17 de Fevereiro- QUARTA-FEIRA DE CINZAS
LEITURAS
1ª leitura: Jl 2,12-18;
Sl 50; 2Cor 5,20-6,2; Mt 6,1-6.16-18.
REFLEXÃO
HOMILÉTICA
Padre Wagner
Augusto Portugal.
Iniciamos
com a Quarta-Feira de Cinzas um tempo muito especial na vida da Igreja
Católica. A Igreja quer santificar o tempo e neste sentido nos convida a viver
um momento de retiro espiritual: a SANTA QUARESMA.
Na Santa
Quaresma tudo nos leva a pensar no tripé de conduta de vida: a penitência,
percorrendo estes quarenta dias preparando-nos para a Páscoa, quando então
celebraremos o mistério da morte e ressurreição de Nosso Senhor, centro da
nossa fé, dedicando maior atenção para a ORAÇÃO, AO JEJUM e à RECONCILIAÇÃO com
Deus e com os nossos semelhantes.
As cinzas
que serão impostas no dia de hoje são o principal símbolo litúrgico do início
da Santa Quaresma, tanto que dão o nome ao dia e ao sagrado ofício litúrgico.
As cinzas representam a pequenez do homem. Abraão ao falar com o Senhor, no
Antigo Testamento, intercedendo por Sodoma, considera-se uma nulidade diante de
Deus e, por isso mesmo, considera uma ousadia fazer um pedido: “Sou bem
atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18,27). Por isso, ao
recebermos as cinzas na Liturgia hodierna vamos pensar em duas atitudes
fundamentais da vida cristã: ARREPENDIMENTO e PENITÊNCIA, PURIFICAÇÃO e
RESSURREIÇÃO.
A origem das cinzas usadas tem um significado muito especial: elas são
preparadas pela queima das palmas usadas na procissão de Ramos do ano anterior.
As cinzas, portanto, lembram o Cristo vitorioso sobre a morte. A palma é o
símbolo da vitória e do triunfo de Cristo Ressuscitado. Se os cristãos aceitam
reconhecer a sua condição de criaturas mortais, e transforma-se em pó, ou seja,
passar pela experiência da morte, a exemplo de Cristo, pela renúncia de si
mesmos, participarão, também, da vida que ressurge das cinzas. As palmas são
símbolos da ressurreição de Cristo e dos que aceitam viver na atitude de
Cristo.
Receber
as cinzas é um compromisso de conversão: o abandono do pecado, de penitência
pública, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, purificando de nossas
faltas e ressurgindo para uma vida nova, a vida da graça e da amizade com Deus,
para viver nos quarenta dias do tempo quaresmal uma permanente e contínua
vontade de retorno à vida da graça e mudança de vida, atendendo a própria
oração de imposição de cinzas: “Convertei-vos e credes no Evangelho”.
Irmãos caríssimos, tempo de oração, de penitência, de jejum e de
abstinência de carne, tudo isso em função de ser a morte e a ressurreição de
Jesus o centro da celebração de nossa fé. Por isso, para fazer penitência e se
converter, é preciso muita humildade, muita disposição de mudança e muita
persistência.
A
penitência começa conosco mesmos, dentro de nossas pequenas e grandes
limitações, procurando corrigir nossos desvios e pecados e buscando lucrar a
graça santificante de Deus. O orgulhoso é incapaz de fazer penitência, pois ela
pressupõe humildade, o reconhecimento da pequenez de nossa natureza humana
diante do Criador, diante do próprio mistério da criação.
A Sagrada
Liturgia insiste na autenticidade da penitência: rasgar o coração, não apenas
as vestes. “Agora – diz o Senhor -, voltai para mim com todo o vosso coração
com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai
para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e
cheio de misericórdia, inclinado a perdoar do castigo” (Joel 2,12-13).
Além disso, a Liturgia insiste no caráter interior do jejum, juntamente com as
outras “boas obras”, a esmola e a oração. A calamidade que no tempo de Joel se
abateu sobre a terra de Judá (Joel 1,4) dá ao profeta ocasião de exortar o povo
à conversão. Está próximo o dia de Javé, do qual a invasão de gafanhotos é um
presságio (Joel 2,1). Não basta, porém, preparar-se para o juízo de Deus com um
rito penitencial. É necessário que todo o homem, desde o mais íntimo de seu
ser, se volte para Deus. Confiando em sua misericórdia, pode o pecador estar
certo do perdão. Nenhum título a isso teria o homem. A oração proferida pelo
sacerdote só pode apelar para o vínculo com que o próprio Senhor quis unir-se a
seu povo. Para que também as outras nações possam reconhecer o único verdadeiro
Deus, não pode deixar perecer sua “herança” (cf. Dt 9,26-29).
Na grave
situação política e social, o Senhor chama à penitência: conversão do coração,
jejum, lágrimas, e não apenas gestos exteriores. Esta grande resposta
comunitária de penitência reporta-se ao rito renovado do sacramento da
Penitência, proposto pela Igreja. A celebração comunitária “manifesta com mais
clareza o caráter eclesial da penitência. Os fiéis ouvem juntos a palavra de
Deus, que proclama sua misericórdia e os convida à conversão, confrontam sua
vida com a palavra mesma e se ajudam mutuamente com a oração… e todos
conjuntamente louvam a Deus pelas maravilhas realizadas por ele em favor do
povo” (Rito da penitência, 22). Muitas vezes nos condicionamos ao mal; na
celebração comunitária nos influenciamos para o bem com a prece e com o exemplo
penitente. Sobre o penitente não age só a graça do sacramento, mas também a
minha atitude, a do sacerdote e da comunidade que reza comigo e comigo se
arrepende.
Na
Segunda carta de São Paulo aos Coríntios (2Cor 5,20-6,2), o Apóstolo proclama o
novo tempo de reconciliação com Deus, com vistas à iminência da Paresia: “Em
nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que
não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos
tornemos justiça de Deus” (2Cor 5, 20b-21).
São Paulo
apresenta o ministério eclesial como sacramento da reconciliação dos pecadores
no tempo atual. A pregação é exortação e súplica para acolher na própria vida o
dom divino da reconciliação. Não é, porém, só palavra sobre a reconciliação,
mas nela ressoa a palavra-força divina reconciliadora, que se faz presente como
sacramento. Junto de Deus, verdadeiro agente de reconciliação, e na palavra da
Igreja, sinal sacramental, Cristo se coloca como mediador na obra da
justificação dos pecadores. Na sua morte, sacrifício expiatório do pecado
exerce ele sua função mediadora de salvação.
Cada
cristão, membro da Igreja, é exposto à tentação e muitas vezes cai; com o
pecado ofende a Deus e cria divisão e desagregação em si próprio e na
sociedade. Também a comunidade eclesial pode pecar por pouca fé, pouca
esperança, pouco amor, e chegar a um estado de ruptura, injustiça e discórdia.
A Igreja, por ordem de Cristo, prega e pratica a penitência na vida e na
liturgia, para que os cristãos se convertam e todos no mundo sejam um sinal de
como converter-se a Deus. Este sinal da comunidade eclesial, a volta do pecador
ao Pai e à comunidade. Este novo caminho de conversão exige uma atitude
renovada de repulsa ao pecado e de orientação para Deus.
No
Evangelho (Mt. 6,1-6.16-18) combate o verme da vaidade. A vaidade que leva à
ostentação e à hipocrisia, rouba à justiça cristã sua gratuidade, sua pureza
“virginal”, que busca só a Deus. O olhar do homem estraga tudo o que toca: é
uma ardileza sutil e fatal; pode ser um impulso a fazer justiça unicamente para
ser visto pelos homens. Podemos, assim, usar a máscara da justiça, fazer apenas
o papel daqueles que dão esmolas, dos que rezam, dos que jejuam, o palco de
nossa ilimitada vaidade, e secretamente não procuramos a justiça, mas só a nós
mesmos. O conselho de Jesus a seus discípulos é que só o Pai veja e conheça o
bem que eles fazem. Eis o castigo dos vaidosos: terão aquilo que procuraram, a
saber, unicamente a si próprios.
A
celebração de hoje tem outro significado muito importante: louvar e agradecer
ao Senhor pela sua abundante misericórdia: “Lembra-te de que és pó e ao pó
tornarás”. Perante a grandiosidade de Deus nós somos um “verme”, o menor, o
mais ínfimo de todos os servidores. Por isso, Deus nos ama com profundidade e
derrama sobre nós a sua misericórdia e a sua paz. Mesmo sendo pó, Deus sempre
se lembrará de nós e cumprirá a Sua promessa de conceder o Reino das
Bem-aventuranças.
Fazer
penitência não é ficar triste, mas, pelo contrário, é ficar alegre e feliz.
“Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos” (Sl 50), rezamos no Salmo Responsorial
desta celebração. É o canto da humildade clamando a misericórdia do Deus da
Vida, sempre pronto a nos acolher, santos pela sua graça e pobres pecadores
pelas nossas misérias, e nos coloca dentro da economia de sua Salvação. Nesse
contexto de penitência e conversão, devemos perceber a misericórdia de Deus que
confia com abundância na capacidade do homem de assimilar o Reino de Deus.
Converter-se
“ao Evangelho”! O Evangelho para nós, mais do que um livro, é uma pessoa, Jesus
Cristo. É necessária a “conversão” ao verdadeiro conhecimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Não um conhecimento intelectual, como aquele que se obtém nas
aulas de teologia. É preciso um conhecimento de fé, uma experiência viva, como
aquela de fala São Paulo: “Na verdade, em tudo isso só vejo dano, comparado com
o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Põe Ele tudo desprezei e
tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo. Assim poderei conhecê-Lo, a
Ele, à força da Sua Ressurreição e à comunhão nos seus sofrimentos,
configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição. Não que
eu já tenha alcançado a meta, ou que já seja perfeito, mas prossigo a minha
carreira para ver se de algum modo a poderei alcançar, visto que já fui
alcançado por Jesus Cristo” (Fil 3, 8.10-13).
Desta
forma, a Liturgia de hoje nos ensina que penitência é um reflexo de reparação
depois de uma falta. Sentimos a insuficiência do homem natural que somos.
Tratamos de reparar isso, mas sabemos que o único que pode reparar mesmo é
Deus. Por isso, a melhor penitência é: abrir espaço para Deus.
Abrindo
espaço para Deus, caminharemos quarenta dias, para vê-lo em toda a sua
majestade, o SENHOR RESSUSCITADO QUE NA CRUZ MORREU PARA QUE RESSUSCITEMOS COM
ELE. AMÉM!
Fonte:
https://catequizar.com.br/liturgia/quarta-feira-de-cinzas-b/
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