Estátua de Santo Agostinho no “Convento
Santo Agostinho”, Victória, Gozo, Malta.
Por Cláudio Fernandes
A teologia da história de Santo Agostinho acompanha sua
crítica à concepção clássica de tempo e está moldada pela doutrina cristã.
Agostinho de Hipona
(354-430), mais conhecido como Santo Agostinho, foi um
dos mais notórios teólogos e filósofos cristãos da História. Esteve no centro
da atividade intelectual e eclesiástica da transição da Idade Antiga para a
Idade Média, formou-se ainda na ambiência intelectual clássica (greco-romana) e
também viu o Império Romano cair em ruínas por motivos variados, como as
invasões bárbaras, o descontrole administrativo e a crise moral que se assentou
sobre a sociedade romana. Sua teologia da história, isto é,
suas interpretações sobre o sentido da história a partir da tradição e da
doutrina cristã, é fundamental para a compreensão de como era (e ainda é)
diferente a concepção cristã da História com relação às concepções clássicas.
Em obras como
a “Cidade de Deus”, “Confissões” e “Sobre a Trindade”, Santo
Agostinho expôs grande parte de sua concepção de História, que era fortemente
ancorada na doutrina da Igreja, mas também influenciada pela filosofia
neoplatônica de Plotino. A teologia da história de
Agostinho relacionava-se, fundamentalmente, com sua crítica à concepção pagã de
tempo. Para os pensadores do mundo antigo, os clássicos greco-latinos, o tempo
poderia ser representado por um Círculo, já que o
mundo era concebido como eterno em si mesmo, sempre se repetindo. Agostinho,
seguindo o cristianismo, concebia um tempo representado pela Cruz, isto é: a eternidade atravessa o tempo, incide
nele com a vinda de Cristo (Deus feito homem).
Nessa visão, o mundo
não pode ser eterno, pois o tempo, aquilo que é transitório e passageiro,
segundo Agostinho, foi criado junto com o mundo por Deus, que não é temporal,
mas eterno. Associa-se a essa crítica ao tempo pagão a visão judaico-cristã da
própria história que Agostinho absorveu. Tanto para a tradição judaica como
para a cristã a história tem um sentido que o Criador traçou para a criação. Um
sentido que vai do Gênesis ao Apocalipse. Para os cristãos e, em especial, para
a teologia da história agostiniana, esse destino pode ser compreendido
como história da salvação.
Sendo assim, a
doutrina pagã estava perdida, segundo Agostinho, pois lhe faltavam as virtudes
cristãs da esperança e fé, que estavam relacionadas com o tempo futuro e com a
crença na promessa de vida eterna em outro mundo – promessa essa firmada com o
sacrifício de Cristo para a salvação da humanidade. Para Agostinho, isso não
pode ser confundido com a doutrina de que há eternidade no mundo (neste mundo),
na crença de que esse mundo é cíclico, um “eterno retorno”, no qual tudo se
repete, sem princípio nem fim. Como diz um estudioso das visões sobre a história,
Karl Löwith:
“O que importa
verdadeiramente na história, segundo Santo Agostinho, não é a grandeza
transitória dos impérios, mas a salvação e a condenação num mundo que há de
vir. A perspectiva fixa de que partiu [Agostinho] para a compreensão de acontecimentos
presentes e passados é a consumação final do futuro: o juízo final e a
ressurreição. Este objetivo final é a contrapartida do primeiro começo da
história humana na criação e no pecado original. Relativamente a estes aspectos
supra-históricos da origem e do destino, a própria história em si é um ínterim
entre a revelação passada do sentido sagrada e a sua realização futura.”
(Löwith, Karl. O Sentido da História. Lisboa:
Edições 70, pp. 169.)
Agostinho sempre procurou identificar o processo histórico, o saeculum (mundo), como um projeto predeterminado por Deus e procurou também justificar Deus na história, vendo o desenvolvimento do ser humano no mundo como uma experiência necessária para que se cumprisse a história da salvação.
https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/a-teologia-historia-santo-agostinho.htm
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