domingo, 4 de outubro de 2020

REFLEXÃO DOMINICAL

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Mt 21,33-43


D. Henrique Soares

A Palavra de Deus deste XXVII Domingo Comum recorda-nos uma história de amor, misteriosa, triste e destinada a nos fazer pensar… É a história do Povo de Israel. Não sua história simplesmente na forma de crônica, de rosário de fatos, um após o outro, no correr do tempo. Aqui a história é apresentada em forma de parábola, uma parábola do amor de Deus, o Amado, por sua vinha; uma parábola de decepção, de vinhateiros assassinos, de um Filho querido jogado fora da vinha…

Na primeira leitura, de Isaías, Deus se queixa de sua vinha pela boca de seu profeta: “Um amigo meu plantou videiras escolhidas… esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens”. Eis a história de Israel, a vinha amada: o Senhor plantou seu povo: esperou bons frutos, mas vieram frutos azedos: “A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá é sua amada plantação; eu esperava deles frutos de justiça – e eis a injustiça; esperava obras de bondade – e eis a iniqüidade”. Ante tal infidelidade, o Senhor diz pelo profeta: “Vou desmanchar a cerca, e ela será devastada, vou derrubar o muro, e ela será pisoteada. Vou deixá-la inculta e selvagem…” Eis o triste resumo da história do Povo de Deus da antiga aliança. Tão amado, tão preferido, Israel não foi fiel à aliança, Israel não deu os frutos de amor, de sensibilidade para com seu Deus, de total dedicação a ele que o Senhor esperava.

Caríssimos, essa atitude do primeiro povo chegou ao extremo na atitude dos chefes judeus da época de Jesus: misteriosamente, eles rejeitaram Jesus, expulsaram-no da vinha de Deus e mataram-no. O fato é que Israel foi se fechando para aliança com o seu Deus e, quando o Messias veio, o Povo amado não teve a capacidade para reconhecê-lo e acolhê-lo… Recordemos como Jesus fala de seu próprio destino na parábola de hoje: o proprietário que planta a vinha é o Pai do céu, a vinha amada é a casa de Israel – essa vinha que, já vimos, deu frutos azedos; os vinhateiros são os chefes do povo, aos quais Deus confiou sua vinha; o Senhor enviou seus empregados para receber os frutos: são os profetas e todos aqueles que advertiram o povo de Deus para que se convertesse. Os vinhateiros espancaram e mataram esses enviados. O Pai, então, enviou o Filho, o Amado, o Herdeiro. “Vinde, vamos matá-lo!” – eis a terrível palavra dos vinhateiros, a sentença dos chefes judeus! E tomam o Filho amado, expulsam-no como um maldito e matam-no!

Diante disso, a conclusão do Evangelho é tremenda, é misteriosa: a vinha será tirada e dada a outros. A eleição de Israel passará para um novo Povo, a Igreja; Jesus, a pedra rejeitada, será a pedra angular de uma nova construção – o Novo Povo de Deus, a Igreja do Novo Testamento, nascida do seu sangue.

Caríssimos, que história impressionante: um povo tão amado, um povo singular. Um povo de santos… e que perdeu a oportunidade de reconhecer e acolher o Messias tão esperado e tão desejado! Um povo que deveria ser ministro da salvação de toda a humanidade e não soube compreender sua missão… Ao mesmo tempo, nosso misterioso nascimento: somos a Igreja, resto de Israel, do qual Deus fez, em Cristo, um Novo Povo, para testemunhar o Senhor e levar seu nome aos confins da terra. Somos um povo, caríssimos: mais que brasileiros, somos Igreja; mais que tudo, somos o Povo de Deus da nova aliança, somos a vinha do Senhor, enxertada no verdadeiro tronco, que é Jesus, a verdadeira videira! Sem merecer, por graça de Deus, eis o que somos!

Irmãos e irmãs, a Escritura nos diz que todas essas coisas aconteceram para nos servir de exemplo (cf. 1Cor 10,6)… Não somos melhores que os judeus, não devemos desprezá-los nem condená-los! É verdade que jamais a aliança passará para um terceiro povo, jamais a Igreja perderá sua condição de Novo Povo de Deus. Compreendamos: a verdadeira vinha nova é o próprio Cristo: “Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor” (Jo 15,1). Vinha bendita, verdadeira cepa da antiga vinha, Israel! Jesus é a videira, nós, os ramos: “Eu sou a videira e vós os ramos” (Jo 15,5). Ele é o tronco bendito e nós, sua Igreja, os ramos que não se podem separar dele! É por isso que jamais essa Igreja, nova vinha unida ao tronco, poderá perder a condição de videira escolhida, amada e eleita.

Mas, atenção: os ramos, individualmente, podem ser arrancados: “Todo ramo que em mim não produz fruto o Pai corta” (Jo 15,2). Eis, meus caros: devemos, sim, perguntar pela nossa fidelidade a Deus que, em Jesus, nos fez ramos da sua nova vinha! Que frutos, caríssimos, estamos dando? Uvas doces? Uvas azedas? Uvas nenhumas? Quais são nossos frutos? São nossas obras, são nossas atitudes, é nosso modo de viver?

O Senhor espera de nós uma vida segundo a sua vontade, segundo aquilo que o Senhor Jesus nos mostrou e viveu; o Senhor espera de nós um testemunho de amor profundo a ele, para que o mundo descubra e corresponda ao seu amor! Na segunda leitura deste hoje, o Apóstolo nos exorta: “Irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor. Praticai o que aprendestes e recebestes. Assim o Deus da paz estará convosco”. Eis aqui um belo programa de frutos dados por um ramo enxertado em Cristo!

Igreja de Deus, aqui reunida para a Eucaristia, é a vinha amada do Senhor! Vinha por vezes ameaçada de devastação, seja pela perseguição do mundo que não crê, seja pelos seus próprios pecados, que azedam os frutos que deveriam ser doces! Convertei-vos, Igreja de Deus em Cristo; convertei-vos e dai frutos em vossa vida!

Quanto a vós, Senhor Deus, Senhor da vinha, “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai! Visitai a vossa vinha e protegei-a! Foi a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao Rebento que firmastes!” Olhai, Pai Santo, a face do vosso Filho Jesus, morto e ressuscitado, que oferecemos em sacrifício eucarístico: tende piedade de nós; dai-nos força, vida e paz! Amém.

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/homilia-do-d-henrique-soares-da-costa-%E2%80%93-xxvii-domingo-do-tempo-comum-%E2%80%93-a

 

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