O Espírito Santo na Liturgia(I)
Por Pe. Gregório Lutz, cssp
Ao abordar um assunto que deve ser aprofundado,
normalmente convém, num primeiro momento, esclarecer os conceitos que ocorrem
no título ou tema. Em nosso caso, deveríamos explicar o sentido dos termos
“Espírito Santo” e “liturgia”, para depois poder refletir sobre o Espírito
Santo na liturgia. No entanto, já que a presente reflexão será apresentada
dentro de um conjunto de artigos sobre o Espírito Santo, certamente pode ser
dispensado tal esclarecimento sobre o Espírito Santo. A liturgia, por sua vez,
não pode ser entendida fazendo abstração do Espírito Santo. Particularmente
numa análise da origem da liturgia isso fica evidente. Por isso contemplaremos
logo o nascimento da liturgia cristã e como ela foi vivida na Igreja
apostólica. Sem analisar detalhadamente a história da liturgia sob o aspecto
pneumatológico, deter-nos-emos mais no Concílio Vaticano II, por significar uma
volta às fontes, sobretudo bíblicas, da liturgia. Numa segunda parte deste
trabalho, descobriremos a presença e ação do Espírito Santo na liturgia de
hoje, analisando dimensões e elementos gerais e as diversas celebrações, também
o ano litúrgico, a piedade popular e, finalmente, a inculturação. Ficará
evidente nesta caminhada que a liturgia é um permanente pentecostes.
I. O ESPÍRITO SANTO NA LITURGIA,
CONFORME A BÍBLIA E A HISTÓRIA
1. O Espírito Santo na
origem da Igreja e da liturgia
O Concílio Vaticano II descreve a liturgia como um
momento da história da salvação. Depois de ter salientado o ponto culminante
desta história, quer dizer, a paixão, ressurreição e ascensão do Senhor, o
mistério pelo qual Cristo, morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando,
recuperou a nossa vida, o Concílio constata: “Do lado de Cristo dormindo na
cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja” (SC 5). A seguir, o
Concílio diz que, portanto, o mistério pascal não deve ser apenas anunciado,
mas, para levar a efeito este anúncio, ele deve também ser celebrado na
liturgia (cf. SC 6).
Vê-se aqui com evidência a origem da Igreja e da
liturgia na morte de Jesus, como esta é descrita no evangelho de são João. A
Igreja nasceu do lado aberto de Jesus, jorrando sangue e água (cf. Jo 19,33s).
Na iconografia esta cena frequentemente é representada da seguinte maneira: do
lado aberto do Senhor jorram o sangue e a água para dentro de um cálice,
segurado por uma mulher que está sozinha debaixo da cruz. Esta mulher não é
simplesmente Maria, a mãe de Jesus, mas a representação da Igreja. O cálice lembra
— assim como o sangue — particularmente a eucaristia. No entanto, jorrou também
água, e esta lembra especificamente o batismo. O batismo e a eucaristia eram,
na época apostólica, sem dúvida, os momentos mais intensos da vida da Igreja,
do mesmo modo como eles são hoje para nós os sacramentos principais. Assim se
vê, portanto, a origem dos sacramentos e da liturgia junto com a origem da
Igreja, e o nascimento da Igreja com a origem da liturgia.
O simbolismo do rio que jorra do lado aberto de
Jesus, todavia, não se esgota aí. Conforme são João relata no seu evangelho
(7,37-39), Jesus tinha prometido rios de água viva, nos quais o evangelista vê
o dom do Espírito Santo que só podia ser dado quando Jesus tivesse sido
glorificado. Vejamos o que afirma o texto do quarto evangelho: “No último dia
da festa, o mais solene, Jesus, de pé, disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede,
que venha a mim, e beba quem crê em mim!’ — conforme a palavra da Escritura: Do
seu jeito jorrarão rios de água viva. Ele falava do Espírito que deviam receber
aqueles que tinham crido nele; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus não
fora ainda glorificado” (Jo 7,37-39). Lembremos que, conforme a mais antiga
tradição de interpretação, “seu seio” é o seio de Jesus. A glorificação de Jesus
aconteceu para são João na cruz, pois, aludindo a sua ascensão, Jesus diz, na
conversa noturna com Nicodemos, que o Filho do Homem deve ser levantado, como
Moisés levantou a serpente no deserto (cf. Jo 3,13s). Ora, sendo exaltado na
cruz, jorraram do lado de Jesus rios de água viva, que simbolizam o Espírito
Santo. Nesse contexto da doação do Espírito Santo na hora da exaltação na cruz
podemos também entender as palavras com as quais são João descreve a morte de
Jesus: “… e entregou o espírito” (Jo 19,30). Já que quase sempre nas afirmações
do quarto evangelista devemos contar com um segundo sentido profundo, além do
primeiro óbvio, certamente não se pode excluir que são João, com essas
palavras, tenha querido dizer também que Jesus deu o Espírito prometido, além
de ter entregue sua vida nas mãos do Pai.
O evangelho de são João não
conhece pentecostes como dia da vinda do Espírito Santo e do nascimento da
Igreja. Para ele também o último ato da páscoa de Jesus, da sua passagem deste
mundo para o Pai, que é a doação do Espírito Santo, coincide com a
páscoa da morte e ressurreição. No entanto, no evangelho de são João não falta
totalmente um desdobramento da páscoa, da sua paixão e glorificação e da doação
do Espírito Santo. Pois, no dia da ressurreição, Jesus aparece vivo no meio dos
apóstolos e lhes diz: “’Como o Pai me enviou, também eu vos envio’. Dizendo
isso, soprou sobre eles e lhes disse: ‘Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem
perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão
retidos’” (Jo 20,21-23). As palavras “como o Pai me enviou” dizem claramente
que a missão de Jesus continua naquela dos apóstolos, isto é, da Igreja. Mas,
para que essa missão seja possível, Jesus dá o Espírito Santo. E logo ele diz
também em que consiste essa missão: em perdoar ou reter os pecados. Essas
palavras geralmente foram entendidas como sendo do sacramento da penitência.
Mas o perdão dos pecados não se restringe a esse sacramento. O primeiro
sacramento do perdão é o batismo, e na eucaristia nos é oferecido o sangue de
Jesus derramado pela remissão dos pecados. Também à unção dos enfermos
atribuímos em certos casos o perdão dos pecados que não foram perdoados
anteriormente. Podemos ver resumida nestas palavras de Jesus sobre o perdão toda
a missão da Igreja, em continuidade com a missão de Jesus mesmo, que ele
formulou conforme o evangelho de são Marcos nestes termos: “Cumpriu-se o tempo,
e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1,15).
Em todo o caso, também no dia da sua ressurreição Jesus expressou, pelas suas
palavras e pelo seu sopro sobre os apóstolos, querer que sua missão no mundo
continuasse na Igreja e particularmente na celebração do perdão dos pecados,
pela presença e ação do Espírito Santo.
São Lucas descreve, no seu
evangelho e nos Atos dos Apóstolos, a origem da Igreja e da liturgia de outra
maneira. Mas também para ele é o Senhor exaltado que envia do Pai o
Espírito Santo e faz assim nascer a Igreja com sua atividade central, que é a
liturgia. Que haja conforme são Lucas um espaço de tempo de 40 dias entre a
ressurreição e a ascensão de Jesus e que dez dias mais tarde venha o Espírito
Santo, é secundário em relação à origem da Igreja e da liturgia pela vinda do
Espírito Santo. Significativo é que eles “estavam todos reunidos no mesmo
lugar” (At 2,1), certamente rezando, como logo depois da ascensão do Senhor,
quando “unânimes perseveraram na oração” (At 1,14), quando veio o Espírito
prometido. E a pregação de são Pedro, logo depois da descida do Espírito, não é
como uma liturgia da Palavra que introduz a liturgia sacramental do batismo dos
três mil no dia de pentecostes? São Pedro já tinha explicado de antemão que a
última finalidade da conversão e do batismo fosse o dom do Espírito Santo aos que
iam ser batizados (cf. At 10,37s). Logo no nascimento da Igreja os apóstolos
exerceram a missão, que era também a de Jesus, na força do Espírito recebido.
O pentecostes de Jerusalém, 50 dias depois da
ressurreição de Jesus, repetiu-se. Houve nascimento da Igreja não apenas na
morte de Jesus e no dia de pentecostes, mas também determinadas Igrejas
particulares tiveram sua origem pela vinda do Espírito de Deus, conforme nos
relatam os Atos dos Apóstolos. Foi o que ocorreu na Samaria, onde os discípulos
recém-batizados por Filipe receberam — pela imposição das mãos dos apóstolos
são Pedro e são João — o Espírito de Deus e assim uniram-se à Igreja de
Jerusalém (cf. At 8,14-17). Na casa do centurião romano Cornélio de Cesareia,
onde Pedro batizou os primeiros gentios, veio sobre eles o Espírito Santo (cf.
At 10). Igualmente em Éfeso, onde Paulo batizou, em nome de Jesus, os
discípulos de João Batista (Ef 19,1-6). Em todos esses casos, foi celebrando
que as Igrejas nasceram.
De fato, podemos fazer nossa a afirmação de tantos
padres da Igreja antiga, e que sempre de novo se repetiu: como o Filho de Deus
assumiu um corpo humano pela descida do Espírito Santo sobre a virgem Maria,
assim nasceu seu corpo místico pela descida do mesmo Espírito, completando-se
desta maneira a páscoa do Senhor no nascimento da Igreja com a sua liturgia.
Nesse contexto podemos logo lembrar que o mesmo Espírito desce sobre o pão e o
vinho que apresentamos na eucaristia, e dá assim origem ao corpo eucarístico de
Cristo. Podemos, com toda a razão, dizer que o Espírito Santo é a alma da
Igreja, que especialmente na liturgia se manifesta e realiza como corpo de
Cristo com seus muitos membros.
2. O Espírito Santo na liturgia
da Igreja apostólica
Melhor e mais detalhado do que
qualquer outro escrito do Novo Testamento, são Paulo nos mostra nos capítulos
11 a 14 da 1ª carta aos Coríntios como na Igreja apostólica se celebrou a
liturgia. Notemos que ele desenvolve sua teologia do corpo de Cristo e dos dons
ou carismas do Espírito Santo dentro deste contexto litúrgico. Lembremos também
que o apóstolo usa o termo “ekklesia” tanto quanto fala da
Igreja como unidade dos cristãos ou corpo de Cristo, quanto das assembleias dos
cristãos de Corinto (por exemplo: 1Cor 11,18.22; 12,28; 14,4.5.19.23.28.33-35).
Deve ser claro também que são Paulo, sobretudo nos capítulos 12 e 14 desta
carta pensa pelo menos em primeiro lugar, quando ele fala de ministérios,
naqueles que nós chamaríamos litúrgicos.
Ora, todos os dons ou carismas, todos os
ministérios, toda a vida e atividade da Igreja, especialmente da Igreja reunida
em assembleia, vêm, para são Paulo, do Espírito Santo. Os dons são simplesmente
chamados de dons do Espírito (12,1). É o mesmo Espírito que cuida da vida e do
crescimento da Igreja, que lhe deu a vida. E, por outro lado, é neste Espírito
que nós podemos chamar Jesus de Senhor (12,3).
Aquilo que são Paulo diz nesses
capítulos aos coríntios sobre o Espírito Santo na liturgia, combina
perfeitamente com outras afirmações dele sobre a presença e ação do Espírito
Santo na Igreja. Lembremos, neste momento, apenas alguns textos que nos falam
em geral, mas claramente da ação do Espírito Santo em relação à liturgia.
Textos quase paralelos àquele no qual ele diz que não podemos dizer “Jesus é o
Senhor”, a não ser no Espírito Santo (1Cor 12,3), encontramos nas cartas aos
Romanos (8,15) e aos Gálatas (4,6), onde lemos que podemos chamar Deus de Pai
porque recebemos o Espírito de filiação. Este Espírito nos foi dado no batismo,
e é sobretudo na celebração litúrgica que chamamos Deus de Pai. No
mesmo capítulo da carta aos Romanos são Paulo escreve: “Não sabemos o que pedir
como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e
aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito; pois, é
segundo Deus que ele intercede pelos santos” (8,26s). Em todo o caso, já a
partir desses textos de são Paulo podemos chegar à conclusão de que ele escreve
com plena razão na carta aos Filipenses: “Prestamos culto pelo Espírito de
Deus” (3,3).
Resta ainda fazer uma referência à relação da
liturgia com a vida dos membros da Igreja, da sociedade e do mundo. Encontramos
um exemplo eloquente, para nos mostrar como são Paulo vê esta relação, em 1Cor
11,17-34. É bom lembrar que, imediatamente após esse texto, seguem as
explicações de são Paulo sobre o corpo de Cristo e os múltiplos dons do
Espírito Santo, que visam à união e à edificação da comunidade. São Paulo
repreende os coríntios não porque fizessem eventualmente algo de errado na
celebração da eucaristia como tal, mas porque eles não vivem aquilo que
celebram: a união dos membros do corpo de Cristo e o amor fraterno, que são
dons exímios do Espírito de Deus para a edificação da Igreja. Os coríntios
procuram o próprio proveito e não se doma semelhança de Jesus, que se entregou
na última ceia e no seu amor até o fim.
Nesse contexto, podemos ainda lembrar que são Paulo
usa o termo “liturgia” geralmente no sentido de uma obra de caridade (Rm 15,27;
2Cor 9,12; Fl 2,25.29s) ou para o ministério do evangelizador (Rm 15,16; Fl
2,17). Nesse último texto da carta aos Romanos são Paulo se apresenta como
“‘liturgo’ de Cristo Jesus para os gentios, a serviço do evangelho de Deus, a
fim de que a oblação dos gentios se torne agradável, santificada pelo Espírito
Santo” (Rm 15,16). São Paulo diz, portanto, que só pela ação do Espírito Santo
também a “liturgia” da vida é um sacrifício agradável a Deus. Mas é
precisamente nisso que são Paulo vê o último sentido da sua missão como da
missão de todos os cristãos: “Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a
que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e imaculada a Deus: este é
o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1). E era exatamente esta a missão de Jesus,
do Servo do Senhor, sobre o qual repousava o Espírito de Deus, para que
evangelizasse os pobres. Foi este sacrifício espiritual que Jesus completou na
cruz e que ele nos mandou viver na vida e celebrar na liturgia.
3. O Espírito Santo na liturgia
ao longo da história
Não é possível neste artigo apresentar toda a
história da consciência da Igreja sobre a presença e ação do Espírito Santo em
sua liturgia. Dos primeiros tempos da Igreja, antes da formação das diferentes
famílias litúrgicas, temos poucos documentos a esse respeito. Na patrística
grega, no entanto, eles são frequentes. As liturgias orientais que se formaram
naquela época mostram uma forte pneumatologia. Mas na liturgia romana
prevaleceu certo cristomonismo, que corresponde à prevalência do cristomonismo
na teologia e espiritualidade em geral. Isso se observa particularmente na
eclesiologia ocidental, que insistiu mais na dimensão cristológica e nos
elementos institucionais, ao passo que deixou os elementos carismáticos em
segundo plano e apresentou a função do Espírito Santo como subalterna na obra
de Cristo e como garantia da instituição. Tal cristomonismo observa-se também
na doutrina sobre os sacramentos: eles devem ser instituídos por Cristo, neles
Cristo e sua obra estão presentes. Nem há uma invocação explícita dó Espírito
Santo no cânon romano. Tudo isso dá a impressão de que existe grande falta de
sensibilidade pneumatológica na teologia e na liturgia ocidentais. Aliás, uma
própria teologia litúrgica desenvolveu-se apenas em nosso século, no movimento
litúrgico. Mas nem ela deixou de ser cristomonista. A melhor prova disso são a
encíclica “Mediator Dei” do Papa Pio XII, de 1947, e a constituição do Concílio
Vaticano II sobre a sagrada liturgia.
4. O Espírito Santo na
constituição do Vaticano II sobre a liturgia
No esquema para a constituição
conciliar (“Sacrosanctum Concilium”) sobre a liturgia, que a
comissão preparatória tinha elaborado, o Espírito Santo era mencionado apenas
três vezes, e, mesmo assim, muito rapidamente. Citando Ef 2,21ss, o artigo 2
disse: “A liturgia… edifica aqueles que estão na Igreja em templo santo do
Senhor, em habitação de Deus no Espírito”. E o artigo 6, citando Rm 8,15: “Pelo
batismo os homens recebem o espírito de adoção de filhos, no qual clamamos
‘Abba, Pai’”. Finalmente, no artigo 43, citando o papa Pio XII: “A preocupação pelo
incremento e renovação da liturgia é justamente considerada como uma passagem
do Espírito Santo pela sua Igreja”.
Longe de quererem determinar a natureza da
liturgia, essas afirmações supõem, no entanto, uma propriedade essencial da
liturgia, que a liga com a ação do Espírito Santo. São suas duas componentes: a
linha descendente e a linha ascendente; isto é, a ação salvífica de Deus e a
resposta cúltica da Igreja. A primeira é apenas insinuada, quando se fala da
edificação em habitação de Deus no Espírito. A segunda é mais bem articulada
pela constatação de que o Espírito de Deus nos capacita à glorificação de Deus.
Os padres conciliares, sobretudo
os do Oriente, notaram e chamaram a atenção para o fato de que o Espírito Santo
tinha sido quase esquecido no esquema da constituição sobre a liturgia. Isso
aconteceu sobretudo porque o esquema era, nas suas afirmações teológicas,
fortemente baseado na encíclica “Mediator Dei” do Papa Pio XII, na
qual dominava uma visão cristológica da Igreja e da liturgia, enquanto o
elemento pneumatológico estava quase ausente. No entanto, como já vimos, por
essa via a encíclica e o esquema conciliar estavam bem dentro da tradição
ocidental.
Na última hora o esquema
conciliar foi corrigido por três acréscimos que tinham por objetivo dar um
colorido pneumatológico à constituição “Sacrosanctum Concilium”. Embora essa
meta não tenha sido alcançada, deu-se forte acento nesse sentido, especialmente
com o terceiro acréscimo feito. No artigo 5, onde se fala da missão do Filho de
Deus, inseriu-se “ungido pelo Espírito Santo”. No artigo 6, onde lemos que
Cristo enviou os apóstolos, acrescentou-se “cheios do Espírito Santo”.
Evidentemente, os padres conciliares acharam importante salientar, para uma
adequada compreensão da liturgia, que nela a Igreja exerce sua missão — como a
exercia Jesus — no Espírito Santo.
O terceiro acréscimo, no fim do artigo 6, é o mais
importante. Depois de ter falado da ação litúrgica da Igreja apostólica, o
Concílio constata que desde pentecostes “a Igreja nunca deixou de reunir-se
para celebrar o mistério pascal: lendo tudo quanto nas Escrituras a ele se
referia, celebrando a eucaristia… para louvor de sua glória” — e aqui foi
acrescentado: “pela força do Espírito Santo”.
A constituição sobre a sagrada liturgia foi o
primeiro documento discutido e aprovado pelo Concílio Vaticano II. O Espírito
Santo, entretanto, foi descoberto tarde demais para ter o seu devido peso neste
primeiro documento conciliar. Durante a discussão dos demais documentos, ele
estava mais presente na consciência dos padres conciliares. Sem recuperar
plenamente o que foi omitido na constituição sobre a liturgia, o Concílio
chegou a exprimir, algumas vezes explicitamente, a dimensão pneumatológica da
liturgia. Lemos, por exemplo, no artigo 50 da constituição sobre a Igreja que
na liturgia “o Espírito Santo age sobre nós mediante os sinais sacramentais”. O
artigo 5 do decreto sobre os presbíteros diz primeiro que Cristo exerce na
liturgia o seu múnus sacerdotal em nosso favor “por meio do Espírito” e, mais
adiante continua dizendo: “Na santíssima eucaristia está contido todo o bem
espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa páscoa e pão vivo, que dá
aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito
Santo”.
Mesmo não tendo dado, em seus documentos, ao
Espírito Santo o lugar que lhe compete na liturgia, o Concílio Vaticano II
abriu para ele uma porta que não se fechou mais. Pelo contrário, na fase
pós-conciliar, quando foram elaborados os novos livros litúrgicos, essa porta
se abriu mais, de modo que podemos dizer que o Concílio também, a esse
respeito, significou uma volta às fontes, às origens da liturgia cristã, que
nasceu e se celebrou sempre, embora em nosso passado ocidental por muito tempo
inconscientemente, pela força do Espírito Santo.
https://www.vidapastoral.com.br/artigos/liturgia/o-espirito-santo-na-liturgia/
Nenhum comentário:
Postar um comentário