VOCAÇÃO À VIDA
Dom
Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Caros
amigos, Deus em sua obra criadora dá o ser e a vida a tudo o que existe; forma
o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, fazendo-os sinais visíveis e
instrumentos eficazes de sua gratuidade e liberdade.
Nas
primeiras páginas da Sagradas Escrituras lemos que Deus chama o homem à vida
quando lhe inspira nas narinas o sopro da existência (cf. Gn 2,7). Este chamado
é perpetuado mediante a cooperação livre e responsável dos esposos no
gravíssimo dever de transmissão da vida humana (cf. Humanae vitae, 1). Por meio
do dom da fecundidade, o homem participa do poder criador e da paternidade
divina (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2367).
Toda
a obra criadora manifesta o amor de Deus, e de modo mais pleno a vida que é
dada ao homem, assim como a vocação a uma participação no seu próprio ser. É no
seio da família, de onde emana a vida, que encontramos o reflexo deste amor
criador (cf. Gratissimam Sane, 2).
Deus
nos conhece antes mesmo de sermos concebidos no seio materno, antes de nosso
nascimento nos consagrou e deu-nos uma missão (cf. Jr 1,5). É verdade que não
pedimos para nascer, mas todos os dias somos impulsionados a uma resposta livre
ao chamado amoroso de Deus. A vida é nossa primeira vocação!
A
Igreja crê e ensina que a vida humana, mesmo se débil e com sofrimento, é
sempre um esplêndido dom da Criação. Contra o pessimismo e o egoísmo que
obscurecem o mundo, a Igreja está do lado da vida: e em cada ser humano sabe
descobrir o esplendor do Sim do próprio Cristo (cf. Familiaris Consortio, 30).
Contudo,
vivemos um contexto social e cultural que torna cada dia mais difícil essa
compreensão. O progresso técnico-científico gera uma angústia profunda quanto
ao futuro e um fechamento no estreito horizonte da dimensão biológica da vida.
Estes dois caminhos confluem para a construção de um homem que se torna senhor
da vida e da morte, incapaz de captar o caráter transcendente do seu existir como
ser humano. “A vida torna-se simplesmente ‘uma coisa’, que ele reivindica como
sua exclusiva propriedade, que pode plenamente dominar e manipular” (Evangelium
vitae, 22).
O
Papa Francisco denuncia que a difundida mentalidade do útil, da cultura do descarte,
que escraviza os corações e as inteligências, reduz as relações interpessoais
ao interesse de troca e exige a eliminação de seres humanos que não contribuem
com a produtividade individual ou social (cf. Discurso aos ginecologistas
católicos).
A
esta contemporânea mentalidade diabólica contrapõe-se a verdade Evangélica –
“eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10) – que
reconhece na vida humana a dimensão transcendente, o sinal da obra criadora de
Deus.
Num
mundo onde se fabricam cada vez mais armas e leis que atentam contra a vida, é
urgente o nosso SIM decidido e sem hesitações em sua defesa, desde a concepção
até a morte natural.
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