Não se distingam as ações humanas
a não ser pela raiz da caridade. Uma vez por todas, foi-te dado somente um breve
mandamento: Ama e faze o que quiseres. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se
falas em tom alto, fala por amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração
a raiz do amor: dessa raiz não pode sair senão o bem! (Santo Agostinho. Comentário
da 1ª Epístola de São João VII, 8).
Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial. Gloria-se a primeira em si mesma e a segunda em Deus, porque aquela busca a glória dos homens, e tem esta por máxima a glória de Deus, testemunha de sua consciência. (Santo Agostinho, A cidade de Deus XIV, 28).
Não devemos desejar que haja infelizes para que possamos fazer
obras de misericórdia. Dás pão a quem tem fome; contudo melhor seria que ninguém
tivesse fome e que não precisasses de dar a alguém. Vestes a quem está nu; oxalá
todos tivessem roupa para se vestir e não houvesse necessidade dessa obra de misericórdia!
Todos estes serviços são exigidos porque há indigência. Suprime os infelizes; não
haverá mais ocasião para obras de misericórdia. Extinguir-se-á por isto a chama
do amor? Mais autêntico, mais puro, muito mais leal será teu amor por uma pessoa
feliz, da qual não podes fazer devedor, pois, quando, com teus dons, empenhas gratidão
do infeliz, talvez desejes elevar-te perante ele, talvez desejes que ele esteja
abaixo de ti. Deseja, antes, que ele seja teu igual; ambos sede submissos Àquele
que não tem que agradecer a ninguém.
(AGOSTINHO, Santo. Comentário da 1ª Epístola de são João, VIII, 5).
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