REFLEXÃO
DOMINICAL III
COMO NÃO SER SURPREENDIDOS POR AQUILO QUE ESTÁVAMOS
ESPERANDO?
A demora dos
acontecimentos nos induz a pensar que eles não terão um desfecho, que a porta
não vai se fechar. O estender-se do tempo nos faz pensar que ele é eternidade.
Mas, nesse mundo, isso nunca será verdade. O tempo está constante- mente
passando. Nós envelhece- mos sem perceber. Quando nos damos conta, a idade nos
surpreende. Um filho cresce e a gente nem nota. Estranhamos que esteja pela
nossa cintura e depois perdemos a marcação, até que ele se casa e vai embora. E
nos surpreendemos por- que achávamos que ele era apenas um bebê. Tudo isso
acontece, aparentemente à nossa revelia, exatamente porque acontece aos poucos,
de forma gradual. Isto é, porque não envelhecemos de uma hora para outra, mas
estamos envelhecendo o tempo todo. Como isso acontece devagar, a gente não
percebe. Porque não vamos ficar prestando a atenção numa coisa que demora
tanto, e que devagar, não percebe- mos. A demora passada pode fazer parecer que
haverá demora futura também, que sempre faltará muito tempo para o desfecho.
Mas o tem- po futuro pode ser muito mais reduzido que o tempo do passado. O
ritmo das coisas não segue o nosso ritmo nem expectativa. Assim, não podemos
querer apoderar-nos do tempo. Então, o segredo é viver- mos o presente, mas sem
esquecer do que vai chegar. Para os momentos definitivos, que não sabemos
quando chegam, de- vemos estar preparados. Não po- demos viver de forma
neurótica, pensando apenas no fim; mas, de maneira realista, devemos viver o
momento e aproveitar as possibilidades sem, contudo, esquecer que existe um
fim. Dormir não significa distração! Desde que estejamos preparados para a hora
de acordar. Previdência e imprevidência são as qualidades descritas na pará-
bola que Jesus contou sobre dez jovens que deveriam esperar o noivo chegar.
Curiosamente, tanto as previdentes quanto as imprevidentes sentiram que o
Senhor estava demorando e todas adormeceram. Mas, na hora de acordar, as
previdentes puderam retomar o seu encontro imediatamente. As imprevidentes,
precisaram deixar o encontro de lado, para preparar aquilo que não tinham
preparado ainda. E, como a própria palavra diz, preparar-se significa agir previamente
e não posteriormente. Todos poderiam dormir tranquilas se estivessem todas
preparadas. Como algumas não tinham óleo suficiente, essas não deveriam ter
dormido. Quem está prepara- do pode se dar ao luxo de dormir tranquilo. Quem
não está não de- veria dormir. Pelo menos, não sem garantir que tenha
providenciado o óleo necessário para a espera e para a demora. Conta-se que São
João Bosco per- guntou certa vez a três meninos que estavam brincando, no pátio
do colégio, sobre o que fariam se descobrissem que iriam morrer dali a meia
hora. Um disse que pararia imediatamente com a brincadeira e correria para a
capela, para rezar. Outro disse que deixaria de brincar para procurar um padre
e se confessar. O terceiro, por sua vez, disse que continuaria brincando
normal- mente... Seria uma boa pergunta a fazer-nos a nós mesmos: O que faríamos
se soubéssemos que a nossa hora chegou? Além disso, é bom lembrar das palavras
das jovens prudentes às jovens imprudentes que pediam para que dividissem o
óleo. Existem coisas na vida que uma pessoa não pode fazer no lugar da outra.
Há momentos em que cada um deve estar preparado por si mesmo. Também vale
lembrar o que diz o Papa Francisco: “O tempo pertence a Deus, mas o momento
pertence a nós”.
Dom Rogério Augusto das Neves Bispo auxiliar de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário