amigos, conhecidos e contatos nas redes sociais. Comente, faça sugestões. Agradeço!

Escreva para: sbsabedobem@gmail.com

 

 

# VACINAR É UM ATO DE AMOR!

 

EU CUIDO DE VOCÊ E VOCÊ CUIDA DE MIM E DEUS CUIDA DE NÓS!

 

 

 


LEITURAS DA MISSA 18.º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C

 


LEITURAS DA MISSA

 

18.º DOMINGO DO TEMPO COMUM -  ANO C

 

PRIMEIRA LEITURA

Que resta ao homem de todos os seus trabalhos?

Leitura do Livro do Eclesiastes 1,2; 2,21-23

'Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes,
vaidade das vaidades!
Tudo é vaidade.'
Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência,
competência e sucesso,
vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro
que em nada colaborou.
Também isso é vaidade e grande desgraça.
De fato, que resta ao homem
de todos os trabalhos e preocupaçðes
que o desgastam debaixo do sol?
Toda a sua vida é sofrimento,
sua ocupação, um tormento.
Nem mesmo de noite repousa o seu coração.
Também isso é vaidade.

Palavra do Senhor. – Graças a Deus!


Salmo responsorial: Sl 89,3-4.5-6.12-13.14.17 (R.1)

R. Vós fostes ó Senhor, um refúgio para nós.

Vós fazeis voltar ao pó todo mortal,*
quando dizeis: 'Voltai ao pó, filhos de Adão!'
Pois mil anos para vós são como ontem,*
qual vigília de uma noite que passou. R.

Eles passam como o sono da manhã,*
são iguais à erva verde pelos campos:
De manhã ela floresce vicejante,*
mas à tarde é cortada e logo seca. R.

Ensinai-nos a contar os nossos dias,*
e dai ao nosso coração sabedoria!
Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis?
Tende piedade e compaixão de vossos servos! R.

Saciai-nos de manhã com vosso amor,*
e exultaremos de alegria todo o dia!
Que a bondade do Senhor e nosso Deus
repouse sobre nós e nos conduza!*
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho. R.


SEGUNDA LEITURA

Esforçai-vos por alcançar as coisas
do alto, onde está Cristo.

Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses 3,1-5.9-11

Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
esforçai-vos por alcançar as coisas do alto,
onde está Cristo, sentado à direita de Deus;
aspirai às coisas celestes
e não às coisas terrestres.
Pois vós morrestes,
e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus.
Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo,
então vós aparecereis também com ele,
revestidos de glória.
Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra:
imoralidade, impureza,
paixão, maus desejos
e a cobiça, que é idolatria.
Não mintais uns aos outros.
Já vos despojastes do homem velho
e da sua maneira de agir
e vos revestistes do homem novo,
que se renova segundo a imagem do seu Criador,
em ordem ao conhecimento.
Aí não se faz distinção entre grego e judeu,
circunciso e incircunciso,
inculto, selvagem, escravo e livre,
mas Cristo é tudo em todos.


Palavra do Senhor.- Graças a Deus!


Aclamação ao Evangelho( Mt 5,3)


R. Aleluia, Aleluia, Aleluia.


V. Felizes os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.


EVANGELHO

 

E para quem ficará o que tu acumulaste?'

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 12,13-21

Naquele tempo:
Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: 'Mestre,
dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.'
Jesus respondeu:
'Homem, quem me encarregou de julgar
ou de dividir vossos bens?'
E disse-lhes:
'Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância,
porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas,
a vida de um homem não consiste na abundância de bens.'
E contou-lhes uma parábola:
'A terra de um homem rico deu uma grande colheita.
Ele pensava consigo mesmo:
'O que vou fazer?
Não tenho onde guardar minha colheita'.
Então resolveu: 'Já sei o que fazer!
Vou derrubar meus celeiros e construir maiores;
neles vou guardar todo o meu trigo,
junto com os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo:
- Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos.
Descansa, come, bebe, aproveita!'
Mas Deus lhe disse: 'Louco!
Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida.
E para quem ficará o que tu acumulaste?'
Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não é rico diante de Deus.'


Palavra da Salvação- Glória a Vós, Senhor!

LITURGIA DA SEMANA DE 01 DE AGOSTO A 07 DE AGOSTO

 

LITURGIA DA SEMANA DE 01 DE AGOSTO A 07 DE AGOSTO

Dia 1º, 2ªf, Santo Afonso Maria de Ligório: Jr 28,1-17; Sl 118(119); Mt 14,13-21;

Dia 02, 3ªf, Santo Eusébio de Verceli; São Pedro Julião Eymard: Jr 30,1-2.12-15.18-22; Sl 101(102); Mt 14,22-36;

Dia 03, 4ªf: Jr 31,1-7; Jr 31,10.11-12ab.13(R.cf.10d); Mt 15,21-28;

Dia 04, 5ªf, São João Maria Vianney: Jr 31,31-34; Sl 50(51); Mt 16,13-23;

Dia 05, 6ªf: Na 2,1.3;3,1-3.6-7; Dt 32,35cd-36ab.39abcd.41(R.39c); Mt 16,24-28;

Dia 06, Sáb., TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR: Dn 7,9-10,13-14 ou 2Pd 1,16-19; Sl 96(97); 2Pd 1,16-19; Lc 9,28b-36;

Dia 07, Dom. 19ºDTC: Sb 18,6-9; Sl 32(33); Hb 11,1-2.8-19 ou mais breve: Hb 11,1-2.812; Lc 12,32- 48 ou mais breve: 

REFLEXÃO DOMINICAL I O IMPORTANTE É SER RICO PARA DEUS

 

REFLEXÃO DOMINICAL I

 

O IMPORTANTE É SER RICO PARA DEUS

Padre Wagner Augusto Portugal

Meus queridos Irmãos, Neste domingo do tempo quotidiano, chamado 18o Domingo do Tempo Comum, celebramos a clausura do mês de julho, coincidindo com o encerramento da Jornada Mundial da Juventude, na Cracóvia, terra natal de São João Paulo II e berço irradiador da Divina Misericórdia.

Assim, hoje junto com a dignidade do trabalho humano, onde o importante é SER RICO PARA DEUS, tema central de nossa reflexão.

A liturgia de hoje nos lembra que basta uma crise financeira para que os homens e mulheres se lembrarem da precariedade dos tesouros deste mundo. O Evangelho de hoje nos fala de atitudes comezinhas na vida familiar: A briga de irmãos sobre uma herança; querem que Jesus resolva o impasse. Jesus não se interessa: sua missão é outra. Que adiantaria, para o Reino de Deus, impor a esses dois irmãos uma solução que, provavelmente, não os reconciliaria? Para Jesus interessa que a pessoa se converta para os valores do Reino de Deus. Jesus, no seu modo simples de colocar os tesouros eternos, conta à parábola do rico insensato, que depois de uma boa safra achou que poderia descansar para o resto de sua vida e viver daquilo que guardara em toda a sua vida. Coitado, na mesma noite Deus viria reclamar sua vida… Jesus não quis denunciar o desejo de viver decentemente, mas a mania de colocar sua esperança nas riquezas e poderes deste mundo, esquecendo reunir tesouros junto a Deus. As riquezas não são um mal em si, mas desviam a nossa atenção da verdadeira riqueza, a amizade com Deus, que alcançamos pela dedicação a seus filhos.

A Primeira Leitura(cf. Ecl 1,2; 2,21-23) nos interpela com a seguinte pergunta: Para que a riqueza e o saber? O Antigo Testamento gosta geralmente da vida. O Livro do Eclesiastes, porém, dedica-se ao ceticismo. Ataca o leitor com perguntas inoportunas. Que é o homem? Por que existe? Aonde vai? Para que servem a riqueza e o saber, dificilmente alcançados e tão facilmente perdidos na hora da morte? É como um vento que passa. Que sobra? Estas perguntas nos preparam para valorizar o “tesouro junto de Deus” que nos aponta Lucas na missa de hoje.

A grande lição que o “qohélet” nos deixa é a demonstração da incapacidade de o homem, por si só, encontrar uma saída, um sentido para a sua vida. O pessimismo do “qohélet” leva-nos a reconhecer a nossa impotência, o sem sentido de uma vida voltada apenas para o humano e para o material. Constatando que em si próprio e apenas por si próprio o homem não pode encontrar o sentido da vida, a reflexão deste livro força-nos a olhar para o mais além. Para onde? O “qohélet” não vai tão longe; mas nós, iluminados pela fé, já podemos concluir: para Deus. Só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.

As conclusões, quer do “qohélet” seriam desesperantes se não existisse a fé. Para nós, os crentes, a vida não é absurda porque ela não termina nem se encerra neste mundo. A nossa caminhada nesta terra está, na verdade, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência.

Caros irmãos,

A Segunda Leitura(cf. Cl. 3,1-5.9-11) nos apresenta uma nova vida em Cristo. No final de sua epístola, São Paulo mostra aos colossenses as exigências que coloca ao cristão a vida nova, que é: morrer e corressuscitar com Cristo. A comunhão com Cristo não é só para a vida futura; já somos nova criação em Cristo, embora esteja ainda escondida em Deus, como o próprio Cristo. Mas já age, já tem a sua forma definida. Para isso, o velho homem deve morrer, não por uma mortificação que diminui o homem, mas pela vida nova na comunhão, isto é que nos garante um tesouro junto a Deus.

Na perspectiva de São Paulo ser batizado é identificar-se com Cristo e, portanto, renunciar aos mecanismos que geram egoísmo, ambição, injustiça, orgulho, morte – os mesmos que Jesus rejeitou como diabólicos; e é, em contrapartida, escolher uma vida de doação, de entrega, de serviço, de amor – os mecanismos que levaram Jesus à cruz, mas que também o levaram à ressurreição. O objetivo da nossa vida é, de acordo com São Paulo, a renovação contínua da nossa vida, a fim de que nos tornemos “imagem de Deus”.

A cobiça deve, também, ser considerada nesta liturgia. Junto da cobiça a ganância. A cobiça é a irmã gêmea da avareza que Santo Antônio chamou de “comida do diabo”. Tudo isso porque os bens que amealhamos aqui neste mundo são transitórios e precários. Não se trata de condenar a riqueza em si mesma, criatura boa de Deus ou da inteligência humana. Trata-se de examinar o comportamento em sua dimensão horizontal – para o mundo e para a sociedade – e vertical – para Deus e a eternidade.

Assim o Evangelho de hoje(cf. Lc. 12,13-21) é atualíssimo. Vivemos uma sociedade voltada para o bem estar absoluto, para o hedonismo, para uma vida totalmente sem sofrimento, com a busca desenfreada do ter, do prazer e do consumismo desvairado. As famílias não querem mais filhos. O que se busca é o prazer pelo prazer, um consumismo terrível e um bem-estar eterno.

O Evangelho vai na contra-mão: a felicidade humana não está nem no muito possuir e nem no prazer de dominar.

A ganância é precária e os bens deste mundo somente servem se estiverem a serviço dos irmãos e da edificação de uma vida comunitária. Segundo a lei mosaica para os camponeses, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho, herdava ainda dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em torno do terço sobrante. Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, uma espécie de advogado, teólogo e juiz. Vemos, então, que Jesus era considerado pelo povo como um advogado, ou como uma pessoa justa. Mas Jesus, evitando tomar o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de usurpar poderes, fala da cobiça e da avareza. O episódio de hoje é fascinante: alguém herdara todos os bens, menos uma pequena parte, que devia ser repartida entre os irmãos, e negava-se a fazê-lo, porque queria a herança inteira para si. Uma ganância forte, que não só feria os direitos dos outros, mas também, e, sobretudo, o amor fraterno, sobre o qual Jesus queria construir o novo povo de Deus.

Irmãos e Irmãs,

A ganância sempre deixa o homem desassossegado. Santo Agostinho disse que a ganância não respeita nem Deus, nem o homem, não perdoa nem o pai nem o amigo, não considera nem a viúva e nem o órfão. Em torno de nós está a confirmação. Para se compreender e viver o Evangelho temos que ser desapegados. Deus primeiro nos criou. Depois do direito a vida nos deu a liberdade. A vida pertence a Deus. Ele a dará e ele a tirará. Os grandes mestres da vida, quando falam da precariedade dos bens, costumam apontar o dedo para o mistério da morte, que nos quer nus, como nus saímos do ventre de nossa mãe. Mas do que riquezas neste mundo devemos ser ricos diante de Deus, sempre procurando a misericórdia e a caridade.

Assim, para levar a sério à advertência do Evangelho e necessário rever os critérios de nossas vidas. Precisamos acreditar que nossa vida é diferente daquilo que o materialismo nos propõe. A Segunda Leitura, retirada da carta aos Colossenses, nos fornece uma base sólida para tal fé. Co-ressuscitados com Cristo devemos procurar as coisas do alto: o que é de valor definitivo, junto de Deus. E isso não está muito longe de nós. Nossa verdadeira vida é Cristo, que está escondido junto a Deus, na glória que se há de manifestar no dia sem fim.

Vamos, pois, usar os bens que Deus nos concede com liberdade e liberalidade, colocando tudo em benefício do próximo, na partilha e na solidariedade. Com os bens materiais as pessoas podem fazer o bem. Para isso é preciso que elas vivam em atitude de jejum, numa atitude de respeito e de liberdade diante dos bens, sem a eles se escravizar e partilhando-os com o próximo.

Irmãos e Irmãs

O que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a deificação da riqueza. Até alguém que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar neles o seu interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamenta

https://catequizar.com.br/liturgia/18o-domingo-do-tempo-comum-c/#:~:text=Meus%20queridos%20Irm%C3%A3os%2C,ber%C3%A7o%20irradiador%20da%20Divina%20Miseric%C3%B3rdia.

 

REFLEXÃO DOMINICAL II QUE A GANÂNCIA NÃO ENDUREÇA O CORAÇÃO

 

REFLEXÃO DOMINICAL II

 

QUE A GANÂNCIA NÃO ENDUREÇA O CORAÇÃO

Referências bíblicas
1ª Leitura - Eclo 1,2; 2,21-23
Salmo - Sl 89,3-4.5-6.12-13.14.17 (R.1)
2ª Leitura - Cl 3,1-5.9-11
Evangelho - Lc 12,13-21

A palavra de Jesus no Evangelho de hoje e a liturgia desse 18° Domingo do Tempo Comum não podem ser reduzidas apenas à necessidade individual de conversão da ganância. Sabemos que tanto o pecado como as virtudes podem ser pessoais, mas também sociais e estruturais. Por isso, é necessário aplicar o Evangelho também ao contexto sócio, político, econômico e planetário, a fim de que ele nos ajude a iluminar as situações em que a ganância gera morte.o coração

A liturgia deste domingo traz na primeira leitura (Ecl 1,2;2,21-23) um texto bastante conhecido e, ao mesmo tempo, desconcertante do livro do Esclesiastes que pertence ao grupo dos livros sapienciais. O sábio Qohéleth dirá: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! (1,2)”.

Nesta leitura, temos uma reflexão sobre as grandes questões da existência humana, na qual o autor nos confronta sobre onde colocamos a nossa esperança. Diz o texto: “Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou... Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?" (2,21-22).

Neste momento histórico em que cresce de forma absurda o número de desempregados, não podemos pensar que o texto faz uma apologia ao desemprego. Como diz a canção de Gonzaguinha: “O homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e vida é o trabalho. E sem o seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”.

O que o autor bíblico quer nos ajudar a perceber, apesar de seu tom cético e um tanto pessimista sobre o cotidiano da vida, é que trabalho, bens, inteligência, competência, sucesso se tornam vazios e sem sentido quando deixam de ser meios para sermos felizes e ajudar outras pessoas a serem, e se tornam fins em si mesmos na busca da plena satisfação dos próprios desejos.

Salmo 89 reforça essa mensagem lembrando-nos de que somos seres contingentes, frágeis e passageiros: “iguais à erva verde pelos campos que de manhã floresce vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca”. Só o Senhor é capaz de saciar nossos anseios, dirá o salmista, e dar sentido ao trabalho humano.

Na segunda leitura tirada da Carta de São Paulo aos Colossenses (3,1-5.9-11), presenciamos um texto cheio do que chamamos de dialética paulina, na qual o Apóstolo contrapõe o mundo celestial, perfeito, permanente ao mundo terreno, frágil e corruptível.

No entanto, mais do que uma tensão entre o agora e um futuro escatológico, o que temos é um apelo do autor bíblico que se embasa na certeza de que a vida cristã, pautada pelas coisas do alto, pode e deve, já, aqui na terra, mesmo que de forma imperfeita, desenrolar-se na plena identificação com o Ressuscitado.

As expressões “coisas do alto, celestes, coisas terrestres”, mais do que lugar, quer expressar situações internas do ser humano. Ou seja, em sintonia com as leituras anteriores dessa liturgia, a segunda leitura denuncia o pecado da idolatria que podemos chamar de cobiça e ganância, e anuncia que os verdadeiros bens se encontram em Cristo que é tudo em todos (3,11).

Por fim, no Evangelho de Lucas 12,13-21, Jesus é abordado por alguém que lhe pede para ser juiz na divisão dos bens entre irmãos. Indo até a raiz dos problemas, na mesma linha sapiencial da primeira leitura, Jesus chama a atenção para a ganância que leva a acumulação dos bens como busca da felicidade: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (12,15).

Jesus não está nos convidando ao conformismo. A busca pela justiça na forma de moradia, pão, segurança e educação para todos é desejada por Deus e pregada por Jesus. O que o Evangelho nos pede é atenção para que a ganância não endureça o nosso coração, levando-nos a agir como o homem da parábola que ajuntou um tesouro para si e esqueceu-se de compartilhar com seu irmão (12,19).

A palavra de Jesus no Evangelho de hoje e a liturgia desse 18° Domingo do Tempo Comum não podem ser reduzidas apenas à necessidade individual de conversão da ganância. Sabemos que tanto o pecado como as virtudes podem ser pessoais, mas também sociais e estruturais. Por isso, é necessário aplicar o Evangelho também ao contexto sócio, político, econômico e planetário a fim de que ele nos ajude a iluminar as situações em que a ganância gera morte.

Podemos deixar ressoar em nossa mente e coração: qual a finalidade dos bens que tenho ou busco? A quem esses bens servem?

E não podemos esquecer-nos de agradecer a Deus pela vocação sacerdotal. Peçamos por todos os sacerdotes para que Deus confirme sempre mais sua opção de servir a Deus e ao povo com simplicidade de vida e de coração, ajudando-nos a construir o Reino de Deus.

 

A reflexão é de Cristiane Rodrigues de Melo, fsp, membro da Congregação Pia Sociedade Filhas de São Paulo – Irmãs Paulinas. Ela é licenciada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR (2005), bacharel em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP/PE (2015) e possui pós-graduação em Psicopedagogia pela UNOESC-SC (2016).

https://www.ihu.unisinos.br/182-noticias/ministerio-da-palavra-na-voz-das-mulheres/591307-18-domingo-do-tempo-comum-ano-c-que-a-ganancia-nao-endureca-o-coracao


REFLEXÃO DOMINICAL III: O VERDADEIRO TESOURO

 



REFLEXÃO DOMINICAL III

 

O verdadeiro Tesouro

Certamente que as dúvidas de um desempregado, aposentado ou assalariado, são outras, bem diferentes do homem que protagoniza o evangelho desse domingo. Enquanto os primeiros se perguntam como irão sobreviver e pagar tantas contas, o segundo está com uma dúvida cruel: onde irá armazenar o trigo, que produziu muito mais do que o esperado... Será que vale a pena derrubar os celeiros e fazer outros maiores para armazenar a produção excedente?

Segundo a lógica capitalista que prioriza o lucro e o patrimônio, nem é preciso pensar duas vezes,  seria uma burrice não investir. Mas segundo a lógica do evangelho, e a linha de raciocínio de um sábio chamado Coélet, é uma grande perda de tempo correr atrás da felicidade, pensando que ela está nas riquezas que este mundo pode oferecer, pois tudo é vaidade, conclui o sábio. Jesus por sua vez, não faz nenhum discurso inflamado contra o capitalismo, ou contra os grandes latifundiários que monopolizam a economia, para decepção dos que querem uma revolução, ele apenas constata o terrível engano que cometem os que depositam toda sua segurança e felicidade, apenas nos bens deste mundo.

De fato, podemos imaginar a frustração e o terror que se apodera do coração de um homem, que chegando de maneira consciente ao derradeiro instante de sua vida, descobre que passou toda sua existência acumulando riquezas, que na verdade não passavam de quinquilharias sem valor, perto do tesouro inestimável do amor e da graça que em Jesus o Pai ofereceu ao mundo. E o que é pior, tudo isso vai ficar para trás, nenhum centavo irá com ele, e outros que talvez nem trabalharam irão usufruir do seu capital.

Ele bem que poderia ter investido no verdadeiro tesouro, partilhando seus bens e sua riqueza com os pobres, poderia ter feito para os empregados uma forma de participação nos lucros, dando aos mesmos esta alegria, poderia quem sabe, ter investido forte no social, não apenas de uma maneira mesquinha, visando incentivo fiscal ou isenção tributária,, mas com o objetivo verdadeiro de melhorar as condições de vida de tantas pessoas. Poderia ainda ter gerado novos empregos, elaborar uma política salarial digna e séria, onde os empregados pudessem crescer e dar mais conforto á família, e não apenas oferecer alguns míseros percentuais para repor a inflação. Isso também vale para os governantes, que muitas vezes colocam a saúde e o social em segundo plano.

Quantas bênçãos para o patrimônio de uma empresa ou nação, Deus envia do céu, quando se coloca a vida do ser humano em primeiro lugar, e não os seus interesses políticos, ou os seus gordos lucros! Mas não!

Nada disso fez este homem, que preferiu relacionar-se de maneira possessiva com seus bens: “MEU trigo, MEUS celeiros”, armazenar, acumular, ganhar mais para ter um lucro ainda maior, em nenhum momento ele fez planos que incluíssem a família, a mulher e os filhos, em nenhum momento ocorreu-lhe a ideia de ajudar seus empregados.

O fim de tal homem será terrível! Não porque Deus irá se vingar mandando-o para as profundezas do inferno, mas sim porque, como já o dissemos, na última hora vai “cair à ficha” descobrirá amargurado, que viveu de maneira egoísta, o remorso e o arrependimento lhe baterão no coração, e a dor por estar longe de Deus e do seu reino, será eterna e insuportável! Isso é o inferno! Esse homem durante a sua vida não conseguiu se descobrir como um Filho de Deus, vocacionado ao amor, que partilha que é generoso e solidário com os que não têm. Uma partilha que não pode ser imposta pelo poder de alguma lei, mas ditada por um coração transbordante de amor, esta é a razão porque Jesus se recusa a interferir em uma briga de irmãos na disputa de uma herança.

Na verdade este homem perdeu toda a sua existência correndo atrás do brilho falso e ilusório das riquezas materiais, cultuando o deus dinheiro e fazendo das grandes magazines as imponentes catedrais de adoração ao poderoso deus do consumo, permanecendo no “Homem velho”, não se dando conta que a ressurreição de Jesus marcou uma “virada” definitiva na vida do homem, que precisa sim dos bens deste mundo para viver, mas que em seu coração só busca as coisas do alto onde está a verdadeira glória e o mais valioso de todos os tesouros da terra.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  
jotacruz3051@gmail.com

http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0315.htm#msg01

 


FÉ E POLÍTICA SE ABRAÇARÃO (II)

 

FÉ E POLÍTICA SE ABRAÇARÃO (II)

 

Por Prof. Dr. Fernando Altemeyer Júnior

 

III. Fé e Política se abraçarão

 

Vários movimentos e instituições no Brasil assumem o abraço fecundo da fé e da política.

O Movimento de Defesa dos Direitos Humanos, e entre eles o Centro de Defesa de Campo Limpo na cidade de São Paulo, que chegou agora aos 25 anos de existência, geraram pessoas novas e novos relacionamentos. Ocorreram novidades e sofrimentos. Nos Centros de defesa, as pessoas, situações, lugares e momentos fortes valorizam momentos especiais do cotidiano. Este o momento da fé.

Para que isto aconteça harmoniosamente é preciso que cada um de nós saia desta roda infernal do ativismo. Que com frequência religiosa, cada servidor do povo, encontre as pessoas (através de visitas gratuitas e não para marcar novas reuniões!), repense as situações que viveu e vive, amplie horizontes dos lugares que ocupa e transita, e, viva com alegria e coragem os momentos fortes que lhe são reservados, e para os quais, às vezes, nem preparados estamos. E compreenda que nem todos viveram o que você viveu, que é fundamental partilhar com paciência e ternura. Não crescer sozinho, mas com os outros e como as árvores.

A palavra sobre a fé política, neste século XXI, não virá de soberanos e superiores argumentos de autoridade, mas da sapiencial e profunda experiência do próprio serviço em favor da vida. Deste diálogo fecundo entre a fé e a política.

Esta difícil aventura da busca da justiça e da verdade indicará alguns princípios concretos para a ação de nossos irmãos e sujeitos de transformação.

Este renovado esforço de libertação, efetuado no cotidiano da humanidade sofredora, redescobrira pela força da liberdade, novos segredos do viver. Graças a esta sua contribuição humilde e, propositalmente não arrogante, os movimentos sociais e pastorais podem, ao lado de outras mulheres e homens, felizes e renovados, na fidelidade ao povo, recriar solidariamente a história e seu sentido. Perder tempo e sono pelos outros.

Podemos recriar, enfim, gente nova, um Brasil fundado e vivido na ética e na verdade, e cada dia gerarmos vida nova, plena de direitos, e germinalmente cidadã, como nos dizia os antigos: “Incipit vita nova”.

Será, sobretudo, necessário termos em conta os novos fenômenos produzidos pelo neoliberalismo, como bem nos mostra a análise de Leonardo Boff:

No neoliberalismo, por causa da modernização e da competitividade, está presente uma lógica da exclusão. Os países do Sul, tecnologicamente atrasados, sem suficiente competitividade, com crises políticas internas devido à pobreza e à miséria, não são mais interessantes. Por isso, há neles pouquíssimos investimentos estrangeiros. Nós não valemos, porque estamos fora do mercado. Quem está fora, não existe” (Leonardo BOFF, “O Cristianismo e a nova ordem mundial”, in: Jornal O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15/8/1993, p. 3).

Entrementes, o próprio Boff, apresenta uma esperança concreta e palpável:

Acreditamos nas revoluções moleculares. Como as moléculas, a menor porção de matéria viva, garantem a sua vida pela relação e articulação com outras moléculas e com o meio ambiente, as revoluções devem começar nos grupos e comunidades interessadas em transformações. Nos grupos transformam-se as pessoas, suas praticas e suas relações com a sociedade circundante. E a partir daí, podemos começar a inundar espaços mais amplos da sociedade” (Leonardo Boff, “O Cristianismo e a nova ordem mundial”, in: Jornal O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15/8/1993, p. 4).

Mas, os desafios para realizar qualquer revolução molecular, são enormes, pois, como o afirma Michel Henry:

Quando, portanto, o trabalho se encontra progressivamente excluído de uma dada sociedade, como é o caso da nossa, não é somente a forma desta sociedade que é subvertida, mas a própria existência do homem. Como e por que se produz esta exclusão progressiva do trabalho? É o que aparece atualmente evidente: é a substituição da atividade humana por um dispositivo instrumental objetivo cada vez mais complexo, que reduz sem cessar a parte do trabalho vivo, no seio do processo de produção de bens úteis à vida” (Michel Henry, “Réinventer la culture”, in: Le Monde des Débats — nº 11, Paris, set., 1993, pp. 3-4).

O filósofo francês insiste:

Necessitamos hoje uma nova cultura para um mundo novo. Por que não? Mas, uma cultura não se fabrica, não se constrói como um computador. Ela vem de longe, ela esta lá desde sempre, incluída na vida como o logos que ela porta em si desde o princípio, como a vontade de viver, de se revelar e de realizar a si mesma – como esta atividade primordial de autotransformação e de autocrescimento, que não é senão um com ela e que se denomina “trabalho”. Mas, quando a essência da vida é excluída e seu poder é usurpado pelo reino cego do que nada sente, nem a si mesmo, é a cultura que desaparece. E a tarefa não é nada fácil atualmente se se trata da humanidade doar-se novamente uma cultura, num mundo onde o princípio consiste em sua eliminação” (Michel Henry, “Réinventer la culture”, in: Le Monde des Débats — nº 11, Paris, set., 1993, p. 4).

 

IV. OS PRINCÍPIOS NORTEADORES

 

Algumas marcas profundamente inovadoras, nesta nossa busca de concretizar as revoluções moleculares e estar atentos à reinvenção da cultura, na luta pela liberdade dos excluídos, no serviço à vida, inspiram-se no cumprimento de alguns princípios de base:

“1. estímulo à organização do povo;

2. lutar para garantir a plena vigência dos direitos humanos;

3. incentivar e garantir a autonomia dos movimentos sociais;

4. ter claro o seu papel, suas limitações e potencialidades, e enfim;

5. combater toda forma de discriminação.”

Alguns sinais históricos comprovam o cumprimento destes princípios:

a) Multiplicação de ONGs na base popular espalhadas pelos quatro cantos do país e de grupos de reflexão, particularmente no mundo rural e nas periferias urbanas.

b) Releitura da vida e da sociedade brasileira com novos óculos, vendo em cada pessoa humana, de maneira popular e comprometida, um companheiro e irmão de vida e de utopias, tomando em nossas mãos, lutas fundamentais, como os Projetos Populares, a democracia direta, a batalha pela Reforma Agrária, a defesa das Crianças e Adolescentes, da imprescindível vida dos indígenas.

A ação política dos cristãos foi oferecendo aos jovens e ao povo, o saboroso caldo de uma nova e velha cultura, forjada fora dos padrões e controle da mídia televisiva, e muitíssimo mais suculenta, pois fruto da própria beleza e desta esperança persistente, deste nosso povo que é negro, índio e migrante.

c)  O engajamento diante dos clamores populares, sobretudo nas graves e permanentes questões da moradia, da saúde e do desemprego, através de gestos concretos de misericórdia e compaixão com as dores reais das pessoas, foram sendo assumidos pelos companheiros e, articuladamente pelo movimento social, através da criação de tantos Programas de Formação (metodologia da práxis), de comunicação, e, do programa de enfrentamento da violência em prol da cidadania ativa.

A ação como disciplina da compaixão requer a disposição em responder às concretas necessidades do momento” (Donald McNeil, Compassion — A reflection on the Christian Life, Image Books-Doubleday, Nova York, 1982, p. 118).

Quero citar quatro vidas exemplares, que falam por si deste engajamento entre fé e política: uma religiosa chamada Ir. Dalva Ivete de Jesus, que trabalha há anos na pastoral do povo das ruas de São Paulo, na região central; um padre, que oferece seu carinho e amor aos jovens e crianças, conhecido como Vigário do Povo da rua, Padre Júlio Renato Lancellotti; e, em nível institucional mais amplo, os doutores Hélio Pereira Bicudo e Dalmo de Abreu Dallari, sempre presentes na defesa internacional dos direitos dos pobres. Exemplos que interpelam pela perseverança, transparência, e porque possuem a força de quem vive com honra a fé no Cristo Jesus.

d) A vivência e a proclamação de uma ética existencial, pessoal e comunitária, traduzida em atitudes de respeito ao pluralismo, e revestida das profundas convicções do valor da vida humana, pelo anúncio corajoso da vida humana e ecológica, apesar de toda a lavagem cerebral conduzida por tantas ideologias da elite e, difundidas por programas radiofônicos, que se espalharam pelo Brasil.

O movimento social dos cristãos comprometidos nas CEBs e nas pastorais sociais, felizmente, bebe de outras fontes. Ele se alimenta da força do pequeno que acredita “que o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor” e das pessoas de boa vontade dispostas a salvar a vida de quem a tem por um fio. Somos daqueles que acreditam que os pobres nos julgarão.

A existência de milhões de empobrecidos é a negação radical da ordem democrática. A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça e a moralidade, enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres são os juízes da vida democrática de um país” (CNBB, Exigências Éticas da Ordem Democrática, Paulinas, São Paulo, nº 72).

Assim, a cada dia novos desafios estão nos sendo lançados. Recentemente com o crescimento da miséria e o aumento de Igrejas pentecostais da vertente da prosperidade individual houve uma revalorização de questões esquecidas e hiper-valorização de certos temas.

Precisamos com urgência conversar e trabalhar a questão do corpo e das práticas e discursos destas Igrejas e, confrontar com nossas próprias respostas.

Será preciso rever nosso vocabulário sem perder nossa utopia e ética comunitária.

Não está na pauta dos cultos dessas igrejas o papel de ‘salvar as almas’, mas de libertar o corpo. Entende que é necessário libertar o homem dos males que estão alojados no seu corpo. Não que o corpo seja ruim, mas algo que está nele. Com esta preocupação, leva-os para um outro ponto. O seu culto é um lugar onde o corpo está presente, com seu cansaço ou com sua alegria” (José Rubens L. Jardilino, Sindicato dos Mágicos, CEPE, São Paulo, 1993, p. 32).

Devemos a cada dia aprender a ser gente, mais gente, e profundamente humanos. Tarefa óbvia, à primeira vista, mas que custará toda a nossa existência para realizar-se. E qualquer pequeno passo é fundamental, pois cada descoberta pessoal e coletiva já é um passo na afirmação do humano renovado.

O capitalismo criou uma cultura do eu sem o nós. O socialismo criou uma cultura do nós sem o eu. Agora precisamos da síntese que permita a convivência do eu com o nós. Nem individualismo nem coletivismo, mas democracia social e participativa” (Leonardo Boff, “O Cristianismo e a nova ordem mundial”, in: Jornal O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15/8/1993, p. 3).

Esta nossa tarefa incessante, pessoal e estrutural, alimenta-se e enraíza-se nas outras pessoas que conosco caminham, particularmente naqueles que a sociedade mais despreza e calunia, muitas vezes, no desejo hipócrita, de torná-las bodes expiatórios. Entre nós, cidadãos conscientes e a humanidade empobrecida existem laços indestrutíveis e invioláveis, semelhante aos que unem as pessoas religiosas a Deus.

Não somos, nem queremos ser salvadores da pátria, mas nos sentimos tocados e feridos, quando qualquer pequenino é ferido ou tem seu direito vilipendiado. É como se fôssemos todos artérias fundamentais de um mesmo sistema sanguíneo. Interligados e complementares. Interdependentes.

V. O FUTURO DE UMA FÉ LIVRE E COMPASSIVA

 

A palavra de esperança culmina em festa e na ceia do Cristo, onde o próprio povo oferece como alimento sua vida e seus sonhos, e nesta sua louvação afirma a própria vida e sua luta de resistência. E descobre o sentido da vida na ressurreição de Jesus de Nazaré.

Cremos na festa da vida e do viver, fazendo com mãos, mentes e corações que o humano mergulhe na alegria infinita. Verdadeira explosão de potencialidades. Este mergulho na festa dos pobres é vivido nas Igrejas inseridas nas classes populares, ao defenderem a vida e experimentarem os segredos e mistérios desta fé mística. E é vivido também por todo aquele que sabe partilhar e amar. Pois quem ama, conhece o sabor da festa e da alegria.

Creio que nenhum companheiro ou companheira pode abdicar desta necessidade imperiosa de celebrar com os pobres suas festas e suas alegrias, do jeito do povo e com suas melodias. Entrando pela porta da cozinha, brindando aos companheiros e até para os santos! Crendo em horizontes escatológicos.

A dinâmica da existência histórica é de essência escatológica. Mas, se é assim, é porque pertence à essência do ser humano determinar-se teleologicamente” (Jean Ladriere, Vie sociale et destinée, J. Duculot, Gembloux, 1973, p. 135).

À guisa de conclusão, diremos que sem esta viva e necessária compaixão, inspirada na comunhão, os pobres retornariam à submissão. Mas a compaixão, sem esta pratica libertadora, tornaria o militante cristão uma pessoa estéril e burocratizada, como algumas associações e grupos já cooptados, e, completamente dependentes do poder ou do dinheiro de projetos estatais ou de agências do exterior.

Na defesa da vida dos pobres, busca superar rivalidades secundárias diante de outros atores históricos, forjando redes e, vibrando interiormente com a causa dos pequenos, especialmente das mulheres, dos negros, dos índios e das crianças. Redes de movimentos sociais articuladas organicamente. Assim cumpriremos a profecia de MEDELLÍN: “A justiça e, por conseguinte, a paz conquista-se por uma ação dinâmica de conscientização e organização dos setores populares, capaz de urgir os poderes públicos, muitas vezes impotentes em seus projetos sociais, sem o apoio popular” (CELAM, Conclusões de Medellín: A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio, capítulo 2, n. 18, Vozes, Petrópolis, 1985, p. 62).

E ficaremos surpresos diante do ser humano:

Que quimera, portanto, é o homem? Que novidade, que monstro, que caos, que sujeito de contradição, que prodígio! Juiz diante de todas as coisas, imbecil verme da terra; depositário do verdadeiro, cloaca de incertezas e de erros; glória e refugo do universo” (Blaise Pascal, Pensées, GF-Flamarion, Paris, 1976, p. 173).

Se o mistério do humano, sempre presente em nossa reflexão, exige uma atitude de escuta e de silêncio contemplativo, esta atitude deverá também nos permitir viver a dinâmica entre clareza e penumbra. Assim canta o poeta catalão: “O amor é como um mar alvoroçado de ventos e ondas, sem porto nem margem. Morre o amigo no mar; e no perigo morrem também seus tormentos e nasce sua realização” (Raimundo Lulio, Livro do Amigo e do Amado, Loyola, São Paulo, 1989, p. 103).

A modéstia será nossa mais importante qualidade. Necessitamos, no Brasil de agora, como nunca, de abundante vida, de contagiante beleza e emocionante compaixão.

Esta sede de infinito vivida pelas pessoas que têm fé no humano é nosso tesouro, como nos indica Dostoievsky:

Toda a lei da existência humana consiste em poder sempre se inclinar diante do infinitamente grande. Tire dos homens, a grandeza infinita e, eles cessarão de viver e morrerão no desespero. O imenso, o infinito é tão necessário ao homem, quanto o pequeno planeta sobre o qual ele habita” (Theodor Mihailovic Dostoievsky, Les possédés, T. II, trad. do russo por Victor Derély, Librairie Plon, Paris, 1886, p. 347).