1º DE JANEIRO – SOLENIDADE
DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS
Por Ivonil Parraz
A bênção de Deus
I.
Introdução geral
As três leituras da
solenidade da Santa Mãe de Deus tratam de bênção, filiação salvação (nome
Jesus). A bênção de Deus sobre todos os seus filhos e filhas plenifica-se com a
presença do “Deus que salva”. Jesus é a bênção de Deus por excelência! A face
de Deus que resplandece no meio de nós!
II. Comentário dos textos bíblicos
1.
Evangelho: Lc
2,16-21
Os primeiros a receber a
Boa Notícia do nascimento do Salvador foram os pastores. Estes representam duas
categorias de pessoas: a) na sociedade judaica, os pastores eram pessoas que
ocupavam um dos lugares mais baixos da pirâmide social. Eram analfabetos, por
isso não conheciam a Sagrada Escritura, não tinham acesso à vontade de Deus
expressa em suas leis. Além disso, o seu ofício impedia-os da frequência
assídua à sinagoga para ouvir a Palavra de Deus. Com efeito, eram considerados
pecadores! Eram desprezados por todos, pois era comum o rebanho provocar
perturbação por onde passava; b) os pastores apresentados por Lucas representam
todos os profetas do Antigo Testamento que esperavam o Deus Salvador! Por que
os pastores foram os primeiros a receber a Boa Notícia do nascimento de Jesus?
Os pobres, privados das
“boas notícias” do mundo — eles não despertam nenhum interesse nos portadores
do poder – , estão sempre abertos a receber a Boa-Nova vinda de Deus. O Pai se
interessa por eles! Como representantes dos profetas, eles se alegram: a
esperança, nascida da fé nas promessas de Deus, nunca decepciona. Ela é sempre
experimentada na alegria, pois em Deus há sempre o amanhã.
Os pastores vão “às
pressas a Belém”. A alegria nascida da esperança sempre nos põe “às pressas”.
Mas “às pressas” só devemos ir à Belém! Lá não há nada de extraordinário: um
menino deitado na manjedoura com seu pai e sua mãe. O Deus dos profetas, aquele
que se põe ao lado dos desvalidos, é um Deus Misericordioso, cujo poder está no
Amor. Ora, o Amor não faz espetáculo. Para Deus, basta uma manjedoura fria,
aquecida pelo amor de Maria! “Tendo-o visto, contaram o que fora dito sobre o
menino” (v. 17). Aqueles que não conheciam a Palavra de Deus passam a ser
anunciadores da Boa-Nova. Os pecadores anunciam a chegada de Deus! Quem recebe
uma Boa Notícia e se alegra com isso não se cansa de anunciá-la para que todos
participem da mesma alegria. E todos que os ouviam ficavam maravilhados. (v.
18).
As maravilhas que Deus realizou foram a Criação, a libertação da
escravidão do Egito e as Tábuas da Lei, mas a maior de todas elas foi o envio
do seu Filho único para nos salvar. Os pastores são os primeiros a recebê-la e
os primeiros a anunciá-la! Maria já conhecia essa maravilha maior. Em seu Magnificat, já cantara que nela
Deus realizou maravilhas! Todos os acontecimentos, ela guardava em seu coração
(v. 19) e meditava sobre eles. Em sua postura orante, em todos os
acontecimentos da vida, Maria via a presença de Deus. Rezar sobre o que nos
acontece, ver nos acontecimentos a presença do divino, eis a mais bela oração
que podemos fazer a Deus!
“Os pastores voltaram,
glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido” (v. 20).
Eles voltam anunciando o evangelho com alegria numa verdadeira festa litúrgica.
A visita a Belém provoca neles uma verdadeira transformação: voltam como
missionários da Boa-Nova, celebrando o encontro com o Deus menino, celebrando a
vida.
Entre os israelitas era
costume que o pai desse o seu nome ao filho. José não segue esse costume para
assinalar que tudo em Jesus vem do Pai. Por vir do Pai, Jesus é a bênção por
excelência de Deus sobre todos os povos! Bênção que se traduz em filiação
divina; ou seja, com Jesus, toda a humanidade torna-se herdeira do Pai.
O que nos ensina o Evangelho?
a) Deus comunica-se
conosco até mesmo em nossas trevas: nas nossas noites escuras, como aos
pastores. Não procuramos Deus alhures, mas em nosso cotidiano, em nossa vida!
b) O Deus menino na
manjedoura nos revela o modo de agir de Deus: nada de espetáculo, ele se abaixa
para nos pôr de pé. Aprendamos a lição da manjedoura: devemos nos revestir de
humanidade (humildade) para acolher a divindade!
c) As nossas trevas
transformam-se em luz quando recebemos a Boa-Nova de Deus. Nele, o sol sempre
brilha, pois temos sempre o amanhã. Que nenhuma boa notícia do mundo ofusque a
alegria verdadeira que poderá vir somente do Pai.
d) Mas a Boa-Nova do Pai,
se de fato nos alegra, transforma-nos: passamos a ser missionários do amor de
Deus e celebrantes da vida. A nossa celebração litúrgica, quando não celebra a
vida, celebra os funerais de Deus! E quando vamos à celebração com as mãos
vazias, ou seja, sem ser missionários, tal como os pastores, vamos para o
velório de Deus! Onde perdemos a alegria que contagiou os pastores?
e) Conseguimos encontrar
na fragilidade da criança, envolta em trapos, a nossa proteção? Como esse Deus
que salva choca com a salvação que o mundo oferece!
2. I
leitura: Nm 6,22-27
No Primeiro Testamento, a
relação entre Deus e o ser humano passava pela mediação. A bênção de Deus ao
ser humano pecador só era concedida através de um mediador indicado pelo
próprio Deus. Até Jesus Cristo, o único mediador, os sacerdotes eram os que
exerciam a função de mediação. A bênção de Aarão, tal como nos apresenta o
livro dos Números, satisfaz três desejos profundos do ser humano:
a) A bênção protetora: “O
Senhor te abençoe e te guarde!” (v. 24). Ao não mais habitar o jardim –fomos
criados para morar no jardim – por causa do pecado, o ser humano se expôs a
toda sorte de perigo. Todo o tempo corre o risco de sofrer as consequências do
pecado. Ele necessita do cuidado de Deus! Com a bênção divina, sente-se
protegido, cercado pelo carinho do Pai.
b) A bênção do perdão: “O
Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti!” (v. 25). A face
resplandecente do Senhor simboliza comunhão: pois “Deus se compadece de ti”! O
pecador, contrito e humilhado, ao receber a bênção do Senhor, recebe o seu
perdão. O coração compassivo do Pai deixa-se mover pelo coração contrito de seu
filho!
c) A bênção da paz: “O
Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (v. 26). A az, na concepção
judaica, significa celeiros cheios, gado gordo no pasto, todas as dívidas
pagas… Ora, o pecado traduz-se numa dívida impagável que temos para com Deus.
Apesar disso, Deus não recusa o seu perdão, a sua paz!
“Há um só mediador entre
Deus e os homens, Cristo Jesus” (1Tm 2,5). Jesus é a bênção encarnada do Pai! O
rosto de Deus que brilha no meio de nós! A face do Pai que se volta para todos
os seus filhos e filhas! A nossa verdadeira paz: nele todas as nossas dívidas
foram pagas! Nele, o coração misericordioso do Pai palpita entre nós. Em Jesus
– o Deus que salva –, somos todos herdeiros do Pai!
3.
II leitura: Gl 4,4-7
Na plenitude dos tempos, Deus enviou ao mundo seu único Filho
(v. 4). Homem no meio dos homens, Jesus trouxe-nos a filiação divina. Nascido
de mulher, portanto sujeito à lei, ele liberta-nos da sua sujeição, pois nele
toda lei se cumpriu: ele é a plenitude da lei. Ora, o espírito da lei ou seu
fundamento consiste no amor! Jesus, cuja vida foi entrega total por Amor,
expressa o espírito da lei. Por isso, ele é a sua plenitude. Nós, submissos à
letra da lei, passamos a vivenciar o espírito dele. Doravante, a presença de
Deus no meio de nós não se dá mais pela submissão à lei, mas pela relação
amorosa: Pai e filhos! Amando incondicionalmente a Deus e obedecendo somente a
ele e, ao mesmo tempo, amando a cada um de nós, Jesus nos ensinou o que, de
fato, consiste em ser filhos de Deus Pai! No amor, recebemos o Espírito do
Filho que clama Abbá (v.
6). É por isso que em Jesus somos herdeiros, não mais escravos. Com Jesus, o
Amor é a nossa lei!
4.
A solenidade da Mãe de Deus
“Nascido de mulher”, Deus
se faz um de nós! Maria apresenta-se como a porta aberta pela qual Deus fez sua
entrada no meio da humanidade. Maria acolhe e dá à luz a luz! O cristão é
chamado por Deus a ser como Maria: aquele que o acolhe permite Deus realizar
nele maravilhas e dá ao mundo o seu Filho amado. Vivendo movido pelo Espírito,
vive como luz e, por isso, oferece ao mundo a verdadeira luz: Cristo Jesus!
Fonte:
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/1o-de-janeiro-solenidade-de-santa-maria-mae-de-deus/
Nenhum comentário:
Postar um comentário