REFLEXÃO DOMINICAL II
“O
Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça a julgará” (Sl 97)
Luciene Lima Gonçalves, nj (*)
"A imagem de Deus que salta aos
olhos na liturgia deste domingo é a mesma do canto do salmista. Com ele
professamos nossa fé e nossa esperança: “O Senhor virá julgar a terra inteira;
com justiça a julgará” (Sl 97). No entanto, mais importante do que identificar
o Senhor como juiz de toda a terra, é a tomada de consciência de que somos nós
quem vivemos e administramos a vida que nos foi dada como dom".
Referências bíblicas
1ª Leitura - Ml 3, 19-20
Salmo - Sl 97
2ª Leitura - 2 Ts 3,7-12
Evangelho - Lc 21, 5-19
1ª Leitura: Ml 3, 19-20
O livro de Malaquias
situa-se provavelmente no séc. V a. C., no período pós-exílico, após a
reconstrução do Templo. O autor retoma um tema já conhecido pelos profetas, o
dia do Senhor ou dia de YHWH, dia terrível, dia em que o Senhor fará justiça a
Israel, castigando seus adversários.
A concepção dos profetas
sobre o dia de YHWH foi evoluindo até a compreensão de que, neste dia, serão
castigados todos aqueles que são ímpios e soberbos.E aqueles que temem o Senhor
e o reverenciam, que agem segundo seus ensinamentos, praticam a justiça e o
direito, respeitam o próximo, não roubam, não enganam os seus semelhantes, no
dia esperado,serão visitados pelo sol da justiça.
2ª Leitura: 2 Ts 3,7-12
Na segunda carta aos
Tessalonicenses, o autor exorta a comunidade a respeito de um tema bem delicado
no início da comunidade cristã primitiva, a segunda vinda de Jesus, também
chamada de parusia. Muitos cristãos acreditavam que essa vinda seria em breve.
Por conta disso, negligenciavam seu compromisso com a comunidade.
O autor dessa carta
ciente da autoridade de Paulo, como fundador e responsável dessa comunidade
utiliza seu testemunho de maneira enérgica, indicando a esses irmãos como
deveriam se comportar. Para explicitar suas orientações, utiliza o
comportamento de Paulo como critério para os membros da comunidade. O
compromisso com a comunidade se traduz por meio do trabalho.Ele é o vínculo que
une os membros na acolhida e na manifestação do Reino de Deus.
Evangelho: Lc 21, 5-19
No evangelho segundo
Lucas, é de fundamental importância que Jesus realize a salvação em Jerusalém.
Sua Páscoa deve acontecer na Cidade Santa. Desse modo, o caminho para Jerusalém
é o tempo de preparação de seus discípulos para vivenciarem sua paixão, morte e
ressurreição.
No evangelho de hoje,
Jesus já se encontra em Jerusalém ensinando sobre o Templo e sua destruição e
sobre um tempo de tribulação que se aproxima, acompanhado por vários outros
eventos: guerras, terremotos, pestes, fome, fenômenos naturais terríveis etc.
Alerta, ainda, seus seguidores sobre as perseguições que eles enfrentarão,
inclusive por parte de seus próprios familiares. Jesus exorta aos discípulos a
permanecerem firmes na fé, lembrando-os de que quem perde a sua vida é quem vai
ganhá-la verdadeiramente para Deus.
Pistas para a reflexão
Chegamos ao penúltimo
domingo do ano litúrgico. Estamos encerrando um ciclo de leitura da Palavra de
Deus e somos convidados a refletir sobre o fim. Cada uma dessas leituras pode
nos auxiliar nesse trabalho.
O profeta Malaquias nos
alerta que o dia do Senhor está próximo e que seremos julgados por nossas
ações, que podem ou não corresponder à vontade de Deus. O autor da carta aos
Tessalonicenses exorta aos cristãos acomodados de sua comunidade a trabalharem
pelo próprio sustento. Aos mesmos discípulos que aconselha a não planejar com
antecedência a própria defesa, Jesus também recomenda que permaneçam firmes a
fim de ganhar a vida. Desse modo, fica claro que a esperança pelo dia do Senhor,
pelo dia da salvação, deve iluminar toda a nossa existência, deve mover nossas
ações e as escolhas que fazemos dia após dia.
O temor de Deus, de que
nos fala a primeira leitura, não implica em um sentimento de medo com relação a
Deus, significa uma submissão
incondicional a sua vontade, significa andar segundo seus
ensinamentos presentes no Antigo Testamento, no decálogo, os dez mandamentos,
e, no Novo Testamento, no duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo. Se
quisermos saber se amamos a Deus, perguntemo-nos o que temos feito pelo nosso
próximo. Essa é a forma concreta de manifestar nosso amor a Deus e, assim,
assegurar a visita do sol da justiça.
É possível e necessária
a reflexão sobre o fim, mas enquanto finalidade e propósito. Ao invés de nos
preocupamos tanto em saber o dia que o Senhor virá, seria mais prudente
refletir sobre que tipo cristãos e cristãs Jesus encontrará, seria mais
prudente ocupar-nos em viver bem a vida que nos foi dada colocando-a a serviço
de nossos irmãos e irmãs, como fez Jesus. Por que temer o dia do Senhor, se
estivermos realizando a sua vontade? Afinal, o compromisso com o evangelho, a
perseverança fiel, é o que nos garante que estamos no caminho certo, que
estamos tomando os mesmos rumos de Jesus.
A imagem de Deus que
salta aos olhos na liturgia deste domingo é a mesma do canto do salmista. Com
ele professamos nossa fé e nossa esperança: “O Senhor virá julgar a terra
inteira; com justiça a julgará” (Sl 97). No entanto, mais importante do que
identificar o Senhor como juiz de toda a terra, é a tomada de consciência de
que somos nós quem vivemos e administramos a vida que nos foi dada como dom.
É importante ressaltar
que o Papa Francisco instituiu o penúltimo domingo do ano litúrgico como Dia
Mundial dos Pobres, para nos recordar como Igreja, comunidade de fé, família de
Deus que o compromisso com os pobres é tarefa de todos e que, portanto, não
deve ser restrita a grupos isolados dentro da igreja.
“O Senhor virá julgar a
terra inteira; com justiça a julgará”. E nós, será que estamos trabalhando na
construção de um mundo justo, lutando para que nossos irmãos e irmãs vivam com
a dignidade de filhos e filhas de Deus. aqui e agora enquanto aguardamos a
visita do sol da justiça ? Seremos julgados de acordo com a opção radical que fizemos
pelo Cristo que se apresenta com a face desfigurada pelo sofrimento em tantos
irmãos e irmãs que encontramos a cada dia em nossas ruas, praças e que se
tornaram invisíveis para nós, são os pobres, sofredores, desvalidos,
marginalizados, descartados que nos garantem a autenticidade de nosso
compromisso na construção do Reino de Deus.
(*)A reflexão é de Luciene
Lima Gonçalves, nj, religiosa do Instituto Nova Jerusalém. Ela
é mestranda em Teologia
pela Universidade Católica de Pernambuco - Unicap. Possui
graduação em Teologia pelo Instituto de Ciências Religiosas - ICRE (2007) e é
especialista em estudos bíblicos pela Faculdade Católica de Fortaleza - FCF
(2015). Atuou como professora de Teologia Bíblica na Faculdade Diocesana de
Mossoró - FDM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário