Economia
e política: análise do cenário eleitoral no Brasil
Por JOSÉ MATIAS-PEREIRA (*)-
A corrida eleitoral
para a eleição presidencial no Brasil entrou na sua fase decisiva no dia 16
último, com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão. No
dia 2 de outubro uma grande parcela dos mais de 156 milhões de eleitores aptos
a votar estarão diante das urnas para escolher o presidente que vai governar o
país no período de 2023-2026. Caso ocorra um eventual segundo turno, a escolha
será decidida pelos eleitores no dia 30 de outubro de 2022.
Nesta eleição, que
conta com candidatos à presidente de vários partidos políticos, o país terá
pela primeira vez uma disputa na qual estarão presentes um presidente em
exercício e um ex-presidente. Trata-se de um embate entre dois candidatos com
visões distintas na forma de governar: o presidente Bolsonaro se encontra num
espectro político à direita, e o ex-presidente Lula à esquerda. Considerando
que ambos ocuparam o mesmo cargo, é previsível que os embates vão se concentrar
nas comparações de desempenho econômico — redução da taxa de desemprego, queda
na inflação e crescimento do produto interno bruto (PIB) —, estabilidade
política, fortalecimento das instituições, democracia e corrupção.
No plano externo, o
debate estará centrado na crise provocada pela pandemia de covid-19, que
continua impactando, de forma desigual, as economias da maioria dos países. A
revisão das projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI, jul.
2022), indica que o crescimento mundial deverá cair de 3,6% para 3,2% em 2022,
em decorrência da piora no cenário internacional, notadamente pela inflação
mais elevada em todo o mundo, desaceleração do crescimento da China e
repercussões negativas da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Para o FMI o mundo
poderá em breve estar à beira de uma recessão global.
No referido relatório
do FMI, o Brasil aparece na contramão do mundo, visto que a taxa de crescimento
do PIB estimada do país no corrente ano foi aumentada de 0,8% para 1,7%. Por
sua vez, o mercado projeta um crescimento do PIB de 2% e a inflação deverá
fechar o ano próximo de 6,5%. Registre-se que, a taxa de desemprego no Brasil
recuou para 9,3% no segundo trimestre de 2022 (IBGE). É o menor patamar para o
período desde 2015.
Constata-se, com base
nos dados do IBGE no período de 1998 a 2018, que governos que tiveram índices
de inflação e desemprego abaixo de dois dígitos conseguiram se reeleger ou
fazer seu sucessor. Esse foi o caso da reeleição de Fernando Henrique Cardoso
(FHC) em 1998 encerrou o seu primeiro mandato com o IPCA em 1,6%, e a taxa de
desemprego em 7,8%. Apesar de entregar um baixo crescimento do PIB em 1998 de
0,10%, FHC capitalizou eleitoralmente a seu favor o fato de controlar a
inflação (Plano Real). Registre-se que, no final do seu segundo mandato, em
2002 a inflação alcançou 12,5% e o desemprego 11,7%. Naquele ano FHC não
conseguiu eleger o seu candidato, José Serra.
Constata-se
que o cenário de desfavorável na economia no final do segundo governo FHC foi
decisivo para a eleição de Lula em 2002. Lula, que foi reeleito em 2006,
concluiu o primeiro mandato com o IPCA em 3,1% e o desemprego de 8,4%. No final
do seu segundo governo, em 2010, o IPCA alcançou 5,9% e o desemprego de 6,7%, o
que viabilizou a eleição de sua candidata, Dilma Rousseff.
Em
2014 Dilma terminou o seu governo com o IPCA 6,4% e com o desemprego em 4,3%.
Foi reeleita, mas não conseguiu concluir o mandato. A pior recessão econômica
vivenciada pelo Brasil no biênio 2015-2016, que resultou numa queda de 3,8% do
PIB em 2015, e de 3,6% em 2016, refletiu no aumento da instabilidade política
no país, o que contribuiu para o seu afastamento da presidência da República
(impeachment) no final de agosto de 2016. Em 2018, o presidente Michel Temer,
mesmo tendo a inflação sob controle (3,7%), apresentava uma taxa de desemprego
elevado (11,7%), agravado por um ambiente político bastante instável. Seu
candidato, Meirelles, perdeu. Nesse ambiente de turbulência política e
econômica foi eleito o atual presidente, Jair Bolsonaro.
O
tema corrupção também não pode ser desconsiderado nessa eleição presidencial.
Os adversários do ex-presidente Lula sabem que reavivar na memória dos
eleitores os custos dos escândalos revelados nos julgamentos do Mensalão e da
Lava-Jato tenderá a contribuir para a elevação do percentual de sua rejeição,
em particular, junto aos eleitores indecisos.
Verifica-se
que o crescimento econômico e a estabilidade política estão interligados em
vários níveis. Conforme evidencia a análise dos indicadores econômicos no
período de 1998 a 2018, a queda da inflação e do desemprego, aos quais se pode
agregar os efeitos benéficos na economia dos programas de transferências de
renda para as populações mais pobres, são variáveis relevantes na corrida
eleitoral, pois contribuem para a geração de uma sensação de bem-estar na
população, que fica mais otimista com o futuro do país e sua situação
financeira. Pode-se afirmar, assim, apoiado na estreita relação que existe
entre economia e política, que o desempenho da economia será fator decisivo
para a escolha do presidente da República nas eleições de 2 de outubro próximo.
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