REZAR PELOS MORTOS: NOSSO COMPROMISSO
DE FÉ!
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
(RJ)
As
orações, na intenção das pessoas que já faleceram, são expressão da ligação e
do amor que temos para com elas. Através das nossas preces, gostaríamos de
ajudá-las no momento da morte a se decidirem por Deus. É um sinal do nosso amor
e da nossa solidariedade. Para o amor, a morte não é um limite. Na morte de um
cristão, as possibilidades de se ajudar e de se doar não deixam de existir.
Encontramos essa prática já no Antigo Testamento. Um dos testemunhos mais
claros está em 2Mc 12,38-45, onde encontramos além da fé na ressurreição, a
prática de oração e ajuda pelos mortos. Claro que precisamos compreender este
auxílio e purificação após a morte dentro da prática da Igreja que chamamos de
comunhão dos santos.
Fazemos parte do corpo
de Cristo que é a Igreja. Ensina-nos o Concílio Ecumênico Vaticano II, na
Constituição Dogmática Lumem
Gentium 49, que essa Igreja é peregrina na terra, triunfante
no céu e padecente nesse processo de purificação. Por formarmos um único corpo,
é que podemos ir em socorro dos nossos irmãos e irmãs falecidos, assim como
podemos contar com a intercessão dos santos e santas que já estão junto de
Deus. Ou seja, assim como no nosso corpo humano um membro beneficia o outro, no
corpo espiritual, que é a Igreja, acontece o mesmo, o bem de cada um dos
membros comunica-se a todos (1Cor 12,26).
Fique
claro que não nos comunicamos com os mortos, mas fazemos comunhão com eles por
meio do amor e da oração. Nós amamos na terra, eles nos amam no céu, nós
rezamos na terra, eles louvam nos céus. E não há dúvidas que assim como temos o
auxílio dos santos, nós podemos, com nossas orações, ajudar os que já morreram.
Na
oração pelos mortos como fazemos na Santa Missa que celebramos, não existe
barreira entre céu e terra, entre vivos e mortos. Na Santíssima Eucaristia,
participamos do banquete eterno, que os nossos entes queridos celebram, agora,
junto com Deus. Podemos experienciar a comunhão com eles, que celebram as bodas
eternas no mesmo momento.
Tenhamos
presente que rezamos pelos mortos. Os bem-aventurados (santos) não precisam das
nossas orações, por isso rezamos com eles invocando a sua intercessão. E
rezamos pelos mortos na certeza de que nossas preces podem ajudá-los no
encontro definitivo com Deus.
Vale
lembrar que é parte da nossa fé a doutrina do purgatório. E é aqui que se
justifica a nossa oração pelos mortos. Mas tenhamos presente que purgatório não
é lugar. Por isso, não devemos pensá-lo nas categorias de tempo e espaço. Como
se uma pobre alma permanecesse ali por tanto tempo afim de expiar os pecados.
Alguns teólogos católicos compreendem o purgatório como sendo a imagem do
encontro pessoal com Deus. No encontro com Ele, que nos ama, reconhecemos a dor
que causamos aos outros com nossos pecados e sofremos a dor do arrependimento.
Não podemos dizer quanto tempo leva essa dor, pois como dizíamos, fugimos das
categorias de tempo e espaço.
Como
dificilmente nos encontramos preparados para a morte, cremos na possibilidade
da solidariedade na expiação dos pecados de uns pelos outros. Uma vez que após
a morte não é possível fazer mais nada por si mesmo, os que morrem no pecado
têm necessidade da intercessão dos outros membros da Igreja. Desse modo, como
membros do Corpo de Cristo, podemos auxiliar nossos irmãos que morreram no
pecado com nossas orações.
Santo
Agostinho diz que as obras de misericórdia são a melhor ajuda que podemos
prestar aos mortos. Ou seja, o bem que ficou a meio caminho naqueles que
morreram, continua a ser feito em comunhão com o bem praticado pelos que amam
seus mortos. Nossa oração é uma expressão do nosso amor. Gostaríamos de poder
mostrar que não os esquecemos, que eles nos são importantes.
O
sete é um número simbólico e na Bíblia indica perfeição, uma oração contínua em
favor dos nossos entes queridos. Até porque, recordamos que na obra da criação,
o 7º dia é o dia do descanso (Gn 2,3), e nós rezamos pelo descanso eterno da
pessoa que morreu. Mas também temos a tradição do luto de sete dias que nós
encontramos na Bíblia: José fez um luto de sete dias pelo seu pai Jacó (Gn
50,10); Saul foi enterrado e fizeram um jejum de sete dias (1Sm 31,13); O povo
chorou a morte de Judite durante sete dias (Jt 16,24); O luto por um morto dura
sete dias (Eclo 22,13). E esse período de luto é comumente concluído, na
tradição católica, com a missa de 7º dia.
O
sete é uma medida temporal, vale para nós, enquanto Igreja Peregrina, enquanto
seres medidos pelo tempo. Mas não vale mais para os nossos mortos, pois
passados pelo juízo particular, eles participam da eternidade de Deus.
Por
isso, celebrar a Eucaristia por alguém falecido é expressão da nossa comunhão.
Continuamos lembrando dele, não o abandonamos, o consideramos parte de nós. E é
muito importante que quando encomendamos uma intenção de missa, participar da
celebração. É muito triste quando, às vezes, inclusive em missas de 7º dia,
nenhum familiar encontra-se na Igreja. Não deveríamos terceirizar o nosso amor
por um ente que chamamos de querido.
Neste
sentido, do dia 1º ao dia 8 de novembro, aos fiéis que visitarem o cemitério e
rezarem, mesmo só mentalmente, pelos defuntos, concede-se uma Indulgência
Plenária, só aplicável aos defuntos: diariamente, do dia 1º ao dia 8 de
novembro, nas condições de costume, isto é: confissão sacramental, comunhão
eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice. Neste ano, devido a
pandemia, esse prazo foi prorrogado até o final do mês pela Penitenciaria
Apostólica. Isso já aconteceu no ano passado.
Ainda
neste dia, em todas as Igrejas, oratórios públicos ou semipúblicos, igualmente
lucra-se uma Indulgência Plenária, só aplicável aos defuntos: a obra que se
prescreve é a piedosa visitação à Igreja, durante a qual se deve rezar a Oração
Dominical e o Símbolo (Pai nosso e Creio) confissão sacramental, comunhão
eucarística e oração na intenção do Sumo Pontífice (que pode ser um Pai Nosso e
Ave Maria, ou qualquer outra oração conforme inspirar a piedade e devoção).
Reze
hoje pelos que te precederam na vida eterna. Amanhã, outros também irão rezar
por ti! Que os fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz.
Amém!
https://www.cnbb.org.br/cardeal-orani-rezar-pelos-mortos-compromisso-de-fe/
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