REFLEXÃO
BATISMO DO SENHOR – A
Padre Wagner Augusto Portugal
Estimados Irmãos,
A festa do Batismo do Senhor Jesus dá termo ao
tempo festivo do Natal. Saindo do âmbito da infância, mostra Jesus na véspera
de sua vida pública. A voz de Deus que acompanha o dom do Espírito Santo a
Jesus proclama-o “Filho amado”(Mt 3,17) de Deus, no qual Deus se
compraz: o beneplácito de Deus repousa n’Ele. Jesus é quem executará o projeto
do Pai. Por isso é chamado de “filho”, termo que pode ser
aplicado a todo justo, mas no caso de Jesus, de maneira única.
A primeira
Leitura(Is 42,1-4;6-7) nos apresenta o “servo” de Deus que
animou o povo durante o exílio babilônico. O cântico ressoa a eleição desse
predileto para levar aos povos e mesmo às “ilhas” o verdadeiro
conhecimento do Deus de misericórdia e fidelidade. Jesus é a aliança com os
povos, luz das nações, para restaurar a paz e felicidade dos oprimidos.
O “servo” recebe a missão de anunciar a todos a
misericórdia e a fidelidade de Deus. Para isso recebe o espírito de Javé. Mais
adiante encontraremos esta figura como o “Servo Padecente”, sofrendo pelos
pecados de todos. O Novo Testamento vê em Jesus aquele que levou à plenitude
estas figuras. A palavra de Deus, no Batismo de Jesus, lembra Is 42,1.
O texto da perícope da Primeira Leitura pertence ao
“Livro da Consolação” do Deutero-Isaías (cf. Is 40-55) e consta de duas partes
que falam da eleição do “Servo” e da sua missão. A “ordenação” do “Servo”
realiza-se através do dom do Espírito. Animado por esse Espírito, o “Servo” irá
levar “a justiça às nações”.
A figura misteriosa e enigmática do “Servo”
apresenta evidentes pontos de contato com a figura de Jesus. Os primeiros
cristãos irão utilizar os cânticos do “Servo” para justificar o sofrimento e o
aparente fracasso humano de Jesus. Ele é esse “eleito de Deus”, que recebeu a
plenitude do Espírito, que veio ao encontro dos homens com a missão de trazer a
justiça e a paz definitivas, que sofreu e morreu para ser fiel a essa missão,
que o Pai lhe confiou.
Meus caros irmãos,
A segunda
Leitura(At 10,34-38) fala do início do “querigma cristão”: o batismo de
Jesus. A pregação do Apóstolo Pedro representa o anúncio do Evangelho nos
primeiros tempos do cristianismo: por Jesus, Deus deu a “paz” ao mundo. Jesus
recebeu o batismo de João, Deus lhe mandou seu espírito: “ungiu-o” como
Messias.
O livro dos Atos dos Apóstolos são uma catequese
sobre a “etapa da Igreja”, isto é, sobre a forma como os discípulos assumiram o
continuaram o projeto salvador do Pai e o levaram – após a partida de Jesus
deste mundo – a todos os homens.
A segunda leitura de hoje está integrado na
primeira parte dos “Atos”, onde se apresenta a difusão do Evangelho dentro das
fronteiras palestinianas, por ação de Pedro e dos Doze. Insere-se numa perícope
que descreve a atividade missionária de Pedro na planície junto da orla
mediterrânica da Palestina. Em concreto, o texto propõe-nos o testemunho e a
catequese de Pedro em Cesareia, em casa do centurião romano Cornélio. Convocado
pelo Espírito (cf. At 10,19-20), Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o
essencial da fé e batiza-o, bem como a toda a sua família (cf. At 10,23b-48).
O episódio é importante porque Cornélio é o
primeiro pagão a cem por cento a ser admitido ao cristianismo por um dos Doze:
significa que a vida nova, que nasce de Jesus, se destina a todos os homens. No
seu discurso, Pedro começa por reconhecer que a proposta de salvação oferecida
por Deus e trazida por Cristo é universal e se destina a todas as pessoas, sem
distinção de qualquer tipo (vv. 34-36). Israel foi o primeiro receptor da
Palavra de Deus; mas Cristo veio trazer a “boa nova da paz” (salvação) a todos
os homens que aceitem a proposta e adiram a Jesus.
Irmãos e Irmãs,
O Batismo de Jesus marcará o início de sua vida
pública, de sua missão redentora no mundo. Assim também deve ser o nosso
batismo que assinala a nossa entrada na comunidade cristã e o conseqüente
início de nossa colaboração com Cristo.
Pelo batismo nossos pecados são apagados, a antiga
culpa é dissipada e formamos um só corpo com o Senhor Jesus e somos chamados à
mesma missão salvadora e ao mesmo destino eterno.Todos, depois de instruídos,
devem ser batizados, desde os tempos dos Apóstolos e isso é efetivado pela
Sagrada Escrituras em vários textos como em At 2,37-41.
O Batismo é o sacramento porta. O Batismo é o
primeiro dos sacramentos e condição para receber os demais. O Batismo é o
fundamento de toda a vida cristã, a porta de entrada na comunidade dos crentes.
Assim foi com Jesus que se fez batizar por João Batista, o precursor para
iniciar a sua vida pública, a pregação do Reino de Deus. Por isso quem é
batizado sela um compromisso com Jesus de iniciar uma vida de pregação do Reino
de Deus e de vivência completa e autêntica do Evangelho.
Estimados amigos,
O Batismo tem vários significados, ressaltando que:
é a purificação externa e interna da pessoa; a procura de um acréscimo de
forças vitais e dom da imortalidade; o batismo é o rito de iniciação cristã; de
introdução na comunidade fiel e de assunção das obrigações e vantagens
religiosas.
O Batismo de João acentua a CONVERSÃO. E isso vai a
encontro à pregação de Jesus, cuja a primeira condição para ser cristão é a
conversão do coração.
Assim o Batismo de Jesus, mesmo não tendo pecado,
procurou o batismo para começar a cumprir toda a Justiça, isto é, tudo aquilo
que foi ordenado por Deus ao Salvador. Jesus se batiza para cumprir a vontade
do Pai, como o fará em várias ocasiões durante a sua vida pública.
O Evangelho
desta Solenidade(Mt 3,13-17) destaca que o Batismo confirma a missão de Jesus
sobre a terra. A partir do Batismo Jesus inicia a sua vida pública, ou seja, a
sua profecia ministerial, que exercerá com a força e o poder de Deus, e em nome
do mesmo Deus, anunciar a conversão e a santidade.
O “céu se abriu”, afirma o Evangelista. São Mateus
quer afirmar que começou uma nova etapa na história da salvação, começou a era
messiânica, há um novo relacionamento entre o céu e a terra, tudo o que é do
céu pode passar a terra, tudo o que é da terra pode entrar nos céus.
Caros irmãos,
A liturgia da Festa do Batismo de Jesus tem como
cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No batismo de Jesus nas margens do
Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai,
com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projeto do Pai, Ele fez-Se
um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo
e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em
plenitude.
A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”,
escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de
paz sem fim. Investido do Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com
humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência,
pois esses não são os esquemas de Deus. No Evangelho, aparece-nos a
concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/“Servo” enviado pelo Pai,
sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens.
Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa,
identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de
os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude. A
segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo
para concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo
fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos.
É este o testemunho que os discípulos devem dar,
para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra. No
episódio do batismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao
encontro dos homens para os libertar e para os inserir numa dinâmica de
comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus
e o imenso amor que Ele nos dedica.
É bonita esta história de um Deus que envia o
próprio Filho ao mundo, que pede a esse Filho que Se solidarize com as dores e
limitações dos homens, e que, através da ação do Filho, reconcilia os homens
consigo e fá-los chegar à vida em plenitude. O que nos é pedido é que correspondamos
ao amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na
entrega, no dom da vida.
Meus irmãos,
O Batismo para a Igreja é a purificação do pecado
original; se o batizando for adulto, o fiel batizando terá o perdão de todos os
pecados cometidos antes. É o chamado rito de iniciação cristã. É um rito de
novo nascimento em Cristo. Pelo Batismo somos consagrados por Deus para a
missão de evangelizar, principalmente para a santidade. Pelo Batismo todos os
fiéis participam do Sacerdócio e da missão de Jesus.
Por isso somos chamados hoje a viver os
compromissos de nosso Batismo e pautar o nosso comportamento pessoal, familiar
e comunitário, no quotidiano da vida, nos valores trazidos e apresentados por
Jesus, o Salvador.
Assim, na Segunda Leitura, Pedro com um toque de
universalidade anuncia a missão de Jesus como Messias e Filho de Deus a partir
de seu batismo por João. Nosso Batismo deve levar-nos ao serviço de nossos
irmãos. Ser batizado é tornar-se Servo com Cristo, o Servo por excelência.
Vamos viver com intensidade nosso Batismo na busca da solidariedade, da
santidade e da salvação. Amém!
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