CNBB DIVULGA MENSAGEM AO POVO BRASILEIRO APROVADA PELOS BISPOS REUNIDOS EM ASSEMBLEIA
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou no dia 16 de abril, a mensagem do episcopado brasileiro que reunido, de modo online, na 58ª Assembleia Geral da CNBB, se dirigiu ao povo neste grave momento.
No texto, os bispos afirmam que diante da atual situação pela qual passa o Brasil, sobretudo em tempos de pandemia, não podem se calar quando a vida é “ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada”. Os bispos asseguram que são pastores e que têm a missão de cuidar. “Nosso coração sofre com a restrita participação do Povo de Deus nos templos. Contudo, a sacralidade da vida humana exige de nós sensatez e responsabilidade”, dizem.
Na
mensagem, os bispos reiteram que no atual momento precisam continuar a observar
as medidas sanitárias que dizem respeito às celebrações presenciais. Reconhecem
agradecidos que as famílias têm sido espaço privilegiado da vivência da fé e da
solidariedade. “Elas têm encontrado nas iniciativas de nossas comunidades,
através de subsídios e celebrações online,
a possibilidade de vivenciarem intensamente a Igreja doméstica. Unidos na
oração e no cuidado pela vida, superaremos esse momento”.
Os bispos afirmam que os três poderes da República têm, cada um na sua especificidade, a missão de conduzir o Brasil nos ditames da Constituição Federal, que preconiza a saúde como “direito de todos e dever do Estado” e que o momento exige competência e lucidez. “São inaceitáveis discursos e atitudes que negam a realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o Estado Democrático de Direito”, afirmam.
Fazem,
ainda, um forte apelo à unidade das Igrejas, entidades, movimentos sociais e
todas as pessoas de boa vontade, em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil:
“Assumamos, com renovado compromisso, iniciativas concretas para a promoção da
solidariedade e da partilha. A travessia rumo a um novo tempo é desafiadora,
contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade
brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da
fraternidade e do diálogo. Como nos animou o Papa Francisco: “o anúncio Pascal
é um anúncio que renova a esperança nos nossos corações: não podemos dar-nos
por vencidos!”.
Confira o
texto na íntegra:
MENSAGEM DA 58ª ASSEMBLEIA
GERAL DA CNBB AO POVO BRASILEIRO
Esperamos novos céus e uma nova
terra, onde habitará a justiça. (2Pd 3,13)
Movidos pela
esperança que brota do Evangelho, nós, Bispos do Brasil, reunidos, de
modo online, na 58ª
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de 12 a 16
de abril de 2021, neste grave momento, dirigimos nossa mensagem ao povo
brasileiro.
Expressamos a nossa
oração e a nossa solidariedade aos enfermos, às famílias que perderam seus
entes queridos e a todos os que mais sofrem as consequências da Covid-19. Na
certeza da Ressurreição, trazemos em nossas preces, particularmente, os
falecidos. Ao mesmo tempo, manifestamos a nossa profunda gratidão aos
profissionais de saúde e a todas as pessoas que têm doado a sua vida em favor
dos doentes, prestado serviços essenciais e contribuído para enfrentar a
pandemia.
O Brasil experimenta
o aprofundamento de uma grave crise sanitária, econômica, ética, social e
política, intensificada pela pandemia, que nos desafia, expondo a desigualdade
estrutural enraizada na sociedade brasileira. Embora todos sofram com a
pandemia, suas consequências são mais devastadoras na vida dos pobres e
fragilizados.
Essa realidade de
sofrimento deve encontrar eco no coração dos discípulos de Cristo[1]. Tudo o que promove ou ameaça a vida diz respeito à
nossa missão de cristãos. Sempre que assumimos posicionamentos em questões
sociais, econômicas e políticas, nós o fazemos por exigência do Evangelho. Não
podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a
justiça corrompida e a violência instaurada[2].
Louvamos o testemunho
de nossas comunidades na incansável e anônima busca por amenizar as
consequências da pandemia. Muitos irmãos e irmãs, bispos, padres, diáconos,
religiosos, religiosas, cristãos leigos e leigas, movidos pelo autêntico
espírito cristão, expõem suas vidas no socorro aos mais vulneráveis. Com o Papa
Francisco, afirmamos que “são inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com
os pobres e os enfermos”[3]. As iniciativas
comunitárias de partilha e solidariedade devem ser sempre mais incentivadas. É
Tempo de Cuidar!
Somos pastores e
nossa missão é cuidar. Nosso coração sofre com a restrita participação do Povo
de Deus nos templos. Contudo, a sacralidade da vida humana exige de nós
sensatez e responsabilidade. Por isso, nesse momento, precisamos continuar a
observar as medidas sanitárias que dizem respeito às celebrações presenciais.
Reconhecemos agradecidos que nossas famílias têm sido espaço privilegiado da
vivência da fé e da solidariedade. Elas têm encontrado nas iniciativas de
nossas comunidades, através de subsídios e celebrações online, a possibilidade de
vivenciarem intensamente a Igreja doméstica. Unidos na oração e no cuidado pela
vida, superaremos esse momento.
Na sociedade civil,
os três poderes da República têm, cada um na sua especificidade, a missão de
conduzir o Brasil nos ditames da Constituição Federal, que preconiza a saúde
como “direito de todos e dever do Estado”[4].
Isso exige
competência e lucidez. São inaceitáveis discursos e atitudes que negam a
realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o Estado
Democrático de Direito. É necessária atenção à ciência, incentivar o uso de
máscara, o distanciamento social e garantir a vacinação para todos, o mais
breve possível. O auxílio emergencial, digno e pelo tempo que for necessário, é
imprescindível para salvar vidas e dinamizar a economia[5], com especial atenção aos pobres e desempregados.
É preciso assegurar
maiores investimentos em saúde pública e a devida assistência aos enfermos,
preservando e fortalecendo o Sistema Único de Saúde – SUS. São inadmissíveis as
tentativas sistemáticas de desmonte da estrutura de proteção social no país.
Rejeitamos energicamente qualquer iniciativa que intente desobrigar os
governantes da aplicação do mínimo constitucional do orçamento na saúde e na
educação.
A educação,
fragilizada há anos pela ausência de um eficiente projeto educativo nacional,
sofre ainda mais no contexto da pandemia, com sérias consequências para o
futuro do país. Além de eficazes políticas públicas de Estado, é fundamental o
engajamento no Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco[6].
Preocupa-nos também o
grave problema das múltiplas formas de violência disseminada na sociedade,
favorecida pelo fácil acesso às armas. A desinformação e o discurso de ódio,
principalmente nas redes sociais, geram uma agressividade sem limites.
Constatamos, com pesar, o uso da religião como instrumento de disputa política,
justificando a violência e gerando confusão entres os fiéis e na sociedade.
Merece atenção
constante o cuidado com a casa comum, submetida à lógica voraz da “exploração e
degradação”[7]. É urgente
compreender que um bioma preservado cumpre sua função produtiva de manutenção e
geração da vida no planeta, respeitando-se o justo equilíbrio entre produção e
preservação. A desertificação da terra nasce da desertificação do coração
humano. Acreditamos que “a liberdade humana é capaz de limitar a técnica,
orientá-la e colocá-la ao serviço de outro tipo de progresso, mais saudável,
mais humano, mais social, mais integral”[8].
É cada vez mais
necessário superar a desigualdade social no país. Para tanto, devemos promover
a melhor política[9], que não se
submete aos interesses econômicos, e seja pautada pela fraternidade e pela
amizade social, que implica não só a aproximação entre grupos sociais
distantes, mas também a busca de um renovado encontro com os setores mais
pobres e vulneráveis[10].
Fazemos um forte
apelo à unidade da sociedade civil, Igrejas, entidades, movimentos sociais e
todas as pessoas de boa vontade, em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil.
Assumamos, com renovado compromisso, iniciativas concretas para a promoção da
solidariedade e da partilha. A travessia rumo a um novo tempo é desafiadora,
contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade
brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da
fraternidade e do diálogo. Como nos animou o Papa Francisco: “o anúncio Pascal
é um anúncio que renova a esperança nos nossos corações: não podemos dar-nos
por vencidos!”[11]
Com a fé em Cristo
Ressuscitado, fonte de nossa esperança, invocamos a benção de Deus sobre o povo
brasileiro, pela intercessão de São José e de Nossa Senhora Aparecida,
padroeira do Brasil.
Brasília, 16 de abril
de 2021.
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de
Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom
Jaime Spengler, OFM
Arcebispo de
Porto Alegre – RS
1º Vice-Presidente
Dom
Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima
– RR
2º Vice-Presidente
Dom
Joel Portella Amado
Bispo Auxiliar
do Rio de Janeiro – RJ
Secretário-Geral da CNBB
[1] cf. Gaudium et Spes, 1.
[2] cf. CNBB, Mensagem ao Povo de Deus, 2018.
[3] Papa Francisco, Mensagem para o IV Dia Mundial dos Pobres,
2020.
[4] Constituição Federal, art. 196.
[5] cf. CNBB, OAB, C.Arn´s, ABI, ABC e SBPC, O povo não pode pagar com a própria vida,10
de março de 2021.
[6] cf. Papa Francisco, Mensagem para o lançamento do Pacto Educativo
Global, 12 de setembro 2019.
[7] Papa Francisco, Laudato Si´, 145.
[8] Papa Francisco, Laudato Si´, 112.
[9] Papa Francisco, Fratelli Tutti, Cap. V.
[10] cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 233.
[11] Papa Francisco, Mensagem 58ª. AG CNBB.
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