REFLEXÃO
DOMINICAL II
33º
DOMINGO DO TEMPO COMUM – 19 de novembro
Por Aíla L. Pinheiro de
Andrade, nj
I-
Introdução
geral
A liturgia de hoje esclarece que Deus
nos confiou dons a serem postos em prática. Isso significa que cada dom nos
impele a um serviço dentro da dinâmica do reino de Deus. O dom que recebemos
exige de nós um compromisso de trabalhar por um mundo melhor. O evangelho não é
para ser retido, mas para ser proclamado e posto em prática. Contudo, além de
um engajamento no projeto de Deus, as leituras de hoje nos exortam ao
testemunho. Precisamos ser testemunhas comprometidas com o reino de Deus.
Desde os tempos de Cristo, o evangelho
foi visto com desdém pela maioria das pessoas. Por isso ainda hoje algumas
vivem numa apatia da fé. São cristãos acomodados: sua fé é apenas um conjunto
de verdades, e não dão um testemunho de vida. Muitos preferem enterrar seus
talentos a ter de enfrentar o escárnio daqueles que vivem de acordo com a
mentalidade geral da sociedade atual.
II-
Comentários
aos textos bíblicos
- Evangelho (Mt 25,14-30):
Vigilantes e fiéis ao talento recebido
A parábola narrada no evangelho de
hoje destaca dois exemplos opostos: há pessoas que fazem frutificar os dons
confiados, enquanto outras, ao contrário, privam a si mesmas e aos outros dos
dons por causa do medo e da apatia.
Os talentos que cada um recebe devem
ser administrados. São nossos, mas permanecem sempre pertencendo ao Senhor, que
os confiou a nós, e devem estar a serviço dele. Podemos dizer que tudo é nosso,
mas é nosso para que o desenvolvamos e o coloquemos a serviço dos outros. A
parábola põe em relevo a responsabilidade humana e, principalmente, dos
cristãos. O evangelho é um valor que nos foi confiado, e devemos fazê-lo render
no mundo em que vivemos.
É uma parábola para nos ajudar a
avaliar nosso comprometimento com o evangelho, para descobrir a vida cristã
como uma tarefa ou dom que devemos receber com gratidão, querendo que produza
frutos. O talento principal que recebemos, o que nos vem pelo evangelho, é a
vida tal como ela é, com sua capacidade de receber amor e de compartilhá-lo.
Dessa forma, fazer render o talento é simplesmente desenvolver essas
capacidades humanas, sobretudo deixar-se amar e comprometer-se a edificar um
mundo no qual haja mais amor e misericórdia.
O contrário disso é o comodismo, o
medo de lutar para que haja mais paz e amor, comodismo que é consequência de
deixar-se vencer pelo receio de não dar certo, medo de frustrar-se na busca do
bem. A parábola nos chama a atenção para a ousadia da fé, provoca-nos a nos
arriscarmos na esperança, para deixarmos que nossa vontade seja movida pelo
amor.
- I leitura (Pr
31,10-13.19-20.30-31): Igreja preparada pela prudência
A primeira leitura exalta os valores
que devem revestir a pessoa que é virtuosa: vigilância, compromisso e
generosidade. É exaltando essas características que termina o livro dos
Provérbios, descrevendo todos esses aspectos a partir da imagem de uma mulher
trabalhadora, bondosa e prudente. Essa mulher descrita pelo livro dos
Provérbios administra sua casa com diversas pessoas, incluindo numerosa família
com vários empregados. A prudência dessa mulher evita que essas pessoas passem
necessidades, pois, além de ser previdente, ela está preparada para solucionar
algum problema que apareça de surpresa.
Trata-se de pessoa que administra os
bens da família, a agricultura, a vinha e os teares e oficinas artesanais que
confeccionam peças de lã e de couro. Apesar de o marido ser elogiado por causa
dela, essa mulher do livro dos Provérbios não é mero acessório para o marido,
mas é valorosa em si mesma. É igual a tantas mulheres de nossa época que mantêm
sozinhas a família com o próprio trabalho unido à sua capacidade administrativa,
trazendo o bem para a família em todas as atividades que fazem. Essas mulheres
são símbolo da perspicácia e da prudência. E por isso são metáfora da Igreja,
que, estando na história, aguarda e prepara a vinda do Senhor.
- II leitura (1Ts 5,1-6):
Que a vinda do Senhor não vos surpreenda
É possível que os tessalonicenses
tenham perguntado a Paulo sobre o tempo da parusia, da vinda do Senhor. Paulo,
entretanto, não dá uma resposta direta “quanto ao tempo e à hora” (v. 1), ao
contrário, mostra que ignora esse dado completamente (v. 2 e 10) e insiste na
vigilância e na sobriedade com a qual devemos viver em função daquele momento
ignorado, para que não sejamos pegos de surpresa quando este chegar. Os
tessalonicenses devem estar bem esclarecidos que será uma surpresa, “que o dia
do Senhor virá como ladrão, de noite”, ou “como as dores de parto sobre a
mulher grávida” (v. 2-3).
Mais do que ficarmos preocupados com
quando irá acontecer a segunda vinda do Senhor, nós devemos levar a sério os
conselhos de Paulo, a saber, que a incerteza e a surpresa da vinda do Senhor
trazem consigo a necessidade de estarmos sempre preparados, vivendo na
fidelidade aos ensinamentos de Jesus.
III.
Pistas para reflexão
Vivemos em uma época com séria crise
de convicções: temos dificuldades para assumir compromissos e para nos
mantermos neles. Nunca se presenciou tanto uma apatia da fé. As pessoas se
comovem com acontecimentos mundiais nos noticiários da televisão, mas não
ajudam o vizinho, o colega de trabalho ou o necessitado com o qual se deparam
na rua. A espera pelo Reino exige de nós a generosidade do engajamento e do
testemunho de vida contra a apatia da fé daqueles que enterram seus talentos.
Muitas pessoas se preocupam com o fim
do mundo e esquecem-se do fator mais importante: a vinda de Jesus para colocar
as coisas em ordem, para nos proporcionar a paz e a harmonia que tanto
desejamos. Viveremos em um mundo sem o mal, isso é o essencial da vinda de
Jesus. Portanto, não devemos ficar preocupados nem curiosos para saber quando
será ou como acontecerá. O mais importante não é saber quando, mas estar
preparado, vivendo de acordo com o que Cristo ensinou.
Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj
Aíla L. Pinheiro de
Andrade, nj, é graduada em Filosofia e em Teologia. Cursou mestrado e doutorado
em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE (MG).
Atualmente, leciona na pós-graduação em Teologia na Universidade Católica de
Pernambuco, UNICAP. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas –
teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/33o-domingo-do-tempo-comum-19-de-novembro/
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