"MAIS
CEDO OU MAIS TARDE O CREPÚSCULO
CHEGA! PREPARADO PARA QUANDO ELE CHEGAR?"
Por Lindolivo Soares Moura(*)
"Se
a morte fosse mesmo o fim de
tudo, seria um ótimo negócio para
os perversos, pois ao morrer teriam eles canceladas todas as
suas maldades, tanto as do corpo
como as da alma". [Sócrates].
Aprecio
muito a afirmação de que "texto fora de contexto é pretexto", estando
ou não quem faz uso deste ou daquele conteúdo consciente disso. Se o pretexto é
bom ou ruim, essa já é uma outra história! Cortar bem é a "virtude"
ou excelência da faca, seja ela utilizada para se preparar um aguardado jantar
entre amigos, seja para ser cravada nas vísceras de um inimigo com o intuito de
tirar-lhe a vida. Em ambos os casos, se ela cumpre bem sua função, por mais
antagônicas que possam ser as intenções em jogo colocadas, não perde um
percentual sequer de sua virtuosidade. Já em relação às intenções que governam
o ser humano, estas sim, podem variar de um extremo ao outro num piscar de
olhos, tanto em natureza como em qualidade. Talvez nenhum outro ser vivo se
revista desta característica única, ao que tudo indica "exclusiva" do
ser humano: transitar de um extremo ao outro, da mesquinhez à grandiosidade, e
"versa-vice". Bicho raro, é esse tal de bicho homem! Mais raro que
elefante habitando a Amazônia! Conta-se que, ao ser solicitado a escrever uma
crônica Natalina para um jornal carioca, Assis Chateaubriand - figura polêmica e controversa - teria
respondido da seguinte forma, sem sequer ter se atentado para o teor da solicitação: "contra ou a
favor"? Coisas do Assis! "Assis Chateau", que nada tinha a ver
com o Machado que também levava o Assis, só que como sobrenome. De
Chateaubriand ficaria famosa também a afirmação proferida em razão do litígio
configurado por sua separação, quando tudo fizera para manter ao seu lado
Getúlio - o Vargas - em sua reivindicação pela guarda do filho: "Se a lei
está contra mim - proclamou em alta voz como se num comício discursasse - então
teremos que mudar a lei"! Mas não é sobre Chateaubriand que a presente
reflexão propõe se debruçar. Falávamos dele apenas como um exemplo dessa
ambigüidade que acompanha o ser humano desde que o homem é homem - masculino e
feminino naturalmente - e do uso "abusado'' do qual muitos lançam mão ao
retirar textos de seus contextos, provocando com isso não poucas confusões.
Um
exemplo típico dessa espécie de "maldade" para com o idioma, e mais
ainda, para com o texto, ficara patente numa "rodinha de amigos" -
meia de amigos, meia de parentes - em que lá pelas tantas - não me recordo bem
se de um aniversário ou durante as festas de fim de ano - alguém do grupo,
ferrenho defensor do trabalho humano, incluindo aí o capitalismo com suas
ilações decorrentes, argumentava de forma eufórica que Deus havia descansado
apenas um único dia, tendo trabalhado incansavelmente nos outros seis. Acrescentava a isso o fato
de que, no projeto "final" do Criador, trabalho era sim, tarefa árdua
e suada - "sangue, suor e lágrimas!" - e não férias estendidas, como
a maioria dos que estavam na roda pretendiam que fosse. Arrematava seu discurso
afirmando que não fora ele, e sim o criador de tudo, a ter disposto as coisas
tais como elas assim se encontravam, depois de uma bendita fria na qual homem e
mulher haviam entrado após o primeiro pecado. Fiquei imaginando em silêncio, com meus botões, que
provavelmente o discursante em questão deveria ter lido o tratado sobre a
escravidão, que o grande Aristóteles havia escrito! E se isso de fato tivesse
acontecido, seu ponto de vista seria perfeitamente compreensível, e sua
conclusão plenamente justificada. "Texto fora de contexto é
pretexto", continuei pensando! No caso do tratado aristotélico sobre a
escravidão, era notório, para qualquer mente minimamente exigente, que malgrado
a grandeza do mestre - Hegel diria bem mais tarde, que se a humanidade tinha
mestres esses seriam Platão e Aristóteles -
lamentavelmente ele não havia sido feliz ao escrever o referido tratado,
visto que ao fazê-lo ele na verdade não teria refletido "sobre", mas
refletido "a'", escravidão existente ao seu tempo, e que persistiria
por séculos e séculos depois não só na sociedade grega como em muitas outras
que herdariam, dos gregos, esse procedimento como legado. Isso mostra o quanto
o cientista e o pesquisador também são, conscientes disso ou não, espelho e
reflexo de seu meio e de seu próprio tempo, malgrado a manifesta intenção de
objetividade e neutralidade. Muitas coisas boas sem dúvida os gregos nos
deixaram, mas essa, dentre outras possíveis, deveria ter ficado sepultada no
passado! Como ninguém é perfeito, como diz o ditado, ficam gregos e troianos -
Aristóteles e seu povo - parcialmente
desculpados! Mas que a maioria das culturas tenham aceitado o fato da
escravidão como fato natural e consumado, e que apenas uma ou outra voz aqui ou
ali, tenha contra ela se levantado, isso não tem desculpa! É imperdoável! É
algo equivalente, e em certo sentido e dimensão ainda pior, que esquecer ou
justificar o extermínio nazista: intolerável e imperdoável!
Voltaremos
à interpretação "fora de contexto" do texto mencionado, daqui a
pouco; precisaremos dela, só que devida e adequadamente contextualizada. Mas
caso você esteja aguardando já com certa ansiedade por uma melhor explicação
sobre a que tipo de "crepúsculo" estamos nos referindo, melhor então
satisfazer desde já sua curiosidade. Então vamos lá! Um por de sol estonteante
ao findar da tarde, com certeza isso você já viu! Mais que isso, contemplou!
Lindo de se ver, algo maravilhoso para com o qual se possa extasiar!
"Crepúsculo", como se sabe, é outro termo freqüentemente usado como
sinônimo para o "por do sol", isto é, aquele momento em que o
astro-rei se retira-se de cena e vai para seus aposentos descansar, depois de
um longo dia de trabalho iluminando tudo e todos! Ao menos para parte da
humanidade, já que para outras ele pode, nesse mesmo e exato momento, estar
"nascendo" e não, se pondo. Sei que existem também crepúsculos
matinais, lunares, e outros mais. Fiquemos entretanto apenas com o crepúsculo
solar, por enquanto, aquele que ocorre lá pelo início da noite e fim da tarde.
Ora, assim como o sol tem seu crepúsculo, a vida também tem o seu! A metáfora
usada significa que estamos falando da fase última de nossa vida, digamos
assim, como uma espécie de preparação para nossa "saída de cena", de
despedida da vida, "de tudo e de todos" junto aos quais e para os
quais tivemos o privilégio de fazer com que nossa luz brilhasse por certo
tempo. É desse momento ou fase que estamos falando e abordando na presente
reflexão. "E por que falar sobre isso?", você poderia estar
"se" ou "me" perguntando. Há várias e variadas respostas
para essa indagação! A nossa é bastante simples: refletir sobre o crepúsculo de
nossas vidas é importante porque o crepúsculo se pode vivenciá-lo ou
experienciá-lo de maneiras muito diferentes, nem todas elas entretanto
produtivas e desejáveis, como seria de se esperar. Isso equivale dizer que nem
todos, de fato, "se preparam" para atravessar e vivenciar esse
período da existência bem, de bem com a vida e em alto astral! Talvez a
maioria, não se prepare bem para isso! Podem até trazer consigo ótimas
expectativas, esperança redobrada, súplicas e preces multiplicadas, mas
"se preparar" para ele, pouco ou quase nada! E sabe qual é o mais
lamentável disso tudo? É o fato de que muita gente, quando ouve a expressão
"se preparar", leva logo as mãos no bolso e se põe a pensar nos
investimentos e contas-correntes que estão ativos! Como se isso bastasse e
fosse suficiente para garantir um "crepúsculo" seguro, bonito, de paz
e tranqüilidade! Esse é um ledo engano que pode, além de pegar muitos de
surpresa, deixar muita gente decepcionada! Isso porque de nada bastam cofres
cheios, grandes celeiros, e contas abarrotadas, se a mente e a alma estão
vazias, ou pior ainda, cheias de crenças, percepções e filosofias doentias e equivocadas.
Comecemos
com um exemplo simples, desse tipo de equívocos que não poucos cometem, e que
acabam surpreendendo negativamente os menos avisados quando o crepúsculo bate à
porta - por vezes nem isso ele faz! - e entra para não sair jamais. É claro que
quando chega o "crepúsculo" você passa a ter mais tempo livre para
sí, para os seus e para a vida em geral, assim como certamente passa a ter mais
liberdade e autonomia para muitas coisas, que antes você não tinha! O fato é
que nem todos estão preparados para o exercício dessa liberdade e dessa
autonomia. Por que não!? Não tem como responder diferente: porque não se
preparam para isso! Imaginavam que, como o maná no deserto, também essa
preparação cairia do céu de mão beijada! Reflita bem sobre o que Rubem Alves
ensina a respeito disso! E depois não deixe de levar isso mais a sério! Diz
ele: "todo mundo diz que deseja liberdade. É mentira!" - tava bravo
ele, nesse dia! - "A liberdade traz muita confusão à cabeça. Melhores são
as rotinas, que nos livram da responsabilidade de ter que tomar decisões sobre
o que fazer com a liberdade e a autonomia! Quem tem rotinas não precisa tomar
decisões! A vida já está decidida!". Não sei se Rubem pensava
"nela", quando escreveu isso, mas sabia que existe um tipo de depressão
chamada "depressão pós aposentadoria!? E olhe que as estatísticas sobre
esse tipo de mal psico-fisico não são lá muito favoráveis não! Diversos estudos
apontam para os riscos que o simples fato de deixar de trabalhar - a tão
aguardada aposentadoria - pode representar para a saúde mental. Chegam a
afirmar, por exemplo, que o simples fato de se aposentar, sem que para isso a
pessoa tenha se preparado e planejado,
pode elevar em aproximadamente quarenta por cento as chances da pessoa entrar
em depressão. E qual seria a principal recomendação? Se quer sair da linha do
trem, é só continuar lendo com atenção: "antes de tudo, é essencial se
preparar para essa etapa da vida!" - advertem os entendidos! "Se preparar como!?", você
pergunta! Entre outras coisas, empreendendo uma mudança consciente e profunda
de hábitos, atitudes, percepções e crenças, isso não só quando já se está
vivendo em pleno crepúsculo! Isso também é importante, claro! Mas o processo de
mudança e adaptação, sobretudo quando se trata da mente, da alma e do coração,
precisa começar bem antes! Quanto antes, melhor! Sem obsessão e ansiedade,
claro; com calma, sim, com certeza, mas
também com disposição e determinação! Feito isso, e constando tal preparação
como parte fundamental do seu "projeto de vida", dificilmente alguma
porta ficará aberta para a choradeira, o pessimismo e a depressão. E aí você
poderá dizer com a segurança de quem
sabe o que está dizendo: "vem não, depressão!!! Vem não que não tem!!!
Aqui não!!!".
Um
segundo tipo de surpresa que o crepúsculo costuma trazer consigo, sobretudo
para aquelas pessoas pouco habituadas à
reflexão e à meditação, consiste no seguinte. Existe um tipo particular de
tristeza que é característico dessa fase da vida, do crepúsculo. Exatamente por
isso Rubem Alves a chama de "tristeza crepuscular"! Essa, pouca gente
se dá conta dela, apesar de experimentá-la de forma bastante intensa e
profunda, sem todavia sequer imaginar de onde ela vem. E o mais triste dessa
tristeza é que o consultório e a terapia pouco ou nada podem fazer para
amenizá-la, e menos ainda para exorcizá-la! Em Psicologia é clássica a
afirmação de que "para o que não há cura, sempre há tratamento"!
Claro que no sentido amplo do termo "tratamento", isso é verdade! No
caso da "tristeza crepuscular", entretanto, o que está em jogo não é
a possibilidade ou não de tratamento, mas sim o grau de sua
"eficácia", que Rubem Alves coloca como estando próximo de zero! E
por qual razão ele faz tal afirmação? Ele mesmo nos explica: "eu acho que
essa tristeza crepuscular é mais que uma perturbação psicológica! Acho que ela
tem tudo a ver é com a sensibilidade perante a dimensão trágica da vida! A vida
é trágica porque tudo que a gente ama vai mergulhando no rio do tempo! Há,
assim, um trágico que não está ligado a 'eventos trágicos'! Está ligado à
realidade da própria vida!". A melhor alternativa, nesse caso - agora já
somos nós que estamos sugerindo - será a entrada em cena, ou
"mudança" se for o caso, de uma boa filosofia de vida - "cosmovisão" ou visão de mundo,
como se preferir - e não tanto de terapia. Isso porque de fato "nem tudo
Freud explica"! Até porque no caso da tristeza crepuscular o diagnóstico
já é bem conhecido; o prognóstico é que não se revela nada favorável. Primeiro
em razão da natureza do problema e da ineficácia de toda e qualquer terapia; e
por fim, porque via de regra a terapêutica é prevalentemente de intervenção, e
pouco ou quase nada tem de prevenção e profilaxia! Num quadro desses, não é de
admirar que o prognóstico se revele bastante desfavorável, e mais difícil ainda
de ser revertido.
Mas
afinal, o que é exatamente essa tal de "tristeza crepuscular"!? É o
que agora veremos mais de perto. Afirmava Heráclito que a única constante da
vida é o movimento e a mudança! Tudo que evolui em princípio evolui para
melhor, é o que se espera! Fase ascendente, portanto. Alcançado determinado
alcance, vem o limite! A partir daí o movimento e a mudança começam a ser de
"declínio", descendência, e não mais de ascendência, supondo-se que
de agora em diante num sentido mais desfavorável que favorável! Ao menos num
certo sentido! Até a metade da vida estamos entrando nela; a partir de então,
querendo ou não já estamos saindo!Toda vida - assim como tudo que adentra o
tempo e o espaço - tem um início, meio, e fim! Não há exceção a essa regra!
Qualquer luta ou batalha que se trave contra esse tipo, "aspas", de
"inimigo", pode até ser vencida, no sentido de retardar um pouco mais
as coisas, mas é certo que no fim essa é uma guerra perdida! A "tristeza crepuscular"
é isso: quando a pessoa vai se dando conta de que tudo que ela mais amou,
construiu e vivenciou ao longo de toda uma vida, vai chegando ao fim! Não em
razão de um desastre, uma catástrofe, ou algo assim, mas em razão do fim que
persegue a própria vida, e que se aproxima.
"Tudo
passa!", advertiam os mais sábios quando queriam nos infundir fé e
esperança diante de uma dificuldade a ser vencida! Só que no
"crepúsculo" a pessoa vai experimentando na própria pele, cada vez mais de perto, a verdade de que essa
máxima também se aplica à própria vida! E aí não tem jeito: bate forte no peito
o que chamamos de "nostalgia"! Que é bem diferente de
"saudade", diga-se de passagem! Chegam perto, se abraçam por vezes,
mas têm identidades diferentes! Saudade todo mundo sabe o que é, ninguém deixou
de senti-la algum dia! Já a nostalgia, talvez não! Saudade diz respeito a
alguém, um tempo ou um lugar qualquer, uma viagem inesquecível ou um amor que
se viveu ou até se deixou de viver! Já a nostalgia parece estar relacionada a
algo grande, muito maior e mais importante, relacionado à própria vida! Jovens
sentem saudade, raramente sentem nostalgia!
Porque a nostalgia é uma espécie
de ponto de intersecção onde dois tempos distintos se encontram: um que já se
foi, e sabemos que não volta mais, e outro que está próximo, às vezes iminente e batendo à porta! Tempos estes
sobre os quais não temos praticamente controle algum. Um tempo que não volta
mais, um sentimento para o qual não há remédio, para com o qual pouco ou nada
valem sessões e sessões de terapia! À janela de uma varanda, em meio às tantas
casinhas brancas de um vilarejo grego, o personagem principal do filme
"Zorba, o Grego", relinchava como um cavalo! Relinchava e dizia:
"um homem como eu deveria viver pelo menos mil anos!"! No crepúsculo
de cada um de nós, quem já não disse certamente dirá algo parecido algum dia!
Isso também é nostalgia! Mais que saudade, é uma espécie de
"saudosismo", para com o que se foi e se viveu um dia, e que o
crepúsculo sinaliza estar chegando ao fim! "Somos feitos da mesma matéria
dos nossos sonhos", dizia Shakespeare. "Recorda, pois, ou sonha, alma
minha! A fantasia é tua substância eterna - o que não foi! Com tuas figurações
faze-te forte, que isso é viver, e o restante é morte!", dizia Unamuno.
Agora
estamos adentrando a parte mais delicada de nossa reflexão! Logo, você irá
perceber por que digo isso! Agora é também hora de fazer reentrar em cena a
interpretação do "ato da criação divina", apenas mencionado no início
de nossa reflexão, e que deixamos no "stand by" com a intenção de
retomar mais a frente. Dizer que o Criador descansou um único dia, e trabalhou
outros seis ininterruptamente, como forma e argumento de justificar o chamado
"capitalismo selvagem" e sua arrogante selvageria, é se deixar cair
numa trama sem tamanho, sem esboçar reação de indignação e até de rebeldia!
"Trabalhe dobrado hoje, quantas horas extras puder; puxe a carroça com
mais força, pois só assim você poderá descansar tranqüilo e sossegado um dia"!
Isso é loucura! Para não dizer, covardia! Argumento falacioso e mesquinho, que
não suporta sequer o contra-argumento da simples presença de uma criança!
Aliás, essa violência mental e emocional começa cedo, “temprano” demais, quando
se é ainda criança! O que ensinam as escolas, senão isso: transformar crianças
em adultos!? Com o que se preocupam tanto os pais, mães, e até muitos avós,
senão com isso: transformar crianças em adultos! Com o que se preocupam as
crenças e ideologias de todo tipo, que desde cedo nos são ensinadas, senão
ensinar criança a ser adulto!? "Criança não é 'meio' para se chegar ao
adulto e a nenhum outro fim" - ensinava quem entendeu de criança como
poucos: "Criança é fim, o lugar aonde todo adulto deve chegar! Na
linguagem dos sonhos: é preciso que os adultos se transformem em crianças! Na
linguagem da Psicanálise: o princípio da realidade precisa estar subordinado ao
princípio do prazer! Na linguagem política, o poder só encontra sua razão de
ser se estiver subordinado ao prazer e à alegria do ser", dizia Rubem
Alves! Não do prazer egocêntrico e egoísta de adultos eternamente
insatisfeitos, e que sequer danem respeitar os direitos do "ser" e
"viver" como criança, que todo infante traz inatamente, e que toda e
qualquer Constituição não faz favor algum em reconhecer! Mas de que valem e
para que servem leis e constituições se estas já nascem "letra
morta", incapazes que são de fazer cumprir o bem que defendem como
virtude, e que na prática vem desmentido pelo vício do acúmulo indevido, apropriações
indébitas, e corrupção sem limites!
Acumulamos o que amamos, diz Rubem Alves! E se só acumulamos dinheiro é porque
só amamos dinheiro!
"Mas
e se foi justamente isso, o que ao longo de minha vida tenho acumulado, tudo
que poderia ter feito de bom e de correto, está perdido!? Aí é que você se
engana! Isso é o que você pensa! Não há melhor fase na vida para se dar conta
das transformações que podem e precisam ser operadas, que o crepúsculo! É isso
mesmo que você ouviu! E isso não é um mero jogo de palavras! Pare, olhe,
escute, e reflita: tudo que está dentro de você, ensina Anselm Grün, tem seu
próprio sentido! A raiva que você sente, assim como seu ressentimento, se você
os aceita e examina a fundo, e procura
identificar seu real motivo, podem levá-lo a uma transformação colossal e
profunda! Eles podem lhe mostrar que durante muito tempo você não fez senão o
que as outras pessoas queriam, e a luz crepuscular lhe sugere agora que está na
hora de fazer o que você deseja, o que você mesmo quer e lhe dá prazer! O medo,
que por durante tanto tempo o tem acompanhado, sob os raios da luz crepuscular
revela a você que você tem andado errado, e que esse erro só lhe tem causado
prejuízo, e que está na hora - "a hora é essa, é agora"! - de
escolher um caminho melhor e mais humano, e conferir ao seu medo um novo
significado! Ele lhe dirá que o mundo lhe será grato quando - e sobretudo
quando! - você se arriscar por algo sem primeiro pedir licença a todo mundo
para transformar suas ideias em atos! Se você estiver atento, nessa etapa do
crepúsculo, verá que muitos anjos - uma simples criança com quem você brinca e
que olha para você com um olhar de ternura - lhe mostrarão quão insignificantes
são os problemas que o atormentam, fazendo você perceber que não, que você não
está vivendo sem rumo! Que você pode e deve sim, chegar com nobreza, beleza e
dignidade, ao destino de sua vida! Não há arte mais sublime que "a arte de
ser", e nenhuma transformação mais importante que a de
"transformar-se a si mesmo"! O primeiro e o último ato de
reconciliação é e será sempre para consigo mesmo, e não para com mais ninguém
antes disso! Deus e os demais podem esperar! "Precisam esperar", pois
ninguém pode amar a outrem e a Deus sem antes aprender a amar a si mesmo! Desta
forma o crepúsculo revela verdades simples mas
importantes, que a correria da vida impediu que você percebesse! No
tempo da vida muitas vezes não se dedica "tempo ao tempo"! Isso é
"crhonos", nada mais! O verdadeiro tempo - o tempo que de fato
importa - é contado pelo número de oportunidades nas quais operamos
transformações; profundas e radicais! Isso não é tempo e nem "questão de
tempo"! Isso é "KAIRÓS"! Basta de hesitação! Transforme-se em
quem você deve ser enquanto é tempo! Sua morte ainda não o tocou! Beba a taça
até o fim!
Por
fim talvez a lição mais importante a ser aprendida por aqueles que vivem ou
estão em vias de começar a viver o seu "crepúsculo"! Vou colocá-la
toda em maiúsculo, na expectativa de que você possa parar e pensar
profundamente sobre ela! Quem sabe até, revisitá-la mais vezes, ao término da
presente reflexão! Ela equivale a um "projeto de vida", a ser vivido
não apenas no "crepúsculo", mas ao longo de toda nossa jornada rumo a
ele! E depois nele, claro! Princípio que pode ser tido como a "regra de
ouro" no trato consigo mesmo, para com os outros, e para com a própria
vida! Seja em casa, no trabalho, e nas tantas relações interpessoais que
estabelecemos ao longo de nossa trajetória! Eis aí o princípio que certamente
você há de julgar como o mais controvertido de todos! Não importa! Ainda assim
ele não pode deixar de ser explicitado! Para você, que vive seu
"crepúsculo", ele é ainda mais relevante, já que ora passa como
desconhecido, ora simplesmente ignorado! Eis aí o mais nobre dos princípios: "NÃO
NASCEMOS E TAMPOUCO FOMOS CHAMADOS À VIDA PARA SER ÚTEIS! VIEMOS À EXISTÊNCIA E
VIVEMOS PARA VIVER A VIDA EM TODA A SUA PLENITUDE! E ISSO, EM TODAS E CADA UMA
DAS FASES DE NOSSA VIDA! Não existe uma etapa melhor que a outra, como querem
alguns! São apenas e tão somente etapas diferentes, nada mais que isso! Se quer
usar a expressão, tudo bem, faça isso! Mas que ela seja usada da forma certa e
no contexto devido: "a melhor fase da vida é aquela EM QUE NÓS ESTAMOS, e
nenhuma outra"! E se para com você que vive um crepúsculo bonito, de bem
com a vida e sem medo da morte, ainda assim vez por outra rola alguma dúvida
sobre a validade desse princípio, não se
esqueça de uma coisa: foi justamente quando o Criador pôs fim a toda a sua obra
que Ele sentiu a maior das alegrias! Pois terminado o tempo do trabalho chegara
o tempo do gozo, do deleite e do desfrute! Só então ele pôde baixar as mãos e
os braços, abrir melhor os olhos, os ouvidos e todos os demais sentidos, e
contemplar não mais como Criador, mas como "Amante", tudo que havia
criado! Olhou e viu que tudo era bom, lindo, maravilhoso, e se pôs a passear
pelo jardim embasbacado e extasiado,
gozando das delícias do vento fresco e deleitando-se com o gosto dos
frutos e o perfume das flores! Pois que razões teria ele para criar coisas tão
belas e boas, se não sentisse nelas prazer, satisfação e gozo? Não se esqueça,
portanto: "NÃO NASCEMOS PARA SER ÚTEIS"! Acreditar que somos como uma
pá, enxada ou martelo, que depois de usados e não mais usáveis são jogados fora,
descartados como imprestáveis, não faz sentido! Falando claro!? Isso é pura
babaquice! Burrice também serve! Fica a seu critério a escolha do melhor termo!
À
guisa de conclusão: fique agora com as palavras do Rubem, sem rodeios e
interpretações, sem segundas ou terceiras intenções. Oxalá elas ajudem você a
viver um "crepúsculo" bonito, sereno e sem grandes percalços. Talvez
seja justamente essa a porta de entrada para aquilo que nossos sonhos e
fantasias chamam de "paraíso"! Rubem, bem vindo! Agora é contigo!
"Oi
gente, prazer em estar aqui! Sobre esse tal de crepúsculo, vou começar dizendo
o seguinte: existem tristezas de dois tipos. Primeiro são as tristezas diurnas,
quando o mundo está iluminado pelo sol! Tristezas para as quais há razões! Quem
não sente essas tristezas está doente, e tem que fazer terapia para aprender a
ficar triste. Tristeza é parte da vida, reação natural da alma diante da perda
de algo que se ama! O mundo está luminoso e claro, mas há algo, uma perda, que
faz tudo ficar triste! Segundo, são as
tristezas de crepúsculo! O crepúsculo é triste naturalmente! Não, não há perda
nenhuma! Tudo está certo, tudo está no lugar! Não há razões para ficar triste!
A despeito disso, no crepúsculo a gente fica! Talvez porque o crepúsculo seja
uma metáfora da própria vida: a beleza efêmera das cores que que vão
mergulhando no escuro da noite! A alma é
um cenário: por vezes ela é como uma manhã brilhante e fresca, inundada de
alegria! Outras vezes ela é como um crepúsculo, um pôr de sol, nostálgico e
triste! Estou convicto de que essa tristeza crepuscular é mais que uma
perturbação psicológica! Creio que ela tem a ver mesmo é com a sensibilidade
perante a dimensão trágica da vida! A vida é trágica porque tudo que a gente
ama, incluindo a própria vida, vai mergulhando no rio do tempo! Não há melhor
ajuda para esse tipo de tristeza que conversar! Mas para isso é preciso ter
alguém que nos escute, que entenda de tristeza, sobretudo de tristeza
crepuscular! Muitas pessoas procuram terapia para isso; não porque estejam
doentes ou sejam 'doentes da mente'; não, não é isso! Elas o fazem porque
precisam compartilhar sua tristeza com alguém que conheça e entenda dessa
peculiar fase da vida!
Segunda
lição importante: jamais por favor se esqueçam disso! Nossa vida começa justamente
com o advento da 'inutilidade'. Pois o momento da inutilidade marca o início da
vida de gozo. Nada mais preciso fazer! Combati o bom combate, travei as
batalhas que tinha que travar! Não devo nada a ninguém, e se devo vou procurar
por um certo Zaqueu! Disseram-me que ele tem algo importante a ensinar sobre
isso! Feito isso estarei livre para me entregar ao deleite, ao ócio, ao tempo
livre que a vida me proporciona! Nada de 'nec otium' - 'negócio - daqui para
frente!
Por
fim, se você me pergunta, onde está a escola que ensina tudo isso, essa
sabedoria tantas e tantas vezes esquecida, eu lhe respondo: não! Não há escolas
que ensinam isso! Todas as escolas só nos ensinam a ser ferramentas! Será
preciso que você procure mestres que não foram ainda enfeitiçados por elas!
Você deve procurar as crianças! Pois somente elas têm o poder de quebrar o
feitiço que pode estar matando você ainda em vida! E quando seu crepúsculo
chegar, faça as pazes com ele o quanto antes! Não há porque temê-lo, se você se
preparou bem para isso! Quem sabe o sábio Unamuno não tenha razão! Sabem o que
ele disse? "Não seria a vida inteira um sonho, e a morte um
despertar?"! Bonito isso! E pra terminar, termino com o Mário! Mário
Quintana, poeta dos grandes e um grande amigo. Ouçam o que ele diz, e com isso
termino: "um dia... Pronto! Me acabo! Pois seja o que tem que ser!
Morrer!? - que me importa!? O diabo é deixar de viver!"!
L.S.M. 01/23
(*)
Reflexão enviada de Vitória(ES) por whasapp.
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