domingo, 8 de novembro de 2020

REFLEXÃO DOMINICAL


Por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj(*)

I- Introdução geral

Estamos chegando ao final do ano litúrgico e as leituras de hoje nos pedem vigilância. De fato, vigiar é a melhor forma de nos prepararmos para o encontro com o Senhor que vem. A vigilância da qual os textos nos falam é uma atitude de atenção constante à vontade de Deus. O noivo vem de surpresa, ele deve nos encontrar firmes, atentos aos sinais dos tempos, vivendo em fidelidade. Os contravalores do mundo atual nos desafiam a cada instante, é necessário permanecer na fidelidade aos valores do reino de Deus que nos foram legados por Jesus. Cotidianamente somos tentados a viver uma fé inautêntica e hipócrita, deixando-nos corromper pela mentalidade geral de levar vantagem em tudo. Muitas pessoas professam a fé cristã apenas por palavras, poucos são capazes de viver uma autêntica vida cristã em honestidade, justiça e misericórdia. Vigiemos para que, quando o noivo chegar, estejamos preparados para recebê-lo com um coração purificado.

II- Comentários aos textos bíblicos

1. Evangelho (Mt 25,1-13): Ide ao encontro do noivo

Essa parábola foi contada a partir dos costumes israelitas a respeito do casamento. As jovens amigas das noivas permaneciam aguardando a vinda do noivo, preparando-se para acompanhar o cortejo nupcial até o lugar onde aconteceriam as festividades do casamento.

As dez jovens são sinal da humanidade inteira, como amiga-esposa do Cristo, esperando as bodas finais da história. O óleo para as lâmpadas são os valores do evangelho que garantem participação no mundo vindouro. Cinco jovens são prudentes e não deixam o óleo se acabar, ou seja, representam as pessoas que sabem quais são as prioridades, que sabem se preocupar com o que é essencial.

As outras cinco são imprudentes, ou seja, são pessoas engajadas na comunidade cristã que em alguns momentos se mostram entusiasmadas e em outros deixam o entusiasmo esfriar, tornam-se acomodadas e imediatistas.

O evangelho nos exorta a estar preparados e a viver em fidelidade, a acolher o Senhor no dia a dia. O óleo bem usado é aquele que ilumina à medida que a pessoa se consome feito uma vela, fazendo-se luz não para si mesma, como quem gosta de ser aplaudido, mas sim para iluminar os outros.

A parábola insiste na exigência de vigilância. Jesus narra essa parábola para que pensemos em nossa vida. A espera pelo noivo é arriscada porque alguns podem gastar o seu óleo, perder os valores do evangelho, esquecer que a lei de Cristo é o amor. Durante essa longa espera de mais de 2 mil anos, quantos não desperdiçaram seu óleo, perderam seu fervor, deixaram que a luz da fé se tornasse apenas uma chama fumegando. Somos chamados a cuidar do óleo e manter a lâmpada da fé, esperança e caridade sempre acesa, até que Cristo venha.

2. I leitura (Sb 6,12-16): Minha alma tem sede de vós

O autor do livro da Sabedoria vive numa época em que havia muito paganismo e poucas pessoas acreditavam no Deus de Israel. Era um tempo muito semelhante ao contexto atual. Por isso, o autor convida seus contemporâneos, e também a nós, a redescobrir os valores da fé no Deus verdadeiro. A esses valores ele chama de sabedoria, que é a arte de viver de acordo com a vontade divina. Nós devemos nos interessar por esse tipo de sabedoria e considerá-la como uma das coisas mais importantes na vida, muito mais valiosa que os bens terrenos. A sabedoria é um dom que Deus nos dá, um dom do Espírito Santo para sabermos como fazer a vontade divina e assim sermos felizes de verdade.

O texto também fala sobre a prudência, tema do evangelho de hoje. Na passagem que ouvimos, a perfeita prudência é uma qualidade de quem tem o dom da sabedoria. A prudência pode ser um sinônimo da sabedoria, mas, neste caso, é uma consequência de quem é sábio. A pessoa prudente sabe esperar, não é imediatista, não se deixa levar pelas ideias erradas da maioria das pessoas, não faz loucuras na vida. A pessoa prudente não é surpreendida pelos reveses da vida.

3. II leitura (1Ts 4,13-18): Estaremos sempre com o Senhor

Na segunda leitura vemos que os tessalonicenses estão preocupados com a proximidade da volta de Jesus. Querem saber o que lhes acontecerá naquele dia e também estão preocupados com seus entes queridos já falecidos: o que será feito deles na vinda de Cristo? Paulo nos assegura que a ressurreição de Cristo é a garantia de nossa ressurreição e que estaremos para sempre com o Senhor.

De fato, Cristo virá para concluir a história e inaugurar a nova e definitiva realidade. Enquanto isso não acontece, nossa tarefa como cristãos aqui neste mundo é configurar a nossa vida à maneira como Cristo viveu, somente assim estaremos preparados para ir ao encontro com ele. Então, não devemos nos preocupar com “quando” e “como” será a vinda de Cristo, mas em viver bem os seus ensinamentos, praticando o bem na vida cotidiana, a misericórdia, o perdão e tudo o mais que Jesus ensinou.

III. Pistas para reflexão

O presidente da celebração deve enfatizar o aspecto da vigilância que as leituras nos pedem. Estamos nos aproximando do final do ano litúrgico, e o foco das leituras é o tema da vinda do Senhor no fim dos tempos e como devemos nos preparar para ela. O Senhor deve nos encontrar vigilantes, ou seja, comprometidos com o reino que ele anunciou e cuja concretização se aproxima.

Estar vigilantes é estar comprometidos com a luta pela justiça, pela fraternidade e pela paz. Isso significa empenharmo-nos para que as trevas do egoísmo e da violência sejam arrancadas do nosso coração. Em pequenos gestos cotidianos devemos dar o nosso testemunho de um mundo melhor. Não deixemos faltar o óleo da fé, esperança e caridade.

(*) Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj, é graduada em Filosofia e em Teologia. Cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE (MG). Atualmente, leciona na pós-graduação em Teologia na Universidade Católica de Pernambuco, UNICAP. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com

 

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