domingo, 29 de agosto de 2021

CATEQUESE

PANDEMIA E CATEQUESE: DEPOIS DA PANDEMIA, QUE CATEQUESE?


"A pandemia do coronavírus transformou a vida em todas as suas expressões. Mudou a forma de viver, de pensar, de comunicar-se. Mudou também a forma de
transmitir/comunicar a fé.

 

Como repensar a catequese diante dos efeitos devastantes da COVID-19?", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre e doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e professor na Faculdade Vicentina (FAVI), sobre o livro Depois da pandemia, que catequese?

 

Eis o Artigo:

 

A pandemia do coronavírus transformou a vida em todas as suas expressões. Mudou a forma de viver, de pensar, de comunicar-se. Mudou também a forma de transmitir/comunicar a fé. Como repensar a catequese diante dos efeitos devastantes da COVID-19?

 

Sempre atentos aos sinais dos tempos e diante dos primeiros impactos socioculturais da pandemia - Javier Díaz Tejo – diretor de Pesquisa e Publicações do Instituto Escuela de la Fe da Universidad Finis Terrae organizou a obra: Depois da pandemia, que catequese?, disponibilizada em espanhol para os leitores em junho de 2020.

 

Para o organizador a obra é “uma contribuição norteadora para a catequese na América e no Caribe ao longo destas horas de incertezas, novidade e oportunidades que se abriram através da pandemia” (p. 18). Os leitores brasileiros de modo especial os catequistas podem usufruir deste estudo traduzido para o português pelo Departamento de Teologia da PUC-Rio – em novembro de 2020. Prof. Abimar Oliveira de Moraes – professor adjunto do Programa de Pós-graduação em Teologia desta instituição – coordenou a equipe de tradução e na Apresentação à edição brasileira destaca que: “cada palavra deste livro – expressão de uma coletividade eclesial de altíssima grandeza– motive-nos não a voltar, mas sim a avançar, ao novo” (p. 12).

 

Os capítulos desta obra foram escritos por especialistas em Catequética de distintos países da América. Eles teceram suas reflexões na busca de uma resposta para estas perguntas:

 

a) Como ler e entender adequadamente estas transformações a partir de uma perspectiva catequética?

b) Estamos diante somente de um conjunto de ameaças, sem oportunidades latentes?

c) A catequese, que se nutre em parte da experiência cotidiana de uma grande porção do Povo de Deus, como deve reagir?

d) Que “constantes” percebemos quando escutamos aos catequistas? Que grau de pertinência têm tido as decisões do episcopado em nossas respectivas dioceses e da Conferência Episcopal em particular?

e) A partir de outra perspectiva, o que se revela como algo que compreendemos e/ou fizemos corretamente na catequese do passado?

f) Que critérios deveríamos manter para que o futuro da educação da fé neste previsível contexto social seja promissor?

g) Que novos enfoques teríamos que privilegiar?

h) E, ao mesmo tempo, que ações tradicionais, é evidente, já não podem mais realizar-se?

i) Que noções e modelos teóricos devemos abandonar imediatamente?

 

“As perguntas sobre as conseqüências desta pandemia para a vida humana em qualquer de suas dimensões são muitas e continuarão a se multiplicar. O problema é respondê-las” (p. 121). “Um novo panorama se abre com novas perguntas, e as respostas exigem a mesma novidade da situação. Muitas vezes a catequese tem sido acusada de oferecer respostas incompreensíveis a perguntas que ninguém mais faz. Este recesso obrigatório nos constringe não apenas a começar a produzir mensagens com todos os recursos das novas tecnologias, mas a escutar o clamor silencioso que brota do coração de homens e mulheres que perderam o sentido, totalmente arrancados e desalojados de sua própria interioridade” (p. 106). A “catequese em meio a uma pandemia, como no caso da COVID-19, não pode ser uma catequese desencarnada, neutra ou ingênua. Tampouco pode ser uma catequese manipuladora que serve para promover ideologias ou que se reduz à promoção de caricaturas do cristianismo e do Deus que nos revelou Jesus Cristo” (p. 110).

 

Temos, portanto, grandes desafios para a catequese. Neste novo cenário/nova etapa onde somos atores e não espectadores e em vista de uma catequese consequente com este tempo – selecionamos estas indicações – mais em caráter de reflexão do que a apresentação de fórmulas ou receitas prontas:

 

1) “embora estejamos conectados através de meios tecnológicos e plataformas diferentes, há necessidade de proximidade, de caminhar juntos (respeitando o distanciamento social)”, (p. 21). “Será necessário reconhecer nos outros seus sentimentos, pensamentos e emoções, deixando de lado, em primeira instância, nossa própria experiência. Dar a palavra ao outro para que ele possa se expressar, para que possa perguntar, duvidar, questionar, falar, calar. É mais do que escutar, é experimentar, de certa forma, os sentimentos e percepções do outro em nossa própria carne” (p. 22);

 

2) “a ação evangelizadora deve ser de esperança e otimismo, partindo do kerygma e visando a mistagogia” (p. 27);

 

3) “sejamos pessoas de fé” (p. 29). “Neste momento da vida, somos convidados a viver a criatividade evangelizadora de forma equilibrada, cuidando dos excessos” (p. 28);

 

4) “é necessário encontrar a mensagem de fé, esperança e força que os fiéis esperam ouvir neste momento. A catequese não deve ser uma elucubração, mas uma resposta aos questionamentos que os crentes trazem consigo e uma boa nova que cura as feridas e traz de volta a calma. A Palavra do Senhor deve ser proclamada com explicações sustentadas pela experiência de fé na comunidade e pelo testemunho de uma presença servidora aos que precisam ser libertados da morte e necessitam de uma mão para segurar” (p. 32-33);

 

5) “este tempo, com toda a angústia e incerteza que trouxe, apresenta-se como uma oportunidade de entrar num processo de aprendizagem para o silêncio e lá ouvir a voz de Deus; para encontrar e dar um sentido ao sofrimento, não somente do ponto de vista psicológico ou de outras dimensões da pessoa, mas a partir de Jesus Cristo, que aceitou submeter-se ao sofrimento humano até sua morte” (p. 37-38);

 

6) “a catequese deve conectar os temas que lhe são próprios com a realidade concreta das pessoas, famílias e comunidades, colocando o interlocutor no centro de todo o processo de aprendizagem, para que tenha a oportunidade de ser protagonista e que o Evangelho seja seu ponto de referência real e significativo” (p. 41);

 

7) “a catequese deve se familiarizar com planejamentos menos rígidos, para se mover naturalmente dentro de espaços complexos e incertos, longe de conteúdos predefinidos que acreditamos sejam necessários; mas a partir da formulação de perguntas criativas ou de aprendizagem significativa, para que os catequizandos estabeleçam seus próprios desafios existenciais. Para isso é necessário motivar o catequizando a conhecimentos mais transcendentais, que gerem capacidades e habilidades em sua experiência de vida. Quando se busca compreender que a sociedade e seus indivíduos não são tão “harmônicos”, é possível compreender que a catequese não deveria ser formulada a partir de uma proposta “harmônica”, mas deveria favorecer uma metamorfose positiva por meio de uma pedagogia transformadora” (p. 42);

 

8) “a catequese deve ser mais integral, a fim de formular processos que sejam significativos e levem em conta o que é importante para as pessoas, e não apenas o que é urgente nos itinerários formativos. Assumir este tipo de visão integral facilita a construção de realidades baseadas na solidariedade e em outros valores de convivência e participação” (p. 43);

 

9) “devemos destacar a família como o epicentro do kerygma. A família é o lugar onde se semeia e se cultiva a fé, através da oração e do testemunho. O que eu proponho é apresentar a família cristã como uma imagem da Igreja e da vida divina. Ver a família como base e fundamento para entender nossa relação com Deus e com os outros” (p. 45-46);

 

10) “deve haver um retorno à raiz da experiência cristã. A pandemia trouxe consigo mudanças profundas. Entender os sacramentos como parte integral da vida, celebrações da vida cotidiana, como indica o fato da existência de sete sacramentos. Uma catequese que ecoe o kerygma deve apresentar os sacramentos como a celebração da realidade da presença de Deus em nossas vidas” (p. 46-47);

 

11) “a pandemia, entendida como uma oportunidade, veio para impulsionar o catequista a passar de uma catequese centrada unicamente em conteúdos doutrinais e celebrações sacramentais para um aprender a assumir as angústias e esperanças do homem de hoje como parte essencial do conteúdo da catequese, não levando-as em conta apenas somente como uma referência metodológica a ser implementada. O catequista teve que aprender a parar de falar de Cristo Jesus para aprender a viver como Cristo Jesus em relação íntima com as pessoas e as comunidades: levar comida aos que passavam fome, criar vínculos de economia solidária entre vizinhos, acompanhar os que adoeceram, consolar aqueles que sofreram perdas, solidarizar-se com quem perdeu seu emprego. Tem sido uma oportunidade de aprender a dar primazia à vida, de valorizar que na catequese acompanhamos nossos irmãos em suas descobertas do viver, que as experiências que temos que privilegiar em nossa tarefa pastoral não estão impressas em livros, nem em fórmulas a serem memorizadas, mas estão escritas com as letras vivas do cotidiano para criar relações efetivas e afetivas com nosso próximo; mediante um aprender a ser e estar, lá onde a vida floresce, no interior dos lares, aonde a vida se desenvolve em ruas e praças da comunidade, nas redes sociais que a pandemia nos levou a usar como espaço para manifestação das inquietações humanas ” (p. 50-51);

 

12) “A crise atual trouxe à tona, em todos os lugares, formas totalmente inadequadas de falar de Deus e de sua ação, seja diretamente ou mediada por seus representantes. A questão é: de onde provêm as imagens de Deus? Que tipo de catequese e de modelo de Igreja criou este tipo de imagens? Estamos tão acostumados com um modelo de catequese e de pastoral mecânico, que não nos preguntamos pela imagem de Deus que pregamos, ensinamos e socializamos. Qual é a imagem de Deus em nossos manuais de catequese? Qual é a imagem de Deus quando preparamos para as confissões? Qual é a imagem de Deus que transmitimos em retiros espirituais, homilias, textos espirituais, aconselhamentos e orações? Estas e outras questões assumem, neste momento, uma importância da primeira grandeza. Para não usarmos “o nome de Deus em vão”. Para que não acomodemos Deus a nossos caprichos e interesses pessoais e de grupos. Uma tarefa urgente, e não apenas por causa da conjuntura atual, é purificar nossas imagens de Deus e sermos mais cuidadosos e respeitosos em nossa maneira de falar de Deus. Nisto não podemos voltar à “normalidade”. Pelo menos não esta normalidade a qual estamos acostumados onde a imagem deformada de Deus é transmitida e socializada de geração em geração; (p. 62-63);

 

13) “a atual situação de emergência vai nos pedir para repensarmos muitas coisas na catequese. Desde garantir ferramentas de biossegurança em nossas igrejas e salas de encontros, até implementar a virtualidade ou a alternância entre a presença (em pequenos grupos) e a virtualidade” (p. 63);

 

14) “a possibilidade de situar novamente a recepção dos sacramentos dentro de um itinerário; a necessidade de sair de nossa zona de conforto para estar com os outros e redescobrir a dimensão humana; a possibilidade de partilhar e transmitir realmente nossa fé em família; a possibilidade de viver a diaconia; a importância da formação de catequistas” (p. 65-70);

 

15) “preparar a catequese virtual, com o itinerário proposto por etapas, e tê-la disponível para cada evento ou situação que vivemos, atualizando-a permanentemente; preparar os catequistas nesta metodologia virtual de evangelização através de redes; considerar todas as etapas do ciclo evolutivo para esta catequese virtual; considerar o ressurgir e o protagonismo da família, como igreja doméstica, ultimamente não motivada, embora hajam documentos da Igreja que sublinham sua relevância; ensinar sobre o uso da tecnologia para adultos mais velhos nas comunidades, por jovens catequistas como um serviço à igreja, para participar das missas, da catequese, etc. O jovem deve ser motivado pelos responsáveis” (p. 74-75);

 

16) “a catequese agora tem que rever a eclesiologia que comunica, para que não aconteça que o Senhor queira nos conduzir a uma igreja em pequenas comunidades e/ou em famílias, e a catequese continue a favorecer um tipo de Igreja clerical e sacramentalista” (p. 83). “A catequese, a partir dos ensinamentos que nos advém da pandemia, não pode continuar formada apenas para celebrarmos sacramentos. É claro que os sacramentos são importantes, mas não podem ser celebrados sem uma catequese ampla que ilumine o verdadeiro significado de um sinal sacramental dentro de uma comunidade eclesial” (p. 85). “A catequese não pode ser a mesma depois da pandemia. Deve rever cuidadosamente a Cristologia e a Eclesiologia que dão base aos seus conteúdos, assim como aos seus enfoques, para não retornar a aspectos que distorcem a missão de Jesus no mundo e o verdadeiro significado de uma Igreja evangelizadora” (p. 86);

 

17) “precisamos da criatividade dos especialistas para criar ferramentas tecnológicas que nos ajudem a não perder o que considero avanços na catequese, sobretudo uma catequese de inspiração catecumenal, a partir da Iniciação à Vida Cristã numa verdadeira mudança de época. Falamos da necessidade de novos paradigmas para a catequese, pois acredito que esta realidade nos desafia a criar novos modelos educativos para ela” (p. 89). Tenha-se em conta que os “novos modelos educacionais digitais não estão ao alcance de todos” (p. 89). Tenha-se em conta a formação de catequistas para esta mudança de época: “a realidade é que a maioria dos catequistas são pessoas idosas, que tem dificuldades para mudar de métodos, embora já ultrapassados. Certamente estes catequistas não se adaptarão a novas formas de catequese” (p. 90);

 

18) “uma catequese que passe da interioridade à interatividade, da noção de assistida pela igreja para a noção de sujeito eclesial. Para serem protagonistas, é necessário criar um projeto de catequese para que estes cidadãos comunicativos possam se reconhecer como pessoas a quem o Senhor os envia, apaixonados por Ele e por tudo o que são chamados a comunicar sobre Ele, testemunhas da beleza de encontrá-lo e fazê-Lo encontrar, sem que isso gere a contradição paradoxal de uma espécie de indiferença ascética” (p. 95);

 

19) “a catequese, deve antes de tudo dar prioridade à realidade humana de cada pessoa, o chamado que cada um tem dentro de si para desenvolver e, sobretudo, amar, servir, formar comunidade, integrar um Povo, colaborar para fazer um mundo fraterno, solidário, justo e de paz, especialmente para os mais necessitados. O caráter antropológico, o humano, precede tudo na missão da Igreja. Deus valoriza tanto o humano que ele se tornou humano” (p. 100);

 

20) “É necessário descobrir o significado profundo do anúncio missionário e kerigmático, não apenas no nível pessoal, mas também no nível familiar, se realmente quisermos convidá-la a assumir sua missão derivada dos sacramentos celebrados: ser uma Igreja doméstica. O anúncio deve facilitar o encontro e a experiência com Jesus Cristo como fundamento da fé, criando as condições prévias para sua alegre acolhida. Sem este passo fundamental, não haverá verdadeiro encontro com Cristo vivo, não haverá fé viva e ativa, não haverá uma base sólido para ser uma testemunha do Evangelho. Este chamado para recuperar o anúncio kerigmático exige que deixemos de pressupor a fé. Para a catequese é um chamado a dar lugar ao encontro com o Cristo vivo presente na vida, que dá lugar à conversão. Este é o início da vida de fé. A catequese é a ação da Igreja que acompanha a fé inicial até que ela alcance a sua maturidade” (p. 107);

 

21) “a necessidade de uma catequese que nos apresente novamente a Deus segundo o Evangelho e o melhor de nossa teologia. Precisamos de uma catequese que apresente uma teodiceia autenticamente católica. Preocupa-me observar as inúmeras caricaturas de Deus que muitos católicos comunicam nos meios de comunicação, nas redes sociais e, até mesmo, em homilias e espaços de catequese. Deve-se reconhecer que muitas das imagens caricatas de Deus que residem na mente e no coração de muitos católicos são fruto de uma catequese pobre ou simplesmente de uma falta de catequese. Assim, hoje colhemos o que foi semeado por muito tempo. Não se pode aceitar uma catequese, formal ou informal, que fala de um Deus que castiga ou de um Deus que se deleita com a dor e o sofrimento de uns em benefício de outros. Este não é o momento de confundir mal físico com o mal moral, pois há uma grande diferença, como nos lembra o Catecismo da Igreja Católica (n. 309-314). É urgente catequizar nosso povo sobre como Deus age na história e o que realmente podemos esperar de um Deus que nos ama infinitamente, que quer o melhor de nós, mas ao mesmo tempo respeita nossa liberdade e as leis da ordem criada” (p. 111-112);

 

22) “a crise atual é um apelo urgente para que teólogos, catequistas e educadores religiosos redobremos nossos esforços no desenvolvimento de uma catequese que nos ajude a entender melhor a relação entre fé e ciência. Vivemos em uma época da história na qual a humanidade adquiriu um nível de conhecimento científico sofisticado sem precedentes. Isto inclui tudo o que está relacionado com a forma como um vírus infeccioso age e seus efeitos. A acessibilidade a tal conhecimento é surpreendente. Qualquer pessoa, independentemente da idade, com um computador ou um smartphone, pode se educar, idealmente com a devida orientação de especialistas e educadores, para interpretar as informações adequadamente. A ironia é que muitos cristãos católicos e muitos crentes de outras tradições religiosas percebem o científico como antagônico à fé. Muitos ainda pensam que, para acreditar, é necessário ignorar o conhecimento científico. Existe a necessidade de uma catequese que ajude-nos a valorizar, com visão crítica, é claro, e a contemplar, o que aprendemos através da ciência. Precisamos de uma catequese que fale novamente de milagres, embora de maneira informada. Expor-se a um vírus ignorando as recomendações da comunidade médica e, ao mesmo tempo, esperar um milagre, é uma irresponsabilidade de altíssimo grau, com conseqüências letais. Muitos crentes fazem isso, às vezes motivados por líderes religiosos. Isto deve mudar. Todos, começando pelos líderes religiosos em todos os níveis, temos que ser educados sobre o diálogo criativo que deve existir entre a fé e a ciência” (p. 112-113);

 

23) “a situação atual da pandemia revelou muitas realidades sociopolíticas que nos devem preocupar aos católicos em todo o mundo. Entre elas destaco duas. Por um lado, os efeitos nocivos da desigualdade social, observando que as pessoas mais afetadas pela pandemia até agora são os pobres, os idosos e os grupos minoritários. Por outro lado, o oportunismo dos líderes políticos e das elites sociais e econômicas em propor políticas que continuam a beneficiar alguns poucos. Muitas dessas políticas são racistas, misóginas, anti-imigrantes e aporofóbicas (que tem aversão aos pobres). Neste momento, a catequese e a educação religiosa devem ser espaços onde se fala destas realidades à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja. Precisamos de uma catequese profética que nos ajude a denunciar estas realidades pelo que elas são: pecado. É urgente uma catequese que prepare os católicos, especialmente os mais jovens, para falar com um novo ímpeto sobre justiça e solidariedade” (p. 113);

 

24) “a catequese, hoje mais do que nunca, exige catequistas que transmitam o sentido de ser irmãos que acolhem, guiam e acompanham aqueles que desejam participar da catequese” (p. 117). “Antes dos conteúdos, a Palavra de Deus deve continuar sendo hoje o centro do anúncio” (p. 118).

 

25) “Outro aspecto da catequese que não deve ser perdido de vista é a comunidade” (p. 118). “Na catequese pós-crise, deve ser fortalecido o sentido de comunidade. Mais do que falar do grupo de catequese, devemos falar da comunidade de catequizandos onde as pessoas podem experimentar o que foi vivido pelas primeiras comunidades cristãs (ver At 2,42-47), ou seja, como eles se apoiaram uns aos outros, oraram juntos, acolheram os ensinamentos de Jesus e se prepararam para celebrar os sacramentos. O vivido e experimentado nestas pequenas comunidades os ajudará a integrar-se na grande comunidade cristã de suas capelas ou paróquias” (p. 119);

 

26) “a catequese, portanto, deve ser antes de tudo um exercício de discernimento espiritual do que o Espírito está dizendo às Igrejas diante de fenômenos naturais, sociopolíticos e morais” (p. 121-122);

 

27) “depois do coronavírus, será um desafio procurar e discutir um modelo realista e amplamente aceito de iniciação à vida cristã. Outro elemento que poderá permanecer no futuro é a poderosa influência da cultura digital no modelo educacional e, em particular, na educação da fé. A participação dos fiéis na catequese estará em relação proporcional ao uso eficiente dos canais e redes de comunicação. Isto obrigará a catequese a mudar sua linguagem e a fazer um uso mais amplo e apropriado da tecnologia de comunicação. A catequese experimentará a necessidade de se reinventar, de dar respostas locais concretas às questões apresentadas aos que crêem sobre sua fé e sua esperança (cf. 1Pd 3,15b-16), (p. 123);

 

28) “a situação mundial em que vivemos por causa da COVID-19 nos leva a repensar muitas formas de comportamento na ordem mundial em todos os níveis, inclusive o que diz respeito à experiência e à proposta de fé, como é a catequese. Esta pandemia, este confinamento, este isolamento social, nos desafiam a não voltar “ao normal”, mas a criar um novo futuro com novos paradigmas de relações pessoais e comunitárias e com nossa casa comum. Não se trata de inventar qualquer paradigma, mas aqueles que respondem a necessidades concretas, aqueles que permitem manter a dignidade e a integridade da pessoa em seu relacionamento consigo mesmo, com os outros, com Deus e com a criação” (p. 132);

 

29) “pouco a pouco teremos que mudar a maneira de fazer catequese, sempre intensivas, alcançando as elites e as massas para alcançar uma fé lúcida e comprometida, mas através de grupos menores; será necessário envolver as famílias, a comunidade cristã e o uso das diversas plataformas virtuais, assim como o rádio, a televisão e outros recursos didáticos e espirituais (p. 133);

 

30) “é necessário levar em conta e estar atento ao fato de que o uso de mídias digitais não garante nem a comunicação e nem a comunidade. E nosso desafio é inventar novas formas de ação que vão além do ego, do desejo e do consumo, para crescer em comunidade” (p. 133-134). “Nestes tempos de confinamento em que o presencial não é possível, podemos cair no erro de acreditar que os recursos digitais têm um papel fundamental e que, em sua seleção e descoberta, está garantida a fecundidade e eficácia de nossa prática. Podemos até chegar a pensar que a veiculação de um conteúdo religioso através de um determinado recurso digital, contornando ilicitamente a identidade da pedagogia catequética, é a melhor catequese que podemos realizar nestes tempos. Pelo contrário, os recursos não resolvem a catequese, eles simplesmente a favorecem se forem adequadamente selecionados. Na complementaridade entre o essencial e o acidental, eles são colocados na esfera do acidental” (p. 141);

 

31) “neste contexto de mudança parcial ou total da COVID-19, a formação e atualização dos catequistas continue a ser fortalecida, para que eles possam perceber que nem tudo desmoronou, que não há saída para esta situação que não é um castigo de Deus; mas que, sem medo, vemos esta realidade como um desafio, uma oportunidade para construirmos juntos uma comunidade, para renovarmos nossa vocação, para crescermos em nossa percepção de Deus e para atualizarmos nossas formas de fazer catequese” (p. 134);

 

32) “a crise, vivida como uma oportunidade, nos convida a pensar, renovar e fortalecer os canais para cultivar uma espiritualidade de interioridade, através da catequese” (p. 138);

 

33) “a catequese deve privilegiar a autoformação dos catequistas, ajudando os leigos a amadurecerem em sua vida de fé; desta forma, os processos catequéticos de educação da fé obterão um futuro promissor” (p. 150-151);

 

34) “surgiu a necessidade prioritária de assumir uma catequese social que parta da gratuidade, da ternura e do serviço, como nos aponta o Papa Francisco, sendo capaz de curvar-se diante do irmão que pode ser servido lavando seus pés, dignificando o outro sem acreditar que servir é humilhante. Sem esperar nada em troca, oferecendo-se nas coisas mais simples e comuns. Indo ao essencial, porque fomos capazes de perceber como a vida é frágil, como nós seres humanos somos vulneráveis quando confrontados com um inimigo que é microscópico. Tudo 154 isso nos leva a aprender dia após dia que nossa vida, para ser educada na fé, deve ser deixada a Deus, abandonada em Suas mãos” (p. 153-154);

 

35) “a catequese é um desafio para anunciarmos que este Deus está agindo, encorajando, dirigindo, convertendo e transformando muitas pessoas” (p. 159);

 

36) “é a hora do discípulo, enviado à fronteira, a partir de sua profissão e responsabilidade social, vivendo o compromisso cristão de servir até o limite de suas forças. Este não é o momento para excesso de palavras. As máscaras não podem silenciar a alegre proclamação do testemunho cristão. Nossa catequese é chamada a aprender de Jesus e de sua maneira de se aproximar de cada pessoa, abaixando-se para lavar seus pés e secá-los com a toalha (cf. Jo 13,5). Perguntamos: estamos educando para viver uma “solidariedade desinteressada”? No testemunho de Jesus encontramos sua proximidade a todo sofrimento e dor, não buscando nada em troca (cf. Mt 6,2). A caridade ama livremente ou não será caridade” (p. 164);

 

37) a Igreja é chamada a parar e refletir sobre os desafios impostos pela realidade, as luzes e as sombras deste novo tempo histórico, social e eclesial, repensando o ministério da catequese não a partir da ortodoxia das fórmulas, da repetição mecânica ou das exigências rituais das celebrações, mas buscando um serviço atento ao crescimento da vida e da dignidade das pessoas. Esta situação revelou uma profunda falta de evangelização e de “criatividade pastoral” na comunicação e no anúncio do Evangelho de Jesus, especialmente junto ao mundo marginal e empobrecido. Diante desta situação, a Igreja e o ministério da catequese são chamados a prestar um serviço que promova um futuro com dignidade. Em continuidade com a eclesiologia latino-americana desenvolvida a partir de Medellín, que soube ouvir e ler o clamor histórico, o grito daqueles que exigem um serviço da Igreja que realiza “sua vocação de servidora da humanidade, humanizando-se a si mesma””, (p. 168-169);

 

38) “ministério da catequese poderá prestar um serviço que ajude a promover um futuro com dignidade e esperança, descobrindo nos pobres o lugar por excelência do encontro com o Deus Fiel, ajudando os pobres a serem protagonistas de seu próprio destino, libertando a vida ameaçada a fim de organizar juntos um futuro com dignidade. Um ministério catequético que não seja libertador das angústias e opressões históricas, sejam elas estruturais ou pessoais, e que não transforma a vida, levando-a a uma humanização plena da existência, dificilmente dará continuidade à causa de Jesus. Se todas as misérias humanas como expressão do pecado não forem libertadas por Jesus e transformadas em novas formas de relacionamento, então não estaremos em comunhão e continuidade com o Jesus revelado nos textos evangélicos, mas pelo contrário, o Senhor seria apenas um fantoche criado pelo interesse pelo poder e pela dominação”(p. 173).

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/604954-pandemia-e-catequese-depois-da-pandemia-que-catequese

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