Jesus Cristo Rei do Universo
Homilia por: Padre Wagner Augusto
Portugal
“O
Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria,
a força e a honra. A Ele glória e poder através dos séculos”.
Irmãos e irmãs,
Chegamos com a solenidade de JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO, que celebramos hoje, ao encerramento do ano litúrgico A, dedicado à reflexão do Evangelho de Mateus.
A festa de hoje tem um sentido eminentemente militante: o Reino de Cristo na Terra. A Liturgia realça o caráter transcendente e escatológico do reinado e Senhorio de Cristo, que encarna ao mesmo tempo a figura de Pastor (Rei Messiânico) e de Juiz (Filho do Homem que morreu na cruz pela remissão de todos os pecados da humanidade), anunciando a todos o Juízo e a Paz.
A Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo REI DO UNIVERSO foi instituída no Ano Santo de 1925, pelo Papa Pio XI, em comemoração aos 16º centenário de proclamação conciliar do Dogma da Consubstancialidade de Jesus Cristo ao Pai, ou seja, que Ele é consubstancial ao Pai, verdade legada pelo Concílio de Nicéia.
Cristo, como “primogênito de todas as
Criaturas” (Cl 1,15), é o rei e centro de todo o universo, que tem como coroa a
multidão dos santos e nos convida a segui-Lo com entusiasmo e com unção, por
ser “Soberano bendito, Rei dos reis, Senhor dos senhores” (1Tm 6,15).
A festa deste domingo, portanto, nos leva a refletir sobre a convergência para Jesus Cristo. A convergência de todas as criaturas da terra e do céu, ainda que seja preciso ter presente que esta convergência é fruto de uma intensa atividade das criaturas, como as “obras de misericórdia”.
Meus caríssimos irmãos,
Hoje celebramos a plenitude do Reino de Deus, Reino de Cristo, que é o Senhor e Juiz dos vivos e dos mortos, dos santos e dos pecadores. Reino de homens e mulheres que, pela dignidade de Cristo, são elevados à condição divina e ressuscitados como a mais bela, incorruptível, incontaminada e imarcescível existência no céu.
Jesus hoje, no Santo Evangelho, fala da dialética do amor-caridade como o ideário básico da vida cristã, como uma cartilha a ser seguida e vivenciada com grande e renovado entusiasmo pastoral e evangelizador.
A lei do amor e da caridade é a lei do julgamento final, da parusia. Quem tem caridade e amor será digno de transpor os umbrais do Paraíso. O próprio Senhor nos pede que sejamos amorosos e caridosos, porque teremos a recompensa no céu: “Faze isto e viverás” (Lc 10,28).
Se Jesus Cristo é o Rei do Universo, todos nós somos convidados a participar deste Reinado. Com isso, todos nós devemos aspirar ao céu e procurar aqui e agora preparar alcançar esta realidade, porque todos os homens são co-herdeiros de Cristo e, tendo os mesmos sentimentos de Cristo, contando com a graça de Deus, todos nós seremos admitidos no Reino das Bem-aventuranças, relembrando a parábola dos talentos de domingo passado: “Vem participar da minha alegria!”.
Irmãos e irmãs,
Jesus se auto-intitula FILHO DO HOMEM. Aqui reside a profecia desta Liturgia que nos chama a atenção: Deus, com poder e majestade, implantou a justiça e a santidade entre os homens. Jesus, depois no Evangelho, se auto intitula REI. Isso tudo para dizer que o Filho do Homem, que é nosso Rei, nos admitirá no Reino dos Céus, depois do JULGAMENTO, que é o JUÍZO.
Esse julgamento não se o imagina com os olhos humanos, pois será com os critérios de Deus: cada qual será julgado em conformidade com as boas obras que praticou e será condenado em conformidade com as más obras que espalhou. Tudo na sua medida correta, dentro da JUSTIÇA E DA SANTIDADE.
Na cultura rural do tempo de Jesus, o Evangelho (Cf. Mc 11,10) apresenta a figura da separação entre os cabritos e as ovelhas. Isso porque, no final do dia, o pastor separava as ovelhas dos cabritos; estes sentiam mais frio e precisavam ser mais protegidos. Jesus faz uma releitura desta figura: as ovelhas são aqueles que fazem as boas obras e os cabritos, apesar da proteção, são aqueles que andam pelos descaminhos do mal.
A hora da morte e do Juízo é comparada ao declinar do dia. Jesus virá pessoalmente, revestido de honra e poder real, como único Senhor da HISTÓRIA e JUIZ DO MUNDO, devendo julgar a todos com misericórdia e mansidão, os pesos de sua medida, de conformidade com as boas e as más obras praticadas em vida.
Na hora de identificar os personagens da parábola, costuma ser fácil nos identificarmos com os pobres que precisam ser socorridos, com os bons e justos que precisam de solidariedade, com os bons que tratam bem ou com os maus que os deixam de lado. Entretanto, na prática, com quem nos identificamos muitas vezes é com o juiz. Agrada-nos ser juiz de nossos irmãos e irmãs para determinar quem deveria estar à direita ou à esquerda, quem são os bons e quem são os maus. Jamais queiramos ou devamos ser juízes de ninguém, porque esse lugar foi reservado por Deus para si mesmo.
Caros irmãos,
O importante não é ter somente as mãos limpas, como a ausência do pecado, com a vivência rigorosa da Lei Mosaica. O importante é ter a mão cheia de misericórdia e de obras de caridade, na vivência fraterna da Lei de Cristo. O Evangelho de hoje é destinado pelos méritos de Jesus e a colaboração nossa garante, portanto, que o Reino de Deus só se conquista pela prática de boas obras, nascidas da fé.
A bondade gratuita e pura revela-se quando nos dedicamos aos que não podem retribuir. É na doação ao “último dos homens”, ao pobre, ao marginalizado, ao abandonado, que damos prova de uma misericórdia laivos do mesmo sentimento divino.
Viver, segundo a Liturgia de hoje, é assumir a causa dos que mais precisam. Deus mesmo fez assim e este é o critério da participação garantida no senhorio de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois se somos “imitadores” d’Ele é provável que, desde já, teremos forças para chegarmos a uma eternidade com Ele.
Prezados irmãos,
O amor ao irmão é uma condição essencial para fazer parte do Reino de Deus. Nós cristãos, cidadãos do Reino, temos consciência disso e nos sentimos responsáveis por todos os irmãos que sofrem? Os que não têm trabalho, nem pão, nem casa, podem contar com a nossa solidariedade ativa?
Os pobres, vítimas de injustiças, que nem sequer têm a possibilidade de recorrer aos tribunais para que lhes seja feita justiça, podem contar com a nossa solidariedade ativa? Os que sobrevivem com pensões de miséria, sem possibilidades de comprar os medicamentos necessários para aliviar os seus padecimentos, podem contar com a nossa solidariedade ativa? Os que estão sozinhos, abandonados por todos, sem amor nem amizade, podem contar com a nossa solidariedade ativa?
Os que estão presos a um leito de hospital ou a uma cela de prisão, marginalizados e condenados em vida, podem contar com a nossa solidariedade ativa? O Reino de Deus – isto é, esse mundo novo onde reinam os critérios de Deus e que se constrói de acordo com os valores de Deus – é uma semente que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir.
Não esqueçamos, no entanto, este fato essencial: o Reino de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer com que ele seja uma realidade bem viva e bem presente no nosso mundo. Depende de nós fazer com que o Reino deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma realidade a crescer e a transformar o mundo e a vida dos homens.
Nós os cristãos caminhamos ao encontro do mundo que há-de vir, mas de pés bem assentes na terra, atentos à realidade que nos rodeia e preocupados em construir, desde já, um mundo de justiça, de fraternidade, de liberdade e de paz.
A experiência religiosa não pode, nunca, servir-nos de pretexto para a evasão, para a fuga às responsabilidades, para a demissão das nossas obrigações para com o mundo e para com os irmãos.
Caros irmãos,
A primeira leitura – Ez 34,11-12.15-17, mostra que no Antigo Médio Oriente, o título de “pastor” é atribuído, frequentemente, aos deuses e aos reis. É um título bastante expressivo em civilizações que viviam da agricultura e do pastoreio. A metáfora expressa admiravelmente dois aspectos, aparentemente contrários e com frequência separados, da autoridade exercida sobre os homens: o pastor é, ao mesmo tempo, um chefe que dirige o seu rebanho e um companheiro que acompanha as ovelhas na sua caminhada para as pastagens onde há vida. Além disso, o pastor é um homem forte, capaz de defender o seu rebanho contra os animais selvagens; e é também delicado para as suas ovelhas.
Conhece o estado e as necessidades de cada uma, leva nos braços as mais frágeis e débeis, as ama e as trata com carinho. A sua autoridade não se discute: está fundada na entrega e no amor. É sobre este fundo que Ezequiel vai colocar as relações que unem Deus e Israel. A este Povo a quem os pastores humanos (os reis, os sacerdotes, a classe dirigente) trataram tão mal, o profeta anuncia a chegada desse tempo novo em que Jahwéh vai assumir a sua função de pastor do seu Povo. Como é que Deus desempenhará essa função? Deus vai cuidar das suas ovelhas e interessar-se por elas.
Neste momento, as ovelhas estão dispersas numa terra estrangeira, depois dos acontecimentos dramáticos que trouxeram ao rebanho morte e desolação; mas Deus, o Bom Pastor, vai reuni-las, reconduzi-las à sua própria terra e apascentá-las em pastagens férteis e tranquilas (vers. 11-12). Lembremos que Deus, o Bom Pastor, irá procurar cada ovelha perdida e tresmalhada, cuidar da que está ferida e doente, vigiar a que está gorda e forte (vers. 16); além disso, julgará pessoalmente os conflitos entre as mais poderosas e as mais débeis, a fim de que o direito das fracas não seja pisado (vers. 17).
A imagem bíblica do Bom Pastor é uma imagem privilegiada para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. Sublinha a sua autoridade e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; mas, sobretudo, sublinha a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo. Na nossa cultura urbana, já nem todos entendem a figura do “pastor”; mas todos são convidados a entregar-se nas mãos de Deus, a confiar totalmente n’Ele, a deixar-se conduzir por Ele, a fazer a experiência do seu amor e da sua bondade. É uma experiência tranquilizante e libertadora, que nos traz serenidade e paz.
A questão fundamental da primeira leitura é se estamos ou não dispostos a segui-l’O, a deixar-nos conduzir por Ele, a confiar n’Ele para atravessar vales sombrios, a deixar-nos levar ao colo por Ele para que os nossos pés não se firam nas pedras do caminho. Às vezes, fugindo de Deus, nos agarramos a outros “pastores” e fazemos deles a nossa referência, o nosso líder, o nosso ídolo. O que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: a riqueza e o poder? Os valores ditados por aqueles que têm a pretensão de saber tudo?
Meus irmãos,
Jesus Cristo, pela segunda leitura (1Cor 15,20-26.28), venceu a todos os inimigos e especialmente a morte, com a sua ressurreição ao terceiro dia. Jesus submeteu tudo ao Pai e também como Rei Messiânico, de todo o Universo. Não um rei triunfalista, mas um Rei Amor e de Caridade que nos convida à conversão e à mudança de vida. Se Cristo, Rei do Universo, venceu o pecado e a morte para nos salvar, todos somos convidados a vencer o pecado e ascender à graça de Cristo, levando como meta de vida para o AMOR e a CARIDADE.
O Reino de Deus – isto é, esse mundo novo onde reinam os critérios de Deus e que se constrói de acordo com os valores de Deus – é uma semente que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir. Não esqueçamos, no entanto, este facto essencial: o Reino de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer com que ele seja uma realidade bem viva e bem presente no nosso mundo. Depende de nós fazer com que o Reino deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma realidade a crescer e a transformar o mundo e a vida dos homens.
Frente às objeções e dúvidas dos Coríntios, São Paulo parte da ressurreição de Cristo (cf. 1 Cor 15,1-11), para concluir que todos aqueles que se identificarem com Cristo ressuscitarão também (cf. 1 Cor 15,12-34). “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram” (vers. 20).
A sua ressurreição não foi um caso único e excepcional, mas o primeiro caso. “Primeiro” deve ser entendido aqui, não apenas em sentido cronológico, mas sobretudo no sentido do princípio ativo da ressurreição de todos os outros homens e mulheres. Cristo foi constituído por Deus princípio de uma nova humanidade; a sua ressurreição arrasta atrás de si toda a sua “descendência” – isto é, todos aqueles que se identificam com Ele, que acolheram a sua proposta de vida e o seguiram – ao encontro da vida plena e eterna (vers. 21-23).
O destino dessa nova humanidade é o Reino de Deus. O Reino de Deus será uma realidade onde o egoísmo, a injustiça, a miséria, o sofrimento, o medo, o pecado, e até a morte (isto é, todos os inimigos da vida e do homem) estarão definitivamente ausentes, pois terão sido vencidos por Cristo (vers. 24-26).
Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28). A reflexão de São Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do batizado é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena e definitiva, para o qual Cristo nos conduz.
“Ubi caritas era amor, Deus ibi est”, canta a Sagrada liturgia na Quinta-feira Santa. “Onde há amor e caridade, Deus aí está”. São João nos questiona: “Como pode alguém amar a Deus, a quem não vê, se não ama o seu próximo, a quem vês?” (Jo 4,20). Amando o próximo, amamos a Deus, pois onde há amor e caridade, Cristo viverá.
Vivamos a plenitude desse amor. Desta forma, estamos efetivando o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo neste mundo, até o dia de seu retorno glorioso.
Fonte: https://catequizar.com.br/liturgia/jesus-cristo-rei-do-universo/
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