O mistério da Santíssima Trindade
Felipe Aquino
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Deus se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem nos revelou este mistério. Ele falou do Pai, do Espírito Santo e d’Ele mesmo como Deus. Logo, não é uma verdade inventada pela Igreja, mas revelada por Jesus. Não a podemos compreender, porque o Mistério de Deus não cabe em nossa cabeça, mas é a verdade revelada.
Santo Agostinho (†430) dizia: “O Espírito
Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação eterna deste último
ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão” (A Trindade, 15,26,47).
Só existe um Deus, mas n’Ele há três Pessoas
divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Não pode haver mais que um Deus,
pois este é absoluto. Se houvesse dois deuses, um deles seria menor que o outro,
e Deus não pode ser menor que outro, pois não seria Deus.
A Santíssima Trindade é
Una
Não professamos
três deuses, mas um só Deus em três Pessoas: A Trindade consubstancial (II Conc.
Constantinopla, DS 421). O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o
Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um
só Deus por natureza (XI Conc. Toledo, em 675, DS 530). Cada uma das três pessoas
é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina (IV Conc.
Latrão, em 1215, DS 804).
A Profissão de Fé do Papa Dâmaso diz: Deus
é único, mas não solitário (Fides Damasi, DS 71). Pai, Filho, Espírito Santo não
são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente
distintos entre si: “Aquele que é Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não
é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho” (XI Conc. Toledo,
em 675, DS 530). São distintos entre si por suas relações de origem: É o Pai que
gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede (IV Conc. Latrão, e, 1215,
DS 804).
A Igreja ensina que as Pessoas divinas são relativas umas às outras.
Por não dividirem a unidade divina, a distinção real das Pessoas entre si reside
unicamente nas relações que as referem umas às outras:
Nos nomes relativos das Pessoas, o Pai é
referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois; quando se fala dessas
três Pessoas, considerando as relações, crê-se, todavia, em uma só natureza ou substância
(XI Conc. Toledo, DS 675). Tudo é uno [n’Eles] lá onde não se encontra a oposição
de relação (Conc. Florença, em 1442, DS 1330). Por causa desta unidade, o Pai está
todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro
no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo
inteiro no Filho (Conc. Florença, em 1442, DS 1331).
Aos Catecúmenos de Constantinopla,
S. Gregório Nazianzeno (330-379), “o Teólogo”, explicava:
Antes de todas as coisas, conservai-me este
bem depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar
todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai
e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que, daqui a pouco,
vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona
de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que existe Una nos Três,
e que contém os Três de maneira distinta. Divindade sem diferença de substância
ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe […]. A
infinita conaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si mesmo é Deus
todo inteiro […]. Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade,
e a Trindade me banha em Seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a unidade
toma conta de mim (Or. 40,41).
O primeiro
Catecismo, chamado “Didaqué” do ano 90 dizia:
“No que diz
respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo
em água corrente. Se não houver água corrente, batizai em outra água; se não puder
batizar em água fria, façais com água quente. Na falta de uma ou outra, derramai
três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Didaqué
7,1-3).
O que dizem os santos?
São Clemente de Roma, Papa no ano 96, ensinava:
“Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça” (Carta aos Coríntios 46,6). “Como Deus
vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo” (Carta aos Coríntios 58,2).
Santo Inácio, bispo de Antioquia (107), mártir
em Roma, afirmava: “Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo
guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o Espírito Santo como corda” (Carta
aos Efésios 9,1).
“Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos
do Senhor e dos Apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito,
na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao
vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros
e diáconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e também uns aos outros, assim
como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteram a
Cristo, ao Pai e ao Espírito, a fim de que haja união, tanto física como espiritual”
(Carta aos Magnésios 13,1-2).
São Justino, mártir no ano 151, escreveu
essas palavras ao imperador romano Antonino Pio: “Os que são batizados por nós são
levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o
fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo,
e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos
apóstolos” (I Apologia 61).
São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo
de São João evangelista, mártir no ano 156, declarou: “Eu te louvo, Deus da Verdade,
te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote
no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos
séculos futuros! Amém” (Martírio de Policarpo 14,1-3).
Teófilo de Antioquia, ano 181, confirmou:
“Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade:
de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua Sabedoria [=Espírito Santo]” (Segundo
Livro a Autólico 15,3).
S. Irineu de Lião, ano 189, afirmou: “Com
efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos
apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e
a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus,
encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou
a economia de Deus […]” (Contra as Heresias I,10,1).
“Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o
Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente
junto d’Ele antes de toda a criação” (Contra as Heresias IV,20,4).
Tertuliano, escritor romano cristão, no ano
210: “Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a fórmula: ‘Ide, ensinai os
povos batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo'” (Do Batismo 13).
E o Concílio de Nicéia,
ano 325, confirmou toda essa verdade:
“Cremos […] em um só Senhor Jesus Cristo,
Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus
de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial
com o Pai, por quem foi feito tudo que há no céu e na terra. […] Cremos no Espírito
Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado
e glorificado, o qual falou pelos Profetas” (Credo de Nicéia).
(*) Professor Felipe Aquino
é viúvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da
Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”.
Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior.
Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor:
www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino
https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/o-misterio-da-santissima-trindade/
Nenhum comentário:
Postar um comentário