ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS
Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar de
São Paulo
Os
dois discípulos que encontraram com Jesus ressuscitado a caminho de Emaús estão
contando como o reconheceram ao cear com ele. Então Jesus apareceu no meio
deles e disse “A paz esteja convosco”. Os anjos já haviam anunciado por ocasião
do seu nascimento “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos
homens por ele amados” (Lc 2,14), Simeão havia dito que ele veio “para guiar
nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,79), e foi citado no lema da Campanha da
Fraternidade “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef
2,14a).
Eis
o grande desejo do ressuscitado para nós: viver em paz, cultivar a paz, não
perder a paz. Diz o texto que os discípulos deixam transparecer que estavam as-
sustados, com medo, preocupados, duvidosos e pensam estar vendo um fantasma.
Diante disso, Jesus mostra as mãos e os pés e pede que seja tocado. São marcas
não somente da sexta-feira santa, mas também dos momentos em que abençoou
crianças, tocou em cegos, leprosos e paralíticos, de quando foi buscar a ovelha
perdida, das subidas até altas montanhas para anunciar o Reino.
Isso
mostra que o ressuscitado não é fruto da fantasia de alguns, não é a reanimação
de um cadáver, uma volta à vida biológica anterior. Foi assim com a filha de
Jairo, com o filho da viúva de Naim, com o amigo Lázaro. Estes, mais cedo ou
mais tarde morreram de novo. Com Jesus isso não acontece. Ele não morre mais,
vive para sempre.
Na
celebração eucarística, ao anúncio do Evangelho se diz “O Senhor esteja
convosco” e a assembleia responde “Ele está no meio de nós”. Como reconhecer
que Jesus está em nosso meio? Conforme o texto de hoje é quando caminhamos
juntos, visto que as aparições de Jesus acontecem quando os discípulos estão
juntos.
O
próprio Jesus disse que onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome ele
estará no meio deles. E onde Jesus está presente o mal não tem como entrar.
Outro modo de reconhecer a presença de Jesus ressuscitado é na refeição. Hoje
ele come peixe, alimento muito comum nas refeições daquela época. Quem não se
alimenta direito pode ficar anoréxico, ter alucinações, começar a ver fantasma
e acabar morrendo.
Quem
não se alimenta da eucaristia pode ir se distanciando de Deus, se enchendo de
dúvidas podendo até mesmo a perder a fé. Não podemos ficar sem o alimento da
eucaristia, é ele que possibilita que “o esplendor da glória de Deus brilhe em
nossa face”, como nos diz o salmo de hoje. Ainda mais: A Igreja nos ensina que
“Quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja, o próprio Deus fala a seu
povo, e Cristo, presente em sua palavra, anuncia o Evangelho” (IGMR 29).
No
Evangelho de hoje Jesus usa a Bíblia e a história do povo de Deus para iluminar
o problema que fazia sofrer seus amigos, e para esclarecer a situação que eles
estavam vivendo. Mostra que a história não tinha escapado da mão de Deus. Ainda
hoje podemos continuar tocando em Jesus por meio da Palavra, do amor fraterno,
e do memorial da ceia. “E permanece o chamado para testemunhar esta experiência
de amor, no modelo que Jesus deixou: Ele tornou-se próximo de nós; devemos
fazer-nos próximos dos irmãos e irmãs.
Ele
repartiu com as multidões a palavra e o pão, tratando com óleo e vinho suas
feridas: as multidões continuam com fome de palavra e de pão. Jesus foi
misericórdia infinita: somos chamados a viver dia a dia um amor livre e
gratuito para que a misericórdia seja contagiante” (Pe. Antônio José de
Almeida). Sejamos testemunhas de tudo isso.
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