sábado, 13 de agosto de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL I

 

REFLEXÃO DOMINICAL I

 

Opção por ou contra Cristo

 

Sempre falando no Fim, Lc traz, no evangelho de hoje, a palavra de Jesus dizendo que veio trazer fogo à terra. Palavra que deixa transparecer ainda a participação de Jesus na efervescência escatológica de seu tempo (como aquela outra: 10,18: “Eu via Satanás cair do céu qual relâmpago!”). Jesus não era um desses teólogos que falam com termos assépticos. Partilhava a linguagem apocalíptica de seu tempo. Experimentava o Reino de Deus como uma força que vinha sobre ele. Por isso, não diz apenas que ele deve administrar um batismo de fogo (cf. 3,16), mas que ele mesmo deve ser imerso neste batismo escatológico; e como o deseja (12,50)! O Espírito de Deus veio sobre Jesus como fogo, ele viveu na obediência, recebeu sua missão escatológica, na fé e na esperança. E, por isso, é mais ainda nosso Redentor: porque ele é o protótipo de nossa fé. Podemos crer com ele. A fé não nos separa de Jesus, colocando-o do outro lado, como “objeto”. Somos com ele co-sujeitos da sua fé: ouvintes da palavra do Pai.

 

2ª leitura nos propõe, exatamente, Jesus como o supremo exemplo de fé (depois de Hb 11 ter oferecido todo um elenco de exemplos; cf. dom. pass.). Ele é o autor e consumidor de nossa fé. Como ele assumiu sua “corrida” e, transformado em sinal de contradição para o mundo, a levou corajosamente até o fim, nós também a devemos assumir e percorrer até o fim. Com Cristo, corremos ao encontro do Pai. Ele nos precedeu, por assim dizer, em nossa corrida.

Esta corrida é um certame. Coloca-nos numa posição dialética face ao mundo. Também nisso, Jesus €nosso exemplo: não veio trazer a paz – pelo menos não como a gente pensa – e sim a divisão (Lc 12,51); é sinal de contradição (Hb 12,3), como foram os profetas antes dele, especialmente Jeremias (1ª leitura). Nós esperamos facilmente uma paz que se imponha (graças a uma autoridade forte, um regime inabalável etc.). Jesus vem propor uma paz baseada na adesão e livre escolha; apela para a liberdade; portanto, abre também o caminho para o desacordo; pois não força ninguém a estar de acordo com ele. Ninguém pode ser forçado a amar o próximo como a si mesmo, isto é, dar-lhe a preferência quando preciso (pois isso é amar…). Ninguém pode ser forçado a entregar livremente sua vida por amor. .. Contudo, nisto consiste a paz que Jesus vem propor. Proposta que divide as pessoas em pró e contra, mesmo no seio da própria família. No momento em que Lc escrevia, isso era dura realidade, pois já tinham iniciado as perseguições contra os cristãos.

Para Lc, tudo isso são “sinais do tempo” (12,54ss, sequência da leitura de hoje). Sinais do tempo decisivo, em que também Deus tomará partido. Nós somos hoje sinais de contradição no mundo (e ai de nós se não o formos, pois este mundo não é compatível com Deus!). Devemos considerar isso como uma “situação escatológica”. A controvérsia em redor do ser cristão no mundo de hoje é um sinal do tempo da escolha; escolha do homem em favor ou contra Cristo, escolha de Deus em favor ou contra os que, com Cristo, querem ser seus filhos, ou não. Escolher entre o amor de Deus e o do mundo é a dimensão escatológica permanente do ser cristão.

Será que os cristãos devem então ser menos humanos? Gente carrancuda, eternos insatisfeitos? Insatisfeitos, sim (quem poderia estar satisfeito com a sem-vergonhice solta por aí?); carrancudos, não, pois é por amor ao mundo que estão insatisfeitos. Por paixão … padecem.

Por paixão, jovens escolhem profissões pouco lucrativas, para melhor servir seus irmãos deserdados, e ficam eles mesmos deserdados por seus pais. Por paixão, um bispo intelectual, Dom Romero, se toma porta-voz dos oprimidos e é ele mesmo suprimido. “Vim trazer a divisão…”

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Mensagem: Ser Cristão não é pacífico

Este homem não é um cristão; é um herege, um revolucionário, um comunista!”

Será que um cristão não pode ser revolucionário? Será que cristão é sinônimo de “comportadinho”?

Jesus diz que não veio trazer a paz e sim a divisão; veio lançar fogo sobre a terra (evangelho)! A I a leitura nos mostra o profeta Jeremias como sinal de contradição, prefiguração do Cristo. Tudo isso é muito diferente do cristianismo bem comportado que nos foi ensinado.

Jesus exige opção. Não é possível ficar em cima do muro. Um exemplo: a filha de um industrial quer dedicar-se aos pobres, mas não de modo assistencialista, distribuindo esmolas, pois isso seria como encher um balde furado: o que ela colocaria dentro desse balde, o sistema econômico sustentado por seu pai o tiraria (inflação, arrocho salarial etc.). Por isso, decide lutar contra este sistema. Entra em choque com o próprio pai, por mais que goste dele.

Um operário tem quatro filhos a sustentar. São inteligentes. Poderia encaminhá-los para o colégio militar. Mas ele é militante do sindicato. Seus filhos só serão aceitos se ele desistir do engajamento sindical. Conflito. Tem que escolher entre estudo de graça para os filhos ou fidelidade ao sindicato e a causa dos operários.

Zé é artista. Vive num mundo onde a imaginação e os costumes andam soltos. Mas ele quer ser o homem realmente dedicado à sua família e também à arte, como expressão da realidade da vida e de seus melhores valores. Vai conhecer o conflito.

Optar pelo evangelho, a boa-nova do “projeto de Deus” que vem beneficiar os pobres, não é coisa pacífica. Seria simples, se Deus destinasse a uns para serem pobres e trabalharem, e a outros para serem ricos, usufruírem e darem esmolas … Mas Deus não faz assim. Quem faz os pobres e os ricos somos nós mesmos. Mas então, temos também a responsabilidade de desfazermos essas gritantes desigualdades que vemos em nosso redor. Fazer com que haja nem pobres nem ricos, mas somente irmãos. Esta é a responsabilidade que Deus nos confia. É uma opção diferente daquela que a sociedade nos propõe. É a opção de Deus. E custa muita luta.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

 

https://diocesejacarezinho.org/2016/08/20o-domingo-do-tempo-comum-ano-c/

 

 

 

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