Pandemia: São Paulo tem mais de 10 mil pessoas internadas com covid-19
Ocupação de UTI na rede
privada chega a 84%. Taxa de testes positivos em São Paulo é cinco vezes maior
do que a OMS considera como pandemia controlada
Por Rodrigo Gomes, da RBA
Marcello Casal Jr./ABr
Diferente do que Doria diz, a pandemia em São Paulo não está controlada e o número de pessoas internadas só cresce em São Paulo – O estado de São Paulo tem 10.114 pessoas internadas para tratamento da covid-19, sendo 5.834 em enfermaria e 4.280 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Os dados sobre a pandemia foram divulgados hoje (1º) pelo governo de São Paulo. O número é o maior desde 17 de setembro, quando havia 10.222 pessoas internadas, sendo 5.951 em enfermaria e 4.271 em UTI.
No início deste mês de dezembro, o governador João Doria (PSDB) decretou o recuo de todo o estado para a fase amarela do Plano São Paulo. No entanto, ele usou dados apenas da última semana de evolução da pandemia, o que criou aparência de menor gravidade da situação. Se tivesse comparado a situação desde a última classificação, em 9 de outubro – como o próprio governo estadual havia estabelecido –, toda a Grande São Paulo teria passado para a fase laranja, mais restritiva.
O agravamento da pandemia de coronavírus
em São Paulo já vem elevando a taxa de ocupação de UTIs há pelo menos três
semanas. Em todo o estado, 52,7% dessas unidades estão atualmente ocupadas. Na
Grande São Paulo, são 59,7%. Na capital, a ocupação de leitos da rede municipal está em 52%,
com 903 pessoas internadas, sendo 263 intubadas. Considerando apenas as UTIs da
rede privada, a ocupação chegou hoje a 84%.
Mas ao analisar os dados da pandemia
para reclassificação do Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da
quarentena e o funcionamento do comércio, o governo paulista comparou
apenas os sete dias da última semana (22 a 28 de novembro) com os sete
dias da semana anterior (15 a 21 de novembro), ignorando que as regiões da
Grande São Paulo – incluindo a capital –, da Baixada Santista, de Campinas,
Piracicaba e Taubaté passaram para a fase 4-verde em 10 de outubro – 50 dias
atrás.
Em outubro, Doria informou que as
atualizações do Plano São Paulo passariam a comparar um período de 28 dias com
os 28 anteriores.
Manipulação da pandemia em São Paulo
No caso das internações, a comparação
apenas dos dados da última semana com a semana anterior resultou num aumento de
7%. Se fosse considerado o intervalo de duas semanas, comparando a semana de 15
a 28 de novembro, com a semana de 1 a 14 de novembro, o aumento seria de 28,6%.
Com isso, o estado seria levado para uma fase mais restritiva do plano. Só duas
regiões não tiveram piora nas internações: Araçatuba e Ribeirão Preto.
No caso das mortes pela covid-19, a
distorção é ainda maior. Ao comparar apenas as mortes notificadas na última
semana, com as da semana anterior, o resultado foi um aumento de 12%. Mas as
notificações de mortes levam muito mais tempo para ocorrer e o intervalo de
apenas dois dias entre o último levantamento (28 de novembro) e a respectiva
divulgação deixou de fora muitas mortes já ocorridas, mas que só serão
notificadas hoje e nos próximos dias.
Se Doria considerasse o período em que
as regiões avançaram para a fase verde, o aumento no número de óbitos seria de
34%. Admitir um aumento dessas proporções em número de mortos seria
determinante para que São Paulo retrocedesse mais que à fase amarela.
Essa “escolha” de quais dados usar sobre
o estágio atual da pandemia também influenciou a análise do aumento de casos.
Na semana de 8 a 14 de novembro foram registrados, em média, 5.927 novos casos
de covid-19 por dia. Na semana seguinte (15 a 21), foram 5.430. Muito acima dos
3.800 registrados logo após algumas regiões passarem para a fase verde.
No entanto, também nesse ponto o dado
utilizado foi apenas o da última semana (22 a 28), quando foram registrados
4.666 novos casos diários, em média. O que resultou numa queda de 14%. Porém, o
secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, admitiu que a redução de casos
registrados na última semana se deveu a uma redução no número de testes para a
detecção do novo coronavírus aplicados na população.
Descontrole total
Outros dados de testes para a
detecção do novo coronavírus evidenciam a ineficiência do governo de João Doria
na condução da crise sanitária no estado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), considera-se que os órgãos de saúde governamentais têm a pandemia sob
controle quando obtêm uma taxa de 5% de resultados positivos para o novo
coronavírus em relação ao total de testes aplicados à população. Porém, em São
Paulo, a taxa de resultados positivos ficou em 22,23% em outubro e 25,86% em
novembro – cinco vezes acima do máximo preconizado pela OMS.
Em novembro, houve 20,59% mais testes
positivos (RT-PCR, que detecta a infecção ativa) para o novo coronavírus do que
no mês de outubro. Mas o total de exames realizados cresceu apenas 3,64% no
comparativo dos dois meses. Além disso, os dados dos testes rápidos estão
desatualizados.
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