REFLEXÃO DOMINICAL III
DICAS DE HOMILIA - Domingo da
Páscoa do Senhor
(At 10,34a.37-43 / Sl
117 / Cl 3,1-4 / Jo 20,1-9)
A Nova Criação - O Novo Olhar
- O Coração Renovado
O Domingo de Páscoa, o primeiro dia de todas as semanas para o
cristãos, define a fé professada na comunidade e ilumina a sua caminhada, pois,
tem seu início na Proclamação da vida nova em Cristo, isto é, no dia de sua
vitória sobre a morte. Neste caso, a Celebração da Páscoa, não pode jamais ser
comparada como as demais festas do Calendário Litúrgico da Igreja, já que sem
ela, a própria Igreja não existiria. Sendo assim, toda a Celebração da Páscoa,
todos os gestos litúrgicos que a compõem são a demonstração da acolhida da
Igreja dessa verdade de fé: O Senhor Ressuscitou e está
vivo!
Na Liturgia da Palavra desse glorioso dia de Páscoa, a Igreja
oferece uma variação de Leituras para a segunda leitura e para o Evangelho. Por
isso, muitos optam por ler o Evangelho de João 20,1-9 nas celebrações matutinas
e o de Lucas 24,13-35 nas vespertinas e noturnas. Em todas as Leituras e nos
Evangelhos, pode-se perceber a proclamação da fé na novidade oriunda da
ressurreição de Cristo, isto é, como o homem novo inicia-se a nova criação,
marcada pela vitória de Cristo sobre a morte. É bem clara a experiência feita
pelo discípulo amado quando, depois de ter recebido o testemunho de Maria
Madalena, se dirige correndo ao sepulcro. Ao entrar no túmulo onde Jesus tinha
sido colocado, ao ver como o local estava e não tendo encontrado o Senhor, o
discípulo amado vê e acredita, ou seja, recebe um novo olhar da fé. Já no texto
de Lucas, os discípulos que se dirigem na direção de Emaús acolhem o Senhor sem
que o percebam, ouvem-no falar das Escrituras, o reconhecem ao partir o pão e
tem o seu coração renovado pela experiência com o Ressuscitado.
A Leitura da Carta aos Colossenses afirma que: "a vossa vida
está escondida em Cristo". De fato, a ressurreição do Senhor é garantia da
vida nova proclamada e vivida pela Igreja, pois, no Senhor ressuscitado está
escondida a vida de todos aqueles e aquelas que a ele se unem. Sendo assim, é
nova criatura aquele que professa a fé em Cristo, acolhe a graça de sua
ressurreição e deixa-se moldar, segundo os valores do Evangelho, pela ação do
Espírito do Ressuscitado. A novidade da vida em Cristo está no fato de que a
morte, o pecado e o mal foram vencidos e, por isso, um novo tempo surgiu no dia
da Páscoa do Senhor. Todos aqueles que a Cristo se unem, no caminho do
discipulado missionário, são convidados a abandonar a vida velha, marcada pelos
valores contrários ao Evangelho, e a viver como ressuscitados. Nisso consiste a
nova criação, fruto da graça de Deus que atua no mundo e na história, por meio
da ressurreição do seu Filho, convidando homens e mulheres, de todos os tempos,
raças e nações a ele aderirem por meio da proclamação da fé.
O texto do Quarto Evangelho, conhecido como Evangelho de João,
traz o primeiro anúncio da Ressurreição do Senhor, realizado por Maria
Madalena. Ela tendo ido ao sepulcro ainda muito cedo, não encontra o corpo do
Mestre e corre para relatar o fato a Pedro e ao discípulo que o Senhor amava.
Este discípulo era o mesmo que estava aos pés da cruz juntamente com Maria, a
mãe do Senhor, depois da negação de Pedro e da fuga dos demais discípulos. Ao
receberem a notícia de Maria Madalena a respeito do que ela encontrara no
túmulo do Senhor, os dois discípulos se dirigem ao sepulcro, na esperança de
encontrarem o Senhor. O discípulo amado chega primeiro, mas, não entra; logo
depois, chega Pedro, que entra e se depara com o túmulo vazio. Ao entrar, o
discípulo amado vê o mesmo que Pedro tinha apenas visto, mas com uma sensível
diferença que o evangelista faz questão de acenar, isto é, ao ver tudo, ele
acredita. Os verbos gregos mais usados para indicar o ato de "ver"
são dois: um deles diz respeito simplesmente ao gesto de ver, o olhar comum,
isto é, o modo como vemos as coisas. O outro, por sua vez, exprime um olhar
profundo, como o ato de contemplar, ou seja, expressa uma ação que vai além das
aparências, como o ato de perscrutar os corações das pessoas, um olhar em
profundidade. O discípulo amado ao entrar no sepulcro vazio busca Aquele que o
amava, a quem ele tinha entregue a vida no seguimento do discipulado. No olhar
profundo da experiência de fé, ele é capaz de ver além das aparências, consegue
contemplar uma realidade mais ampla que aponta para a vida que supera a morte,
para a ressurreição do Senhor. O olhar do discípulo amado é renovado, é
iluminado pelo gesto da entrega da cruz, que não se resumiu na noite da morte
do Senhor, mas que se abriu para a luz do dia feliz da Páscoa de ressurreição.
Sendo assim, o evangelista, ao afirmar que o discípulo amado viu e acreditou,
confirma o itinerário de fé, intimidade com o Senhor e discipulado feito pelo
discípulo que recostara a cabeça no peito de Jesus, na última ceia. A atitude
desse discípulo é uma constante em todo o evangelho e ressalta um aspecto
fundamental do caminho do discipulado missionário, iniciado no chamado feito
pelo Senhor aos seus discípulos, que é a constância diante do Mestre, isto é, o
estar com o Senhor, que forma os verdadeiros discípulos
missionários.
Já o texto do Evangelho de Lucas 24,13-35 ressalta a força da
presença de Cristo junto daqueles que se afastavam da comunidade por não
compreenderem a Ressurreição do Senhor. A intenção de Lucas é a de ressaltar a
presença do Ressuscitado nas estradas, no caminho de seus discípulos, lá onde
eles mais precisam dele, onde há mais necessidade, onde tudo parece perder seu
sentido, onde as esperanças se dissipam. A decepção e a tristeza causadas
pela morte do Senhor faz com que os discípulos deixem o seu grupo e abandonem a
comunidade. Ambos se dirigem para a cidade chamada Emaús. Esta cidade pode ser
entendida como um "lugar simbólico", isto é, Emaús é o “lugar” para
onde todo o discípulo vai quando perde as esperanças e deixa a comunidade de
fé. Quanto mais se afastavam de Jerusalém, mais os discípulos se tornavam
cegos, afastavam-se da cidade da Paz, seus olhos se obscureciam e o seu coração
se tornava frio e insensível, tornando-se incapazes de reconhecer o Senhor, que
se colocava a caminho com eles. O Senhor escuta as suas palavras e
interrogações, os ouve profundamente e, somente depois disso, os repreende e
lhes explica as Escrituras. Ele interpreta as Escrituras e lhes recorda o
sentido profundo de tudo o que elas falam sobre ele. Jesus "simulou"
que ia mais adiante e, neste momento, os discípulos pedem: "Permanece
conosco, pois cai a tarde e o dia já declina". Este é o pedido de cada
discípulo em todo o tempo e lugar. Eles reconhecem o Senhor ao partir o pão.
Esse gesto, repetido tantas vezes no caminho do discipulado, se torna único e
capaz de fazê-los reconhecer o Senhor junto deles. Ele se deixou reconhecer,
iluminou os olhos daqueles que se sentiam abandonados e entristecidos e
renovou-lhes o coração. Eles disseram: "Não nos ardia o nosso coração
quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?".
Sobre as brasas cobertas de cinzas de seus corações vem o sopro do Espírito que
aquece e ilumina, que dá nova vida e garante o vigor para o caminho. Eles,
imediatamente, retornam a Jerusalém, deixam para trás o caminho que os afastava
da comunidade, que os conduzia na direção de suas próprias angústias e
desilusões, para voltarem à comunidade de fé − lugar do testemunho e da
presença do Ressuscitado, que ilumina e aquece o coração daqueles que caminham
ao seu lado.
Que a Celebração da Páscoa do Senhor possa tocar os corações de
todos com a força da ressurreição, de modo que a graça de Deus frutifique e renove
os corações, os olhares e a vida de todos os cristãos. Que seja a força da vida
nova a mover os corações e os passos dos discípulos de Cristo, de modo que a
vida nova, que nasce na ressurreição do Senhor chegue a todos os lugares,
principalmente, onde a vida ainda é roubada. Que em todos os cristãos surja o
desejo da renovação da vida, a fim de que a sociedade seja tocada por homens e
mulheres de corações e olhos renovados, capazes de serem sinais da ressurreição
do Senhor em todos os espaços onde se encontram.
Uma Feliz
Páscoa a todos!
Pe. Andherson
Franklin Lustoza de Souza
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