DAS FORMULAÇÕES INICIAIS DE SUA DOUTRINA AOS NOVOS DESAFIOS DA ATUALIDADE
Rodrigo
Augusto Leão Camilo(*)
1. O surgimento da Teologia da Libertação
No decorrer do século XX, dentro da Igreja Católica, a preocupação de seus membros com a questão social foi aumentando na medida em que pelo mundo proliferam os problemas, como a violência, o desemprego e a fome. A região da América Latina mereceu uma atenção especial de parte da Igreja, em virtude da história e da grande presença católica no continente. No Brasil, um dos países com a maior população católica do planeta, a Igreja brasileira passou por grandes transformações desde que o catolicismo deixou de ser a religião oficial do país com a Proclamação da República em 1889. Os movimentos messiânicos, a falta de padres e o crescimento de outras crenças religiosas, entre outras questões, contribuíram para uma reorganização da estrutura da Igreja Católica no Brasil. Junto aos problemas socioeconômicos brasileiros da primeira metade do século XX, cresceu também o envolvimento dos religiosos católicos com o cotidiano de seus fiéis, estando eles em contato com o sofrimento e as dificuldades de uma parcela importante da população brasileira. Mas foi a partir da década de 1960 que dois acontecimentos importantes influíram para um maior envolvimento de uma parte do clero católico com a questão social no Brasil: o Concílio Vaticano II e o Golpe Militar de 1964. Esse segmento dentro da Igreja Católica brasileira passou a se posicionar mais firmemente contra os problemas econômicos e sociais que estavam atingindo o país e, quando os militares tomaram o poder e implantaram um regime autoritário dentro do país, passaram a ser duramente perseguidos. Assim foi que surgiu uma relação dialética no Brasil entre os religiosos envolvidos com a questão social e a realidade brasileira: quanto mais eles denunciavam e agiam em relação aos problemas no país como a fome, o desemprego, a questão agrária e a repressão dos militares, mais perseguidos eles eram, situação que ao invés de diminuir o ímpeto dessas pessoas, aumentava sua determinação em combater aquela situação. Foi nesse contexto do aumento do envolvimento da Igreja Católica com a realidade de seus fiéis, no processo de aggionamento em relação ao secular, com o agravamento das questões sociais na América Latina e o surgimento dos opressivos regimes militares na América Latina que se organizou dentro da Igreja Católica o movimento da Teologia da Libertação. O envolvimento pastoral com a questão social já vinha se organizando em boa parte do mundo católico mesmo dentro da doutrina social da Igreja, mas em 1968 durante a Conferência de Medellín (II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano) esse envolvimento ficou mais sistematizado com uma diretriz básica: a opção preferencial pelos pobres.
Contudo, além de esbarrarem nos militares, os quais viam as ações do clero católico em apoio aos pobres como uma “subversão”, os adeptos da Teologia da Libertação no Brasil sofreram com a reprovação de suas ações por parte da cúpula conservadora da Igreja Católica brasileira. Não obstante, por grande parte do país, os religiosos católicos se organizavam para atuarem ao lado de seus fiéis, seja denunciando os abusos cometidos pelos militares, seja nas reuniões das Comunidades Eclesiais de Base, nas quais a experiência religiosa dividia espaço com a análise crítica da realidade brasileira. Os princípios da Teologia da Libertação passaram a embasar as ações de parte do clero católico para a defesa de seus ideais. Mas quais seriam esses princípios? Michael Löwy (2000) enfatiza oito pontos que seriam os pilares principais da teologia da Libertação, entre os quais se destacam: a libertação humana como antecipação da salvação final em Cristo, uma nova leitura da Bíblia, uma forte crítica moral e social do capitalismo dependente, o desenvolvimento de comunidades de base cristãs entre os pobres como uma nova forma de Igreja e, especialmente, uma opção preferencial pelos pobres e a solidariedade com sua luta de autolibertação. É para entender como se deu essa aproximação desse segmento dentro do clero católico com a teoria marxista é que se faz necessário a leitura de dois clássicos da Sociologia − Max Weber e Karl Marx. O primeiro oferecendo o conceito de afinidade eletiva e o segundo com sua poderosa análise crítica da sociedade.
(Continua no próximo Domingo)
(*) Mestrando em Sociologia pelo programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás e bolsista CNPq.
Fonte: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/253/o/Rodrigo_Augusto_Leao_Camilo
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