Santo Agostinho não
propõe a morte como fim da vida e não transmite sentimentos de incerteza,
desespero ou terror que comumente são ligados a esse evento. Ele vê a
morte como uma condição natural, como uma passagem ou uma transformação do
estado da vida a um estado diferente, mas natural, que mantém
sua continuidade com a existência terrena.
A morte não é o fim
Agostinho fala da
pessoa falecida como alguém que alcançou uma espécie de condição superior:
“aqueles que nos deixaram (…) têm os olhos repletos de glória fixos nos
nossos repletos de lágrimas”.
Uma presença
constante que só se tornou invisível aos nossos olhos, mas que, na
realidade, está muito perto de nós: “não estão distantes: estão do outro
lado, virando a esquina”.
Santo Agostinho,
embora seja um Padre da Igreja, não faz referências a prêmios ou
punições divinas, mas fala da relação entre as pessoas que passaram
para o outro lado e aquelas que ficaram, evidenciando ainda a relação
forte que permanece, ao ponto que “um sorriso” do vivo se torna “a paz” da
pessoa que não está mais
Alguns pensamentos de Santo Agostinho a respeito dessa
passagem para a Eternidade:
“Reencontrarás o meu coração, reencontrarás nele a
ternura purificada. Enxuga tuas lágrimas e não chores, se me amas: o teu
sorriso é a minha paz.”
“O meu nome seja sempre a palavra familiar de antes:
pronunciai-o sem o mínimo sinal de sombra ou de tristeza.”
“Aqueles que nos deixaram não estão ausentes; são
invisíveis, têm seus olhos repletos de glória fixos em nossos repletos de
lágrimas.”
“Se amas a vida e temes a morte, este mesmo temor da
morte é como um inverno diário.”
“A nossa vida conserva todo o significado que sempre
teve: é a mesma de antes; existe uma continuidade que não se rompe.”
“O horror da morte
não nasce da fantasia, mas da natureza.”
“Aqueles que amamos e que perdemos não estão mais
onde estavam antes, mas estão onde quer que estejamos.”
“Não podemos viver o quanto queremos, e morreremos
mesmo se não quisermos.”
“Por que eu deveria estar fora de teus pensamentos e da
tua mente, só porque estou fora da tua vista? Não estou distante, estou do
outro lado, logo virando a esquina. Tranquiliza-te, está tudo bem.”
“A morte não é nada. Apenas fiz a passagem para o outro lado:
é como se estivesse escondido no quarto ao lado. Eu sempre serei eu e tu
serás sempre tu. O que éramos antes um para o outro o somos ainda.”
A morte não é nada
(Santo Agostinho)
A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
Trecho extraído do livro “Superando a dor da perda de quem você ama“, de padre
Licio Vale e Rodrigo Luiz dos Santos
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