A ressurreição de Jesus: Espiritualidade da Páscoa
Deus-Pai: autor da ressurreição
de Jesus, seu Filho
A fé pascal nos fala da ação de Deus-Pai em seu
Filho Jesus. Uma ação criadora que se manifesta na sua vida entregue através da
morte, introduzindo-a em um novo modo de existir. Ao ressuscitar seu Filho, Deus
antecipou na história humana algo que se manifestará no fim: a vitória da justiça,
a fraternidade universal, a realização plena do Reino. Deus agiu em Jesus, não de
maneira milagrosa, mas fazendo Jesus passar da morte à vida, dando-lhe outro modo
de existir. Na nossa humanidade, o Filho é glorificado e santificado. Pela ressurreição,
Deus confirmou a verdade da vida de seu Filho Jesus, deu-lhe definitividade e, para
sempre, o exaltou, fazendo-o Senhor
da história e do universo inteiro. A ressurreição de Jesus, vítima inocente,
expressa não somente o poder de Deus sobre a morte, mas também o seu poder sobre
a injustiça que existe no mundo e mata os inocentes – como Jesus – que propagam
o sonho da paz, da igualdade, da liberdade e da fraternidade.
A ressurreição de Jesus: plenitude
de sua vida
Ao ressuscitar seu Filho Jesus, Deus Pai o arranca
do absurdo e, em Cristo, leva à plenitude o projeto humano. Em Deus ele reencontra
a identidade definitiva de seu ser humano e a realização plena de sua história terrena.
O próprio sentido da vida e morte de Jesus é dado pela ressurreição, que lhes confere
uma validade definitiva. A prática de Jesus foi considerada suspeita e sua morte
o desacreditou publicamente. Sua morte representa o fracasso de sua missão. Ao ressuscitá-lo,
no entanto, Deus dá razão ao crucificado e o faz vitorioso, mostrando que sua solidariedade
com os pecadores e os que sofrem coincide com a vontade de Deus. Jesus não estava,
de fato, sozinho. Deus, seu Pai, esteve com Ele, em todos os momentos de sua vida,
até à morte. Em Jesus, Deus atuou realmente, ele é de fato o salvador de Deus, aquele
que, de verdade, expressou Deus na história.
Quanto à ressurreição do corpo, de acordo com a
antropologia bíblica, trata-se da ressurreição do ser humano na integridade de suas
relações pessoais e cósmicas, na sua totalidade. A ressurreição não pode ser vista
como “sobrevivência da alma”,
o que a tornaria algo desvinculado da real experiência humana. Não é, pois, a “alma” de Jesus que ressuscita,
mas Jesus mesmo, na totalidade do seu ser e da sua vida. A ressurreição também não
se entende como “rematerialização”
de um cadáver. A ressurreição de Jesus diz respeito a tudo o que ele foi e realizou
na sua vida, na sua identidade mais profunda, e não ao destino de um “cadáver” que simplesmente sobrevive
à morte ou de uma “alma”
que se separa do corpo.
A ressurreição, o Espírito Santo
e a espiritualidade da Páscoa
A ação de Deus Pai em Jesus não foi uma ação a
favor somente de Jesus. A ressurreição do Filho de Deus provocou uma mudança radical
no relacionamento de Deus com os homens. Para o cristão, discípulo de Jesus, o que
importa é realizar na vida o que aconteceu na ressurreição de Jesus. E a ação particular
de Deus em Jesus se torna universal no Espírito, porque a salvação que nos trouxe
o Crucificado e Ressuscitado atua em nós através do Espírito. Por isto, atualizar
o acontecido na ressurreição na força do Espírito é a tarefa dos cristãos de todos
os tempos. A história caminha na direção da manifestação total e cósmica da ressurreição.
A ação do Pai no Filho continua presente no Espírito.
O Espírito havia atuado já na vida do Jesus terreno,
de modo que sua ressurreição é ação de Deus mediante o Espírito. O Senhor elevado
entrou na vida pneumática de Deus de maneira plena e participa da capacidade de
vida, presença e ação de Deus no Espírito e dispõe dele e o envia. A ação de Deus
no seu Filho presente no Espírito introduz o mundo em uma nova realidade, na experiência
atual da páscoa, porque o Espírito é quem produz hoje os frutos da ressurreição.
E seu maior fruto é a própria vida da comunidade dos que creem. A vida da comunidade
é o sinal irrevogável da presença do Ressuscitado no mundo através do Espírito.
Sua ação remete sempre a Cristo, à sua vida, morte e ressurreição. É o Espírito
que torna a ação de Cristo presente no mundo.
Os cristãos, no seu batismo, são introduzidos no
mistério pascal de Cristo, morrem e ressuscitam com Cristo. Participam da vitória
de Cristo sobre a morte e já estão ressuscitados com Cristo. A vida de Cristo, que
é a vida de Deus, nos é comunicada pelo Espírito. Ao longo de nossa vida, somos
chamados a atuar a vitória de Jesus e o melhor modo de fazê-lo é assumindo “a causa de Jesus”, o seu “sonho” para a humanidade, que
se chama “Reino de Deus”,
a utopia de paz, justiça e fraternidade que Jesus plantou no coração do mundo. A
adesão subjetiva e personalizada a Jesus Ressuscitado é sempre necessária, mas ela
permanece incompleta se não inclui os outros, sobretudo os mais pobres e abandonados.
A ação do Espírito continua, no mundo, a ação de Deus-Pai sobre Jesus através dos
cristãos, que foram incorporados a Cristo no batismo. Viver como ressuscitados exige,
pois, compromisso pessoal com Jesus e com a transformação do mundo em “Reino de Deus”.
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