A- REZAR PELOS MORTOS: NOSSO COMPROMISSO
DE FÉ!
Fazemos
parte do corpo de Cristo que é a Igreja. Ensina-nos o Concílio Ecumênico
Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumem
Gentium 49, que essa Igreja é peregrina na terra, triunfante
no céu e padecente nesse processo de purificação. Por formarmos um único corpo,
é que podemos ir em socorro dos nossos irmãos e irmãs falecidos, assim como
podemos contar com a intercessão dos santos e santas que já estão junto de
Deus. Ou seja, assim como no nosso corpo humano um membro beneficia o outro, no
corpo espiritual, que é a Igreja, acontece o mesmo, o bem de cada um dos
membros comunica-se a todos (1Cor 12,26).
Fique claro que não nos comunicamos
com os mortos, mas fazemos comunhão com eles por meio do amor e da oração. Nós
amamos na terra, eles nos amam no céu, nós rezamos na terra, eles louvam nos
céus. E não há dúvidas que assim como temos o auxílio dos santos, nós podemos,
com nossas orações, ajudar os que já morreram.
Na oração pelos mortos como fazemos na
Santa Missa que celebramos, não existe barreira entre céu e terra, entre vivos
e mortos. Na Santíssima Eucaristia, participamos do banquete eterno, que os
nossos entes queridos celebram, agora, junto com Deus. Podemos experienciar a
comunhão com eles, que celebram as bodas eternas no mesmo momento.
Tenhamos presente que rezamos pelos
mortos. Os bem-aventurados (santos) não precisam das nossas orações, por isso
rezamos com eles invocando a sua intercessão. E rezamos pelos mortos na certeza
de que nossas preces podem ajudá-los no encontro definitivo com Deus.
Vale lembrar que é parte da nossa fé a
doutrina do purgatório. E é aqui que se justifica a nossa oração pelos mortos.
Mas tenhamos presente que purgatório não é lugar. Por isso, não devemos
pensá-lo nas categorias de tempo e espaço. Como se uma pobre alma permanecesse
ali por tanto tempo afim de expiar os pecados. Alguns teólogos católicos
compreendem o purgatório como sendo a imagem do encontro pessoal com Deus. No
encontro com Ele, que nos ama, reconhecemos a dor que causamos aos outros com
nossos pecados e sofremos a dor do arrependimento. Não podemos dizer quanto
tempo leva essa dor, pois como dizíamos, fugimos das categorias de tempo e
espaço.
Como dificilmente nos encontramos
preparados para a morte, cremos na possibilidade da solidariedade na expiação
dos pecados de uns pelos outros. Uma vez que após a morte não é possível fazer
mais nada por si mesmo, os que morrem no pecado têm necessidade da intercessão
dos outros membros da Igreja. Desse modo, como membros do Corpo de Cristo,
podemos auxiliar nossos irmãos que morreram no pecado com nossas orações.
Santo
Agostinho
diz que as obras de misericórdia são a melhor ajuda que podemos prestar aos
mortos. Ou seja, o bem que ficou a meio caminho naqueles que morreram, continua
a ser feito em comunhão com o bem praticado pelos que amam seus mortos. Nossa
oração é uma expressão do nosso amor. Gostaríamos de poder mostrar que não os
esquecemos, que eles nos são importantes.
O sete é um número simbólico e na
Bíblia indica perfeição, uma oração contínua em favor dos nossos entes
queridos. Até porque, recordamos que na obra da criação, o 7º dia é o dia do
descanso (Gn 2,3), e nós rezamos pelo descanso eterno da pessoa que morreu. Mas
também temos a tradição do luto de sete dias que nós encontramos na Bíblia:
José fez um luto de sete dias pelo seu pai Jacó (Gn 50,10); Saul foi enterrado
e fizeram um jejum de sete dias (1Sm 31,13); O povo chorou a morte de Judite
durante sete dias (Jt 16,24); O luto por um morto dura sete dias (Eclo 22,13).
E esse período de luto é comumente concluído, na tradição católica, com a missa
de 7º dia.
O sete é uma medida temporal, vale
para nós, enquanto Igreja Peregrina, enquanto seres medidos pelo tempo. Mas não
vale mais para os nossos mortos, pois passados pelo juízo particular, eles
participam da eternidade de Deus.
Por isso, celebrar a Eucaristia por
alguém falecido é expressão da nossa comunhão. Continuamos lembrando dele, não
o abandonamos, o consideramos parte de nós. E é muito importante que quando
encomendamos uma intenção de missa, participar da celebração. É muito triste
quando, às vezes, inclusive em missas de 7º dia, nenhum familiar encontra-se na
Igreja. Não deveríamos terceirizar o nosso amor por um ente que chamamos de
querido.
Neste sentido, do dia 1º ao dia 8 de
novembro, aos fiéis que visitarem o cemitério e rezarem, mesmo só mentalmente,
pelos defuntos, concede-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos:
diariamente, do dia 1º ao dia 8 de novembro, nas condições de costume, isto é:
confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice.
Neste ano, devido a pandemia, esse prazo foi prorrogado até o final do mês pela
Penitenciaria Apostólica. Isso já aconteceu no ano passado.
Ainda neste dia, em todas as Igrejas,
oratórios públicos ou semipúblicos, igualmente lucra-se uma Indulgência Plenária,
só aplicável aos defuntos: a obra que se prescreve é a piedosa visitação à
Igreja, durante a qual se deve rezar a Oração Dominical e o Símbolo (Pai nosso
e Creio) confissão sacramental, comunhão eucarística e oração na intenção do
Sumo Pontífice (que pode ser um Pai Nosso e Ave Maria, ou qualquer outra oração
conforme inspirar a piedade e devoção).
Reze hoje pelos que te precederam na
vida eterna. Amanhã, outros também irão rezar por ti! Que os fiéis defuntos,
pela misericórdia de Deus, descansem em paz. Amém!
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
(RJ)
https://www.cnbb.org.br/cardeal-orani-rezar-pelos-mortos-compromisso-de-fe/
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