SANTO AGOSTINHO: “AMA E FAZ O QUE QUISERES”
Ama e faz o que
quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se
corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o
amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.
(Homilia da Primeira Epístola de João).
"Ama e faz o
que quiseres!"
Para Agostinho, pode-se amar um homem ou uma mulher, a música, seu
trabalho, seus filhos, seus amigos e também amar a Deus. Pode-se amar a Deus
como se ama a sua esposa? A resposta encontra-se nas Confissões X, livro 6. Ele descreveu com as mesmas palavras o
amor humano e o amor divino. Elas tomam um sentido metafórico quando se trata
de Deus. Elas são deficientes também quando se trata do amor. Para dizer o
amor, a linguagem menos inadequada é a da poesia, da música: da imagem, da
metáfora. A linguagem poética não pretende dizer o indizível, divino ou humano,
mas apenas sugeri-lo. É dessa maneira que toca o nosso coração.
Há em mim mais do que eu mesmo. Há em mim
alguém outro, há em mim um Outro. Arthur
Rimbaud disse-o melhor que ninguém: “‘Eu’ é um outro”. Este outro
nele, Agostinho chama de
“homem interior”: é ele que toma Deus em seus braços, é ele que Deus toma em
seus braços. Eles são um, como o homem e a mulher. É a maneira de dizer o que
o Mestre Eckhart afirmará
no século XIV: “Deus e eu somos um, somos semelhantes, somos iguais”. Nesse
nível, o mistério de Deus e o mistério do homem são o mesmo. Falar de Deus e
falar do homem é a mesma coisa.
"Fale-me sobre o amor...". Tudo
bem, mas como saber se é realmente o amor que me faz agir? Que garantia eu
tenho contra os erros e as ilusões? Para o Evangelho, o amor é julgado pelos
frutos. Agostinho não nega
isso, e sua homilia sobre a Primeira
Epístola de João (7,7-8) mostra como ele é sensível à complexidade das
situações. Mas, para ele, é o amor que pode e deve ser a regra da ação. Sempre
o Amor.
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