domingo, 15 de agosto de 2021

REFLEXÃO DOMINICAL I

“A CULTURA DO ENCONTRO

- Na festa da Assunção, a liturgia nos propõe aprofundar o sentido do encontro a partir da contemplação deste horizonte inspirador: a Visitação. Os ícones que ao longo dos séculos expressam esta visita, esta saudação, nos apresentam duas mulheres vinculadas, unidas por um abraço, por um beijo, por uma mesma alegria. Em seu modo de entrar em comunhão, em sua maneira de dialogar e de se alegrar, elas se revelam mestras para nós. Nossa humanidade fragmentada, fragilizada é convidada a viver a "cultura do encontro".

- A cena apresentada por Lucas nos deixa na agradável e desafiante companhia de Maria e Isabel: duas mulheres, dois ventres cheios de vida; duas mulheres cheias de Deus; duas mulheres em um mesmo encontro. Ambas estão grávidas e de um modo surpreendente. As duas esperam filhos muito especiais. Sentem que carregam em seus ventres uma novidade que as supera. As duas têm um corpo abençoado e um ventre fecundo, sinal e realidade da ação de um Deus que é vida. Duas mulheres com duas missões diferentes: uma portadora do Messias, e outra, portadora daquele que preparará os caminhos. Por caminhos diferentes, as duas fizeram a experiência de Deus: uma em um seio virginal; a outra, em um seio seco e estéril. As duas, abertas para a graça e amor de Deus que se revela. No encontro entre as duas, elas descobrem e reconhecem o mistério de Deus na vida e na missão da outra e se reconhecem como parte desta história. 

- Nesta cena, Deus mesmo se faz presença no cotidiano e naquilo que socialmente não tem maior relevância, ou seja, a vida diária de duas mulheres: Maria e Isabel. Quebra-se assim a centralidade do Templo. Elas festejam as maravilhas do Senhor em um lugar simples, numa região montanhosa, num caminho e numa casa de família simples. O maravilhoso e extraordinário tem lugar no ordinário e humilde. Ali se acolhe e celebra a vida! Neste maravilhoso acontecimento tudo é encontro, junta-se o Antigo e o Novo Testamento, a juventude e a idade madura. As duas mulheres estão profunda e intimamente vinculadas entre si. Com elas e delas nasce o tempo novo: Reinado de Jesus. Elas nos conduzem a agradecer a capacidade feminina de deixar transparecer o Mistério que nos habita, de despertar-nos uns aos outros para essa vida cuja presença reconhecemos em nosso interior.

- Maria faz a experiência do "êxodo", ou seja, se põe a caminho para o serviço apressado à Isabel. Esta atitude começa em seu coração e ganha gesto concreto em seus pés. O amor põe o coração em caminho; o coração põe pressas aos pés. Amor, coração e pés se fazem serviço aos demais. Quando amamos, nossos pés se põem em caminho para levar a alegria aos outros. Nesta visita, encontro, todos os envolvidos saltam de alegria: João salta de alegria no ventre de Isabel; Isabel salta de alegria e extravasa seu júbilo ao ver a mãe do Salvador; Maria salta de alegria e entoa seu hino de reconhecimento e agradecimento, o Magnificat. Todos cheios do Espírito Santo pela presença do Senhor!

- A Visitação é, portanto, um convite a "cruzar montanhas", transpondo fronteiras que dividem em classe, cultura, raça, gênero, religião. "Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez a unidade" (Ef 2,14a) nos lembra a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano. Assim, esta Solenidade nos motiva a cruzar montanhas, saindo apressadamente para o encontro com o outro e, juntos, fazer a experiência da vida divina que habita em nós. Ser cristão é ser alguém sempre em saída; ser aqueles que levam a todos a Alegria do Evangelho.

http://diocesedesaomateus.org.br/wp-content/uploads/2021/06/15_08_21.pdf

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