O Big Brother e a preocupação com a vida alheia
O que é o Big Brother Brasil, por que fez tanto sucesso em
nosso país e por que é tão explorado pelos portais de notícias da Internet?
Trata-se de um reality show – literalmente, "show
de realidade". A ideia original desses espetáculos — cujo formato pode
variar muito — é apresentar às pessoas a rotina e o dia a dia de outras pessoas
reais. Ao contrário de filmes, novelas e seriados, nos quais os atores
interpretam personagens, as pessoas chamadas a participar desses programas têm
de interpretar tão somente a si mesmos — em um contexto todo fantasioso,
no caso do Big Brother, repleto de comidas, bebidas,
lazeres... e absolutamente nenhum trabalho.
Não é exagero dizer que os pais que gostam de dar uma
"espiadinha" trazem a promiscuidade para dentro de sua própria casa.
Movidas pela ânsia dos holofotes e pelo desejo da fama, são muitas as
pessoas a imolar a própria privacidade no altar do reality show. Os
eventuais prêmios com que os ganhadores desse programa são bonificados nem se
comparam à possibilidade de todos serem vistos aos olhos da sociedade e
poderem, quem sabe, ingressar em uma carreira pública — seja na própria
televisão, seja no Congresso Nacional, por exemplo.
O mais intrigante, porém, é como tantos brasileiros podem perder o seu
tempo com algo desse tipo. Afinal, o Big Brother só
está em sua 15.ª edição na rede nacional porque tem audiência suficiente para
se manter. O argumento de que os entusiastas do programa se restringem a
quem assiste à TV não cola. Os sítios da Internet, todos, trazem notícias sobre
o que acontece na tal "casa mais vigiada do Brasil" e,
impressionantemente, são essas as matérias mais lidas pelos internautas.
O que explica esse fenômeno? Por que isso acontece?
É que o Big Brother explora um vício muito
característico da própria cultura brasileira, a curiosidade. (Não à
toa os telespectadores são convidados pelo apresentador do programa a "dar
uma espiadinha".) Este vício consiste, segundo o parecer de São Beda,
"na assistência aos espetáculos e na investigação e crítica dos vícios
alheios" [1]. Santo Tomás de Aquino, doutor da Igreja e profundo
conhecedor do comportamento humano, ensina que, no que diz respeito aos
sentidos, há dois modos de ser curioso: ou procurando por algo inútil ou
mesmo por algo nocivo [2].
Olhando para o conteúdo do reality show em questão, é
preciso dizer que dar-lhe audiência não consiste apenas em querer saber algo
sem utilidade alguma — o que já é bastante óbvio. É que o próprio Big
Brother Brasil é um espetáculo perigoso. Além de incentivar os
mexericos e difamações à vida alheia — as pessoas se dividem em
"panelinhas" de fofocas e as personagens consideradas impróprias são
eliminadas em um "paredão" —, o programa global está repleto
de cenas pornográficas, uma pior do que a outra. Desvinculando totalmente o
sexo da realidade familiar, o Big Brother mina a base dos
relacionamentos maduros e saudáveis e estimula os jovens a uma busca frenética
e irresponsável por prazer sexual a qualquer custo [3]. Não é exagero dizer
que os pais que gostam de dar uma "espiadinha" trazem a
promiscuidade para dentro de sua própria casa.
Antes que alguém chame as considerações aqui expostas de
"moralismos", importa apontar o quanto programas deste teor já
destruíram a família brasileira nas últimas décadas. Só as novelas da Rede
Globo — que são uma versão bem mais soft do que é o BBB
— contribuíram significativamente para o aumento do
número de divórcios e a queda no número de filhos no país. É que, de
115 novelas globais transmitidas entre 1965 e 1999 no horário nobre, 62% das
principais personagens femininas não tinham filhos e 26% delas eram infiéis a
seus parceiros. Um quadro que foi se tornando, pouco a pouco, um
retrato da sociedade brasileira.
Por isso, deixar de assistir à programação permissiva e liberal da Rede
Globo — com suas novelas, reality shows e
"Esquentas" — não é nenhum "moralismo" de fundamentalistas
cristãos. É apenas a medida mais sensata que os homens de bem desse
país precisam tomar para salvar a própria família e preservar o amor dentro do
Matrimônio. Caso contrário, também eles cairão, assim como caiu a grande
Babilônia do Apocalipse.
Referências
1.
Comentário à Primeira Epístola de São João, 2, 16: ML 93, 92D.
2.
Cf. Suma
Teológica, II-II, q. 167, a. 2.
3.
Pornografia e violência nas
comunicações sociais: uma resposta pastoral, n. 16.
https://padrepauloricardo.org/blog/o-big-brother-e-a-preocupacao-com-a-vida-alheia
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