Solidariedade, único remédio para transformar cenários tristes
O dom de viver
é compromisso diário que inclui muitos desafios e, certamente, por isso, diz-se
que viver é uma arte. Mas não se trata de arte confeccionada isoladamente. Depende
da participação de todos, a partir da inigualável contribuição da solidariedade,
único remédio que tem força para mudar tristes cenários, a exemplo dos que são desenhados
pelas pandemias que assolam o mundo ao longo de toda a história.
Há muitas
pandemias: da violência crescente, da fome e da miséria, da indiferença que compromete
a justiça e a paz. Há também a pandemia da ganância, que cega o coração e leva à
predatória busca pelo lucro, com a exploração desmedida do meio ambiente, em diferentes
lugares do Brasil, a exemplo de uma mineração irresponsável. A partir de triste
realidade, muitas pandemias se perpetuam: os ouvidos de muitos são surdos para os
clamores dos pobres e o grito dos profetas.
Solidariedade em tempos de coronavírus
Atualmente, desafiando a sociedade mundial, a pandemia do Coronavírus, o COVID-19, caminha para o seu auge. Impacto que abala a frágil estrutura da economia global, comprovando que tiros e moedas não vencem a guerra viral.
A pandemia do Coronavírus
bate à porta de todos e configura um tempo de exílio, lembrado o desafio existencial
vivido pelo Povo de Deus, em etapas diferentes de sua história. Todos agora confinados
têm oportunidade austera de repensar caminhos, alimentar-se pela espiritualidade,
enquanto colaboram para superar a pandemia. O exílio é oportunidade para renovar
a esperança e nos fortalecer. Tempo de aprendizagens e novas conquistas, jamais
de medo e pânico.
Deus tudo
conduz. É o Senhor da história. É o Vencedor. A fé inabalável alimenta a esperança
e consolida a caridade. A convocação é para se viver fecunda espiritualidade, balizando
ações de prevenção, gestos de solidariedade, obediência às indicações
e determinações das autoridades em saúde pública para, em breve, abrir novo ciclo,
no Brasil e no mundo.
Além do Coronavírus,
a humanidade inteira está contaminada e adoecida por modelos econômicos, políticos
e até religiosos que a enfraquecem. A constatação não é um apanágio de pessimismo,
e sim uma convocação a levantar a bandeira da esperança,
investindo na competência humanística para encontrar novos modelos de sociedade
que possam emoldurar a vida com grande alegria.
À luz da esperança
Com a força da fé, inabalável porque assentada em Deus, o único que tudo pode, por uma cidadania corresponsável e solidária, impulsionados pelas ciências, responsavelmente conduzidos por sérios líderes mundiais, reverentes a cada pessoa, todos contribuam para que novo ciclo seja aberto, coerente com as expectativas da humanidade. Iluminada pela Luz da esperança, a sociedade brasileira passe por este exílio, deixando-se conduzir pela força transformadora do amor, convencida de que é imprescindível exercer a solidariedade.
Prevaleçam
os compromissos com a austeridade e com a cooperação e ninguém fuja do exílio –
é preciso permanecer mais no próprio lar. Na luta contra essa e tantas outras pandemias,
seja inspiração o horizonte da fraternidade e da vida, dom e compromisso. Unido,
orante, austero e solidário, o povo brasileiro vencerá e encontrará a paz. Triunfará,
pela bênção de Deus, o dom da vida.
Cresça, agora,
na interioridade de cada brasileiro, um coração samaritano, aquele que, diante da
dor e do sofrimento do outro,
é capaz de ver, sentir compaixão e cuidar.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
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