Jo 2, 1-11: AS BODAS DE
CANÁ
Terminado o ciclo do
Natal, o calendário cristão nos introduz no “tempo comum”. É uma sucessão de
domingos ao longo do ano nos quais vamos lendo os acontecimentos e refletindo
sobre os ensinamentos de Jesus relatados nos Evangelhos. Neste ano esta sequência
de domingos começa com aquele episódio das Bodas em Caná da Galiléia. Jesus,
sua mãe, os apóstolos eram convidados. Em dado momento faltou o vinho. Maria se
preocupou com os noivos e informou o Filho. Ele em resposta mudou a água em
vinho. Eis o resumo do acontecimento. O que ele nos ensina?
Esta é uma página de São João rica de
simbolismos. A Bíblia usa muitos símbolos a fim de descrever a felicidade que
vem de Deus. A realização feliz do projeto de Deus a nosso respeito é comparada
à experiência de uma grande alegria partilhada por todos. Exemplo: num
banquete; no festim da vitória após a guerra. Mais frequentemente ainda, a
alegria de um casamento. No pensamento bíblico-cristão a vida humana na terra
deveria ser como uma festa de casamento: cheia de alegria. Vida com fartura de
bens acessíveis a todos. O cerne do evangelho é a “boa notícia”, ou seja, a
novidade inaudita, alegre, o anúncio da vida como uma festa de comunhão. É isto
que a nossa Igreja prega e procura realizar por sua presença evangelizadora no
meio dos homens. Apesar do preconceito de seus adversários que a criticam
dizendo: a Igreja católica é contra o prazer, o gozo da vida. Uma inverdade.
Todo prazer humano legítimo, toda alegria sadia, todo gozo de vida honesto
estão dentro do Projeto de Deus revelado por Jesus no Evangelho. Neste sentido,
a narrativa das Bodas de Caná, texto de São João para o 2º domingo do tempo
comum, é bem ilustrativa. E é profundamente teológica.
Ter
fé em Jesus é experimentar uma vida plena e feliz.
O evangelista João é um profundo pensador cristão, um teólogo perito no A.T., e um catequista zeloso da comunidade cristã. Seu primeiro interesse não é o milagre, a mudança da água em vinho. Este é apenas um meio que nos leva a compreender Jesus, o seu mistério, o significado de sua hora e também do papel de Maria na missão do Filho. No milagre está o sinal de algo sublime. Ter fé em Jesus é experimentar uma vida plena e feliz. Isto é possível ao homem porque Jesus muda nossa condição de pecadores. Ao revelar-nos o amor de Deus, realiza a nossa comunhão de vida com ele. É o início de uma nova criação. Uma nova aliança. A água mudada em vinho para que não faltasse alegria na festa, significa tudo isso. As Bodas de Caná, onde ninguém tem nome, nem os noivos, nem os apóstolos, mas só Jesus e Maria, representam a festa de Deus para a qual somos todos convidados. Enquanto Jesus não tinha chegado, a vida humana era vazia como as talhas sem água. Ele veio como um vinho da melhor qualidade, renovando nossa aliança com Deus.
Os simbolismos continuam: as seis talhas
de água vazias, usadas nos ritos de purificação religiosa dos judeus, são uma
referência de João ao fim da antiga Lei. Vazia da comunhão com Deus! A prática
religiosa mosaica tornara-se estéril, infecunda, sem a alegria da salvação. Aí
chegou Jesus e ele substituiu o sentido religioso do Templo. Ele é o novo
Templo ou o verdadeiro lugar onde podemos adorar a Deus e sermos por Ele
purificados. A graça dada a nós por Deus em Jesus é simbolizada pelo vinho excelente,
servido nas Bodas após a mudança da água nele. Até o encarregado da festa, o
dono do “buffet” ou o mordomo, ignorava de onde viera aquele vinho mas
reconhecia que era o melhor. Também ele representa aqui a religião oficial
superada. Por seu lado, os noivos foram salvos de um vexame e ficou garantida a
plena alegria dos convivas. Ou seja, com Jesus, o Messias, começou um
relacionamento novo, um novo tempo, uma nova ordem. É a da realidade humana
vazia e triste, mudada e transformada pela alegria de Deus, alegria amorosa
como aquela da comunhão de vida dos noivos.
Aplicação Mariana
Maria conhece o alcance da misericórdia de Deus para toda a nossa vida e não fica indiferente ao nosso rogo.
Como podemos compreender a intervenção de Maria nas Bodas de Caná? Ela é a mulher modelo de uma nova geração. Substitui a Eva pecadora e é ao mesmo tempo exemplo de discípula para todos nós. Por isso pode recomendar aos outros: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Porque “ninguém como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne” [1]. Maria conhece o alcance da misericórdia de Deus para toda a nossa vida e não fica indiferente ao nosso rogo.
Entendemos, também, Maria como o modelo, o arquétipo da Igreja-Mãe que neste Ano do Jubileu da Misericórdia, quer mostrar, pelo seu acolhimento materno, que Deus jamais se cansa de perdoar. Diz o Papa Francisco: “Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós” [2].
[1] PAPA FRANCISCO. Misericordiae Vultus. Art 24.
[2] Ibidem, Art.5
https://www.a12.com/academia/grao-de-trigo/bodas-de-cana-homilia-2o-domingo-do-tempo-comum
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