sexta-feira, 1 de setembro de 2023

REFLEXÃO DOMINICAL III SEGUIR O SENHOR

 

 

REFLEXÃO DOMINICAL III

SEGUIR O SENHOR

 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

Iniciamos o mês de setembro, mês temático que no Brasil dedicamos a Sagrada Escritura. A liturgia deste XXII domingo do tempo comum, nos leva a refletir sobre a nossa caminhada com Deus. Em Mt 16, 21-27, Jesus anuncia aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é semelhante. Pedro não concorda e começa a “repreendê-Lo”. Jesus no Evangelho vai dizer aos seus seguidores: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24b).

A primeira leitura Jr 20, 7-9 – o versículo que nos ilumina é: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos zombam de mim” (Jr 20,7). Vemos que o profeta Jeremias reluta e reclama da dificuldade que ele está tendo para anunciar a Palavra de Deus, mas, Deus mesmo assim o seduz e por isso o profeta tem em Deus uma força interior para continuar mesmo em meio as dificuldades a levar seus ensinamentos. Deus de maneira nenhuma abandona os seus, mas, coloca-se ao lado de cada mensageiro.

A segunda leitura Rm 12, 1-2 – nos mostra que devemos moldar a nossa vida conforme a vontade de Deus. “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito!” (Rm 12, 2). Aqui lembramos que cada um de nós deve ser fermento na massa, ou seja, em meio as várias situações onde existem atitudes que fogem do comportamento cristão e ético, devemos iluminar com a nossa prática diária a nossa vida e a vida daqueles que nos cercam. O grande exemplo é Cristo Jesus. Ele em meio a tantas injustiças, anunciou que não devemos pactuar com o erro, mas, devemos reconhecer que somos pecadores e assim se colocar num caminho-processo de conversão. Em todas as nossas ações e atitudes, devemos sempre nos perguntar: estou fazendo a vontade de Deus? O que o Senhor faria em meu lugar? Se fizemos o bem e pregamos o amor, estamos no caminho, mas, se por ventura fraquejamos, tenhamos força no Senhor para fazer à vontade d’Ele. É necessário sempre para cada um de nós a humildade e a força de sempre fazer a vontade de Deus.

No Evangelho de Mt 16, 21-27 –  “Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir à Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. Aqui no Senhor, mostra para seus seguidores tudo aquilo que vai acontecer com Ele. Mas, Pedro se coloca da seguinte maneira: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça”. Levado pelo sua concepção de Messias, Simão procura afastá-Lo do caminho da Cruz, sem compreender ainda que ela será um grande bem para a humanidade e a suprema demonstração do amor de Deus por nós.

O Evangelho fala de duas lógicas sem acordo: não se pode abraçar a sede louca do mundo de se dar bem a qualquer custo, de possuir tudo, de viver sempre no sucesso e no acordo com todos e, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão radical, tão contra a corrente. Vale para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” Queridos irmãos e irmãs, olhem o Cristo, pensem no seu caminho e escutem a palavra do Senhor a nós, seus discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la!” Renunciar-se, tomar a cruz por causa de Jesus… por causa dele! Não há, não pode haver outro caminho para um cristão! Qualquer outra possibilidade é ilusão humana!

Contudo, somos convidados a sempre fazer a vontade de Deus e assim trilhar o seu caminho sem esquecer a nossa cruz. Assim, nos diz o saudoso São João Paulo II: “A Cruz é o livro vivo em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós” (Alocução, 01/04/1980). Seguir Cristo é entrar no seu caminho, é, em união com ele, fazer-se sacrifício agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo Espírito do Cristo crucificado e ressuscitado.

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