REFLEXÃO
DOMINICAL III
"UM ESTRANHO NO REDIL"
Eu
achava estranho esse evangelho do Bom Pastor no tempo pascal, parece que
interrompem-se bruscamente as narrativas das famosas aparições de Jesus
Ressuscitado ao discípulos , tão cheias de mistério e encanto, para falar de um
assunto que não tem nada a ver, mencionando palavras repetitivas como redil,
porta, pastor, ovelhas....E alguns adjetivos como, estranho, ladrão,
assaltante, que nos faz imediatamente pensar nos outros, naqueles que são de
fora do rebanho, nos que hostilizam a Igreja e o Reino de Deus, são esses que
devemos ter cuidado, mas não ! Jesus fala com os de “dentro”, ou seja, com a
comunidade, e aqui precisamos tomar muito cuidado, para não nos julgarmos como
membros exclusivos de um Rebanho de qualidade superior a todos os demais, os
“queridinhos e prediletos” de Deus.
E
uma boa chave de leitura aparece logo no início do evangelho: Jesus é a
Porta!Para entrar no Redil, para fazer parte da comunidade da Igreja, só há uma
porta: Jesus Cristo, é ele que no dia do nosso Batismo nos introduz na
comunidade. Não posso ser Cristão por razões ideológicas, ou para
sentir-me bem com a minha consciência, vivendo em paz, sem preocupações nesta
vida. Não posso tão pouco participar da comunidade e das celebrações apenas por
preceito, pois existe aí o perigo dos nossos interesses falarem mais alto,
conheci dois casos diferentes, em um deles, porque mudaram as músicas que
vinham sendo cantadas, um instrumentista enfiou o violão no saco e saiu pisando
duro, dizendo que nunca mais botaria os pés na igreja, e conheci um
acordeonista, que ao contrário, começando a tocar em celebrações sertanejas,
tornou-se um membro ativo da comunidade e tomou gosto pela vida em comunhão, ai
está a grande diferença entre, ser freqüentador da comunidade, e ser um
Seguidor de Jesus de Nazaré. Quem tornou-se cristão por causa de Jesus, após
ter feito com ele uma experiência profunda de Vida em comunhão, passou
pela Porta, mas aqueles que são meros freqüentadores, e não fizeram ainda essa
experiência querigmática com o Senhor, são os que pularam a janela, entraram as
escondidas pelos fundos, e quando chega a crise, esses mercenários são os
primeiros a darem no pé, porque sentem que vão perder algo.
Mudam
de igreja, de comunidade, de paróquia, de grupo, e nunca se encontram, há os
que mudam até de família, passam a vida procurando a perfeição do cristianismo,
e não encontrando acabam caindo no desânimo e frustração descobrindo mais
tarde, que quem tinha de mudar eram eles, e não as pessoas.
Quando
nossos interesses falam mais alto que as coisas do Reino de Deus, nos tornamos
estranhos no ninho, ladrões e assaltantes, porque roubamos o espaço e o tempo
da assembléia, das pastorais e movimentos, só para vender nossa imagem fazendo
o nosso marketing pessoal. Tornamo-nos estranhos ao rebanho porque a nossa
conduta e procedimento, e o jeito de pensar, não reflete de forma alguma
o santo evangelho, a vida de comunhão ou a koinonia como diz o termo grego.
Ao
contrário, quem passa pela Porta que é Jesus Cristo, torna-se também um pastor,
aquele que cuida, mostra o caminho, socorre os fracos e feridos, que na
comunidade são tantos, e se for preciso, carregam no colo as ovelhinhas que não
podem caminhar, exatamente como faz esse Bom Pastor que é Jesus Cristo. As
ovelhas o seguem, porque ouvem e conhecem sua voz, ou seja, a relação com ele é
marcada por uma grande intimidade, de quem conhece a voz, isso é, a Palavra de
Deus, e que por isso se torna um discípulo.
Claro
que o evangelho desse 4º Domingo da Páscoa, fala forte no coração dos jovens
despertando uma possível vocação, projetando esse pastoreio na Vocação
Sacerdotal, mas é preciso essa compreensão mais ampla de que somos todos
ovelhas e pastores, somos cuidados mas também somos cuidadores, em um amor co
responsável, que vai ao encontro do outro porque o aceita como irmão no
Senhor Jesus.
E
há na segunda leitura dessa liturgia, uma afirmação do apóstolo Pedro, que
reforça essa comunhão de vida: Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o
madeiro, para que , mortos aos nossos pecados vivamos para a Justiça.
Ser
comunidade é carregar o outro em nossa vida, com todos os seus pecados e
defeitos, fazer isso por puro amor, amor que aceita, que compreende, que perdoa
sempre e é misericordioso, pois carregar o outro com seus carismas e
perfeições, não requer nenhum sacrifício e é até agradável.A exemplo de Jesus,
Nosso Deus e Senhor, sejamos todos pastores e que aprendamos a amar a todos,
mesmo os “estranhos” do Redil, pois o amor poderá salvá-los, levando-os a uma
experiência sincera com Jesus.
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0335.htm#msg01
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