REFLEXÃO
DOMINICAL III
“Matemática do perdão”
Não precisa ser muito bom em matemática para
descobrir que setenta vezes sete é igual a “sempre!” Como? Claro que sim, se
70×7=490, então 70×7=sempre. Está bem: concedamos que esta lógica matemática
não seja exatamente perfeita, mas também concedamos que na lógica de Cristo a
conta esteja bem feita. É preciso perdoar sempre porque agrada a Deus, porque
os primeiros beneficiados somos nós mesmos e porque, finalmente, é um grande
bem fraterno-social.
Perdoar agrada muito a Deus porque nos faz
semelhantes a ele. Deus perdoa sempre! Não importa quantas vezes peçamos perdão
e nem importa se são os pecados de sempre, se estamos arrependidos o Senhor nos
perdoará. É o que experimentamos no sacramento do perdão e da alegria, na
confissão. Santo Agostinho, pensando no pecado de Judas, escreveu: “se ele
tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão
teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não
teria se enforcado desesperadamente”. Não temos motivo para desesperar-nos. O
pensamento de São Máximo de Turim é irrefutável: “se o ladrão obteve a graça do
paraíso, por que o cristão não há de obter o perdão?”. Sendo assim, confiemos
sempre na misericórdia do Senhor, façamos um propósito de mudança de vida,
confessemos os nossos pecados e… Confiança, alegria, paz… Comecemos novamente!
Perdoando os nossos semelhantes, quantas vezes for preciso, estaremos imitando
o próprio Deus e essa semelhança nas ações atrairá maiores graças para as
nossas futuras decisões.
Nós somos os primeiros a aproveitar-nos da graça de
perdoar. O perdão atrai o olhar misericordioso de Deus rumo a nós e nos faz
serenos no dia-a-dia. Uma pessoa que sabe que não tem inimigo vive em paz. Como
saber que eu não tenho inimigo? É simples, é só não considerar ninguém como
inimigo. Talvez os outros possam até considerar-nos seus inimigos desde algum
ponto de vista. O problema é deles! Nós, da nossa parte, não consideraremos a
ninguém como nosso inimigo. A bondade do coração cristão é o melhor remédio
para curar os males do coração alheio. Mais cedo ou mais tarde, os outros
pensarão: “Por que mexer com uma pessoa que só quer o meu bem? Por que irritar
uma pessoa que se mostra sempre amável comigo? Por que chatear a alguém que só
quer que eu seja feliz? Por que tentar ser inimigo de alguém que não fica meu
inimigo?” Canta-se belamente essa oração, porém há maior formosura no
realizá-la: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que
eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver
discórdia, que eu leve a união”.
O perdão constrói as relações de amizade e todas as
relações sociais. Quanto há compreensão e perdão entre amigos, essa amizade
perdurará apesar dos pesares. Os nossos amigos são pessoas como nós, com
virtudes e defeitos; se nós, porém, não compreendermos que eles nem sempre se
comportarão virtuosamente é sinal de que ainda não somos bons amigos. Até Deus
permite que nós erremos, deixa que pequemos, isto é, Deus respeita até o mau
uso da nossa liberdade e… continua nos amando, nos perdoando. Nós não podemos
sufocar as pessoas sendo intransigentes e insuportáveis; ao contrário, devemos
compreender quem está no erro sem minimizar as exigências da doutrina e da
moral cristã.
Sempre assisto prazerosamente aquele belíssimo
filme de Fred Zinnemann, baseado no livro de Robert Bolt, sobre S. Tomás Moro,
“Um homem que não vendeu a sua alma”. Uma das primeiras cenas é aquela conversa
entre um cardeal pouco escrupuloso que ironiza a confiança de Tomás Moro na
oração da seguinte maneira: “então, você gostaria de governar um país com
orações?”. Tomás lhe responde decididamente: “sim, gostaria”. Poderíamos
parafrasear essa ideia: construir as relações sociais sob o perdão? E
respondamos com toda paz: sim, é possível.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0345.htm#msg01
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