COMO VIVER A TRINDADE?
Deus é “o Transcendente”
JOSÉ MARÍA
CASTILLO
Teólogo
espanhol
Frequentemente, acontece que as pessoas de Igreja não levem em conta algo que é inteiramente fundamental. A saber, que Deus é o Transcendente. Ou seja, que não está ao nosso alcance. Nem o conhecemos. Nem podemos conhecê-lo.
É isso que os teólogos repetiram insistentemente quando disseram que «Deus é sempre mais» (latim: Deus semper maior) de quanto nós, seres humanos, podemos pensar sobre Ele. Essa expressão é uma fórmula que busca expressar nossa incapacidade para alcançar o conhecimento do ser mesmo de Deus, ou seja, de como é Deus em si.
Isso não é possível a nós, os mortais. O problema com o qual se deparou a teologia cristã foi o problema de sua própria incoerência. Porque, de um lado, temos afirmado que Deus é o que nos transcende (= ultrapassa). Porém, ao mesmo tempo, pusemo-nos a explicá-lo como se o conhecêssemos. Quem sabe, nisso se manifestou o nosso anseio de encontrar o que nunca, nesta vida, poderemos conhecer.
É verdade que, no Novo Testamento, Deus se revela como Pai, como Jesus o Filho, como Espírito. Disso, a teologia deduziu que em Deus há três pessoas realmente distintas, que, no entanto, são um mesmo e único Deus. No fundo, não é questão de números, mas o desejo e a necessidade de intercomunicação e de doação mútua, que os seres humanos têm e que queremos ver em Deus, como modelo exemplar de nossa mútua doação.
Karl Rahner (1904-1984: teólogo jesuíta alemão) falou, ao explicar este complicado assunto, da Trindade imanente (aquela que não podemos alcançar) e da Trindade econômica (aquela que está ao nosso alcance porque nela encontramos o modelo de entrega mútua entre nós).
Não se trata, neste dia, de entender o que jamais poderemos
compreender. Trata-se de ver, na doação, na igualdade, na comunicação
das pessoas divinas, o modelo exemplar do que deve ser nossa convivência. Viver
para os demais. Uma vida que é dom e comunicação. Jamais solidão, nunca isolamento,
sempre abertura e claridade. Fé em Deus tornada ética daquilo que existe para os
outros.
Como viver a Trindade?
O PAI é o mistério insondável de amor que dá origem a tudo o que existe. Ele é a fonte oculta que não tem origem e da qual nasce todo o bem, o belo e misericordioso. N’Ele começa tudo o que é vida e amor. O Pai não sabe senão dar-se e dar gratuitamente e sem condições. Ele é assim. Ele está conduzindo tudo à vitória definitiva da VIDA.
Crer em um Deus Pai é saber-se acolhido. Deus aceita-me como sou. Somente quer minha vida e minha felicidade eterna. Posso viver com confiança e sem temor. Não conhecerei a experiência mais terrível e insuportável para um ser humano: sentir-se rejeitado por todos, não ser aceito por ninguém. Deus é meu Pai. Jamais serei um estranho para Deus, mas um filho.
O FILHO existe recebendo-se totalmente do Pai. Ele é assim. Pura acolhida, resposta perfeita ao Pai, reflexo de seu amor. Por isso, não se apropria de nada. Recebe a vida como presente e a difunde sobre nós e a criação inteira. O Filho é nosso irmão mais velho, aquele que nos revela o rosto verdadeiro do Pai e nos ensina o caminho até Ele.
Crer em um Deus Filho é saber-se acompanhado. Não estamos sozinhos diante de Deus, perdidos e desorientados, sem saber como situar-nos perante o seu mistério. O Filho de Deus feito homem ensina-nos a viver acolhendo e difundindo o amor do Pai. Enraizados n’Ele não conheceremos a experiência destruidora da solidão. Quem não sabe receber amor, não sabe o que é viver. Quem não sabe dar amor, morre-se.
O ESPÍRITO SANTO é a comunhão do Pai e do Filho, abraço recíproco, amor compartilhado, compenetração mútua. Ele é assim. Transbordamento do amor, força criadora e renovadora, energia amorosa que tudo transforma.
Crer em Deus Espírito Santo é saber-se habitado pelo amor. Não estamos vazios e sem núcleo interior, indefesos diante de nosso próprio egoísmo. Habita-nos o dinamismo do amor. O Espírito nos mantém em comunhão com o Pai e com o Filho. Ele nos consola, nos renova e mantém vivo em nós o desejo de Deus reinando em um mundo mais humano e fraterno.
Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fontes: CASTILLO, José María. La religión de Jesús: comentario al evangeliodiario
– Ciclo C (2018-2019). Bilbao: Desclée De Bouwer, 2018, páginas 237-238; Sopelako
San Pedro ApostolParrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola –
Ciclo C (Homilías)
Nenhum comentário:
Postar um comentário