Papa Francisco
... Na
narração que ouvimos, aparece um contraste evidente: por um lado, temos o medo
dos discípulos, que fecham as portas da casa; por outro, a missão, por parte de
Jesus, que os envia ao mundo para levarem o anúncio do perdão. O mesmo
contraste pode verificar-se também em nós: uma luta interior entre o fechamento
do coração e a chamada do amor para abrir as portas fechadas e sair de nós
mesmos. Cristo, que por amor entrou nas portas fechadas do pecado, da morte e
da mansão dos mortos, deseja entrar também em cada um para abrir de par em par
as portas fechadas do coração. Ele que venceu, com a ressurreição, o medo e o
temor que nos algemam, quer escancarar as nossas portas fechadas e enviar-nos.
A estrada que o Mestre ressuscitado nos aponta é estrada de sentido único,
segue-se apenas numa direção: sair de nós mesmos, sair para testemunhar a força
sanadora do amor que nos conquistou. Muitas vezes vemos, diante de nós, uma
humanidade ferida e assustada, que tem as cicatrizes do sofrimento e da
incerteza. Cada doença pode encontrar na misericórdia de Deus um auxílio
eficaz. Com efeito, a sua misericórdia não se detém à distância: quer vir ao
encontro de todas as pobrezas e libertar de tantas formas de escravidão que
afligem o nosso mundo. Quer alcançar as feridas de cada um, para medicá-las.
Ser apóstolos da misericórdia significa tocar e acariciar as suas chagas,
presentes hoje também no corpo e na alma de muitos dos seus irmãos e irmãs. Ao
cuidar destas chagas, professamos Jesus, tornamo-Lo presente e vivo; permitimos
a outros que apalpem a sua misericórdia, e O reconheçam “Senhor e Deus” (cf. Jo
20, 28), como fez o apóstolo Tomé. Eis a missão que nos é confiada. Inúmeras
pessoas pedem para ser escutadas e compreendidas. O Evangelho da misericórdia,
que se deve anunciar e escrever na vida, procura pessoas com o coração paciente
e aberto, «bons samaritanos» que conhecem a compaixão e o silêncio perante o
mistério do irmão e da irmã; pede servos generosos e alegres, que amam
gratuitamente sem nada pretender em troca. “A paz esteja convosco!” (Jo 20,
21): é a saudação que Cristo leva aos seus discípulos; é a mesma paz que
esperam os homens do nosso tempo. Não é uma paz negociada, nem a suspensão de
algo errado: é a sua paz, a paz que brota do coração do Ressuscitado, a paz que
venceu o pecado, a morte e o medo. É a paz que não divide, mas une; é a paz que
não deixa sozinhos, mas faz-nos sentir acolhidos e amados; é a paz que
sobrevive no sofrimento e faz florescer a esperança... ” (Papa Francisco,
Homilia de 3 de abril de 2016).
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