DISCURSO DE LULA LOGO APÓS A VITÓRIA NAS URNAS
Após vencer a disputa pela Presidência da República com 50,90% dos votos
no domingo (30), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez dois discursos
da vitória na capital paulista.
O presidente eleito fez um pronunciamento em um hotel em São Paulo, após a
confirmação do Tribunal Superior Eleitoral. Depois, discursou para milhares que celebravam a vitória do petista na
Avenida Paulista.
Aos apoiadores, Lula disse que a
vitória é de todos que "amam a democracia" e "querem um país
mais justo". Lula afirmou também que a eleição dele representa a derrota
do "autoritarismo e do fascismo".
Meus amigos e minhas amigas.
Chegamos
ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição
que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um
único e grande vencedor: o povo brasileiro.
Esta
não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa
campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima
dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a
democracia saísse vencedora.
Neste
30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que
deseja mais – e não menos democracia.
Deseja
mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e
não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais –
e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.
O
povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado
de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das
decisões do governo.
O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de
apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é
insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação,
que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há
nenhuma perspectiva de futuro.
O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um
bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e
educação públicas de qualidade.
Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao
teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura
alimenta nossa alma.
O
povo brasileiro quer ter de volta a esperança.
É
assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita
na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no
dia-dia.
Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro
escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós
assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.
E
é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo.
Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que
a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e
não para perpetuar desigualdades.
A
roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos
salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de
compra.
A
roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento.
Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos
alimentos que chegam às nossas mesas.
Com
todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que
eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do
desenvolvimento do país.
É
preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as
mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no
exercício de igual função.
Enfrentar
sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos,
negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.
Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário,
cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.
Um
Brasil com paz, democracia e oportunidades.
Minhas
amigas e meus amigos.
A partir
de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não
apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único
país, um único povo, uma grande nação.
Não
interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir
de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação
criminosa do ódio.
A ninguém
interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.
Este país
precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está
cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.
É hora de
baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós
escolhemos a vida.
O
desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões.
Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas
relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.
É preciso
reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a
solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.
Trazer de volta a alegria de
sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da
bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a
ninguém, a não ser ao povo brasileiro.
Nosso compromisso mais urgente é
acabar outra vez com a fome. Não
podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste
país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que
o necessário.
Se somos
o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal,
se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes
de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro
possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.
Este
será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.
Não
podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas
ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.
Por isso,
vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa
renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de
brasileiros da extrema pobreza.
O Brasil
não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e
desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem.
Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.
Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o
diálogo neste país.
É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem
tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir
a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.
A
normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece
os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas
e de cada um de nós.
A
Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente
ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.
Também é
mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.
Por isso
vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados
elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas
públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher,
igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.
Vamos
retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as
obras prioritárias para cada população.
Não
interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso
compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de
cada município deste país.
Vamos
também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e
sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social.
Ou seja,
as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de
brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo
diálogo com a sociedade.
Acredito
que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser
resolvidos com diálogo, e não com força bruta.
Que
ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e
o bem comum.
Meus
amigos e minhas amigas.
Nas
minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de
diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.
Saudade
daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais
ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos
países mais pobres.
Brasil
que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação,
investimento e transferência de tecnologia.
Que
trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que
fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.
Hoje nós
estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande
demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.
Vamos
reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para
que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil.
Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e
predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento
econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.
Queremos
um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados
Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais
que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria
prima.
Vamos
re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a
criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também
conhecimento.
Vamos
lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países
no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o
equilíbrio entre as nações.
Estamos
prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo,
e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.
O Brasil
está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática,
protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na
Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o
aquecimento global.
Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia
O Brasil
e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que
toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no
lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.
Um rio de
águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do
mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando
uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio
ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.
Por isso,
vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e
qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou
ocupação agropecuária indevida.
Ao mesmo
tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem
na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem
destruir o meio ambiente.
Estamos
abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de
investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem
jamais renunciarmos à nossa soberania.
Temos
compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a
biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.
Não nos
interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de
qualquer ameaça.
Meus
amigos e minhas amigas.
O novo
Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao
povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade
e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.
Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem
ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da
intolerância e da violência.
Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um
Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a
esperança seja maior que o medo.
Todos os
dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o
amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom
governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.
No que
depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do
Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de
esperança.
Um tempo
em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades
para realizar aquilo que sonha.
Para
isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que
candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil,
olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.
Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não
poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos,
trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, gente de
todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais
desenvolvido, mais justo e mais fraterno.
Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa
de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:
O Brasil
tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um
Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em
realidade.
Mais uma
vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que
Deus abençoe nossa jornada.
“Olha, eu queria apenas dizer para vocês que
essa não é uma vitória minha, não é uma vitória só do PT. Essa foi uma vitória
de todas as mulheres e homens que amam a democracia, que querem liberdade, que
querem um país mais justo. Essa foi a vitória das pessoas que querem mais
cultura, que querem mais educação, que querem mais fraternidade, mais
igualdade. Essa vitória é de todos os homens e mulheres que resolveram libertar
esse país do autoritarismo. Por isso, eu queria dizer para vocês que eu tô com
dificuldade, porque eu queria fazer três discursos. Um naquela ponta, outro
naquela ponta e um aqui. Eu vou tentar aqui apenas dizer algumas palavras.
Eu tenho que agradecer a cada
pessoa que me ajudou nessa campanha. A senadora que foi candidata a presidenta,
Simone Tebet, companheira de muito valor, de muita qualidade, de muita
competência. A nossa senadora do estado do Maranhão, a Eliziane, foi outra
companheira muito dedicada nessa campanha. E a nossa companheira Marina Silva,
que todos vocês conhecem, foi outra guerreira. Tem figuras muito importantes
nessa campanha. Esse senador Randolfe, do Amapá, foi um guerreiro, não apenas
na CPI, mas na minha campanha também, ele foi muito grande. Quem mais que eu
não falei ainda. O nosso companheiro, senador de Pernambuco, Humberto Costa. Eu
não tenho uma nominata aqui, mas eu queria dizer ao companheiro Haddad. Eu acho
que a campanha do Haddad, ela foi fundamental para a gente chegar até onde nós
chegamos.
Vocês sabem que eu to num misto
de alegria por dentro, porque foi a campanha mais difícil que eu fiz na minha
vida. Não foi uma campanha de um homem contra um outro homem, de um partido
contra outro partido, foi a campanha de um conjunto de pessoas que amam a
liberdade, a democracia, contra o autoritarismo, em qualquer momento da
história. Então, eu quero dedicar essa vitória à democracia e ao futuro do povo
brasileiro.
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