"SERVIR
E ACOLHER"
No mundo de hoje são servidas e
acolhidas apenas as pessoas muito importantes, que detêm algum poder no âmbito
social, econômico – político, e até religioso. Jesus inverte este quadro quando
coloca no meio dos seus discípulos uma criança que é por ele acolhida e
abraçada, para exemplificar o ensinamento de que “quem quiser ser o primeiro,
que seja o último e o servo de todos”.
Essa lição, precedida de um exemplo, foi
necessária porque os discípulos não compreendem o ensinamento da lógica do
Reino, que se fundamenta em uma relação diferente das demais e pelo caminho se
questionam quem será entre eles o maior, pensando em uma relação a partir do
poder e domínio sobre o grupo.
Podemos nos relacionar com as pessoas
segundo a lei, as normas ou o formalismo, tratando-as como cada uma merece ser
tratada, mas não é este o modo do justo se relacionar, porque ele pauta suas
relações a partir da justiça de Deus, que nunca nos tratou segundo nossas
faltas, pois a sua misericórdia e o seu amor são sempre sem medida.
Essa relação justa que sempre compreende
e aceita o outro em suas necessidades, desmascara o amor da mediocridade, que
não é gratuito e nem incondicional, põe em evidência a frieza das relações
formais, marcadas pela aparência e farisaísmo. É um modo de viver que acaba
pondo a descoberto toda a maldade que o ímpio traz escondido dentro de si “Eis
que este menino foi posto para se revelar os pensamentos íntimos de muitos
corações” – dirá o velho Simeão aos pais de Jesus, na apresentação no templo.
Por isso vemos, na primeira leitura, que
a presença do justo incomoda porque o seu modo de viver e de se relacionar com
as pessoas não segue os padrões normais estabelecidos pelo interesse e
conveniência, mas sim segundo a Justiça de Deus. O justo não precisa de nenhuma
garantia prévia para agir assim, ele confia totalmente em Deus, que o libertará
das mãos dos seus inimigos. Enquanto os homens constroem seus projetos a partir
da firmeza das relações com os outros, o justo só precisa e tem necessidade de
uma coisa: Deus!
O tema do sofrimento, no segundo anúncio
da paixão nos introduz no evangelho desse domingo onde os discípulos não
compreendem e têm medo de perguntar.
Jesus, o Mestre de Israel, só fez o bem
a todos que o buscaram. Os discípulos esperam talvez por um reconhecimento
público o que poderia então dar início a uma “virada” na história. Mas as
palavras de Jesus causam um certo desconforto e mal estar entre eles.
A Fé coerente com o evangelho, diante da
qual precisamos mudar nossa mentalidade e nosso agir, não é de fácil
compreensão. Temos medo de pensar no sofrimento e no transtorno que isso nos
irá trazer. Podemos ser alvo de perseguições e incompreensões. A conversão não
é um bom negócio para quem colocou sua expectativa de felicidade nos valores do
mundo, na fama, no prestígio e no poder.
No tempo de Jesus crianças e mulheres
nem eram contados no censo, e ao abraçar uma criança, Jesus está mostrando que
os pequenos e sem valor, sem vez e nem voz, são os mais importantes diante de
Deus, invertendo a ordem estabelecida, pois estes que nunca são lembrados, que
nunca são servidos e acolhidos, são sempre os primeiros no Reino de Deus e quem
quiser ser discípulo fiel do Senhor deverá adotar a linha do serviço aos
pequenos, para que o seu seguimento seja autêntico.
Para isso temos de contar com a
sabedoria que vem de cima que é pura, pacífica, condescendente, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade ou fingimento, como nos ensina
Tiago na segunda leitura. Que a nossa Igreja – Assembleia dos que creem – seja
para toda essa massa de excluídos de nossa sociedade, uma porta aberta para
acolher e os servir. Assim seja!
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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