SANTO AGOSTINHO- DA
ESBÓRNIA À SANTIDADE
Por Paulo Ricardo
Hoje
vamos falar de um Santo muito especial, meus amigos: o primeiro dos quatro
doutores do ocidente, a luz filosófica da antiguidade cristã. Ninguém mais,
ninguém menos do que Santo Agostinho!
Juntamente
com Santo Ambrósio, São Jerônimo e São Gregório Magno, Santo Agostinho nos
direciona para o cristianismo como o conhecemos. Sua influência é enorme no
mundo ocidental. Se você não o conhece, não leu pelo menos "As
Confissões", você não tem a menor ideia de onde está. O papel de Santo Agostinho nos
primeiros séculos depois de Cristo é comparável com o de São Paulo na Igreja
primitiva.
Sua
grandeza está principalmente no fato de que ele soube, como nenhum
outro, relacionar a filosofia helenista (grega) e romana com os preceitos da fé
cristã, caminho que mais tarde seria retomado com brilho pelo grande São Tomás
de Aquino. O pensamento agostiniano faz a ponte filosófica necessária do
conhecimento platônico-aristotélico para Santo Anselmo, e daí para São Tomás de
Aquino.
A
quantidade de títulos de Santo Agostinho, por si só, já dariam um post,
"Doutor da Caridade", "Doutor da Graça", Doutor da
Humildade", "Doutor da Oração" e muitos outros. Viveu na
fronteira de dois tempos: sua vida transcorreu no ocaso do Império Romano do
Ocidente e também na ascensão do cristianismo e declínio do paganismo.
Foi
um dos três homens mais inteligentes que a humanidade já conheceu. Falar de Santo Agostinho é falar
de um parelho de Aristóteles e Platão. Metafísico, filósofo, psicólogo, os
interesses de Santo Agostinho confundem-se com a meditação sobre o destino do
homem.
FAMÍLIA
Nasceu
Aurelius Augustinus em 15 de novembro de 354, na cidade de Tagaste, Numídia,
uma província romana no Norte da África (atualmente o nome da cidade é
Souk-Ahras, e fica na Argélia). Seu pai, chamado Patrício, era um pagão de
personalidade violenta.
Sua
mãe era Santa Mônica, uma mulher de bom coração, que aos poucos foi domando o
caráter agressivo do marido; ao mesmo tempo, educou Agostinho e dirigiu o
menino pelo caminho da cristianismo, fazendo dele catecúmeno. Foi Santa
Mônica a principal responsável por Agostinho vir a se tornar um santo.
CURTINDO
A VIDA ADOIDADO
Santo
Agostinho foi na juventude uma espécie de James Dean (essa referência é somente
para os fortes) da sociedade decadente do Império Romano do Ocidente moribundo.
Bom aluno, foi mandado para Cartago, o principal centro de estudos e a maior
cidade da África, uma espécie de Los Angeles para malucos superdotados e um
centro de esbórnia.
Como
todo jovem sem supervisão (tinha dezessete anos) vivia na boemia. Das suas
relações, digamos, "acadêmicas", nasceu seu único filho, Adeodato.
Apesar das suas maluquices juvenis, Santo Agostinho foi um grande pai e nunca
abandonou o filho.
Os
jovens de hoje, que se acham tão espertos, não sabem, de fato, nada. Santo
Agostinho, em 371, já vivia e sentia exatamente as mesma coisas que eles, só
que sem smartphone e
Ipad. E como eles, Santo Agostinho sentia o vazio de uma existência sem
sentido. Graças a Deus, não existia as parafernalhas de hoje, e Agostinho pôde
ler sem Kindle o diálogo "Hortêncio" de Cícero, que versa sobre a
possibilidade da eterna bem-aventurança. Vejamos um trecho:
"Se
tudo acaba com a vida presente, não é já pequena sorte o ter ocupado a
existência no estudo de assunto tão importante; se, como tudo parece indicar,
nossa vida continua depois da morte, a investigação constante da verdade é o
meio mais seguro para preparar-nos para esta outra existência."
Esse
tipo de conhecimento estava além da capacidade de seus mestres pagãos.
Agostinho sentia falta do Salvador, do Mestre dos mestres que havia conhecido
através de sua mãe. Mas para saciar sua necessidade de Jesus,
ele precisava fazer um duplo sacrifício: a submissão da inteligência e a
pureza da vida. Definitivamente, o jovem Agostinho ainda não estava
preparado para tanto.
APÓSTOLO
DO ERRO MANIQUEÍSTA
O
paganismo não era um caminho aceitável para Agostinho. Voltou-se para o estudo
das Sagradas Escrituras, mas quem lhe daria o entendimento dessa leitura? Como
sabemos, somente a Igreja Católica é capaz da fazê-lo, por sua autoridade. Mas
esse caminho é deveras difícil, por conta das crenças errôneas que confundiam
a razão de Agostinho.
Contrapunha-se
à Sã Doutrina a heresia maniqueísta, uma seita em que os mestres desprezavam os
dogmas da fé católica e adoravam às artes e letras profanas. Era um tipo de
relativismo antigo, onde o juízo pessoal era a medida fé. Sem contar que a
dualidade (Deus bom em oposição a Deus mau) era suficiente para jogar a culpa
do pecado na influência alheia. Seríamos eternos coitadinhos por essa ótica,
sempre podendo imputar a culpa dos nossos mal feitos no Deus mau. Que lindo!
Analisando
o mundo a nossa volta, podemos ver claramente que o maniqueísmo não morreu.
"Sou um menino malvado, a culpa não é minha, é do Deus mau! Eu acredito no
Deus bom! Ai de mim!". Para os moleques da época isso era muito atraente,
pois era a justificativa para qualquer bobagem que viessem a cometer.
Santo
Agostinho abraçou o maniqueísmo com toda a vontade e tornou-se um dos seus
principais apóstolos, levando para essa heresia muitos dos seus companheiros de
cátedra. Chegou até a tentar converter sua mãe, mas com Santa Mônica isso
demonstrou ser uma tremenda perda de tempo.
O
SONHO DE SANTA MÔNICA
Por
aquela época, Santa Mônica teve um sonho profético sobre seu filho rebelde. Um
anjo lhe disse:
"Onde
tu estás, ele também está."
O confessor
a quem Santa Mônica confiava suas angústias aconselhou-a a continuar rezando
por Agostinho. Graças às preces da mãe, chegaria o dia em que o filho
retornaria ao caminho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Agostinho
voltou para sua cidade natal e tornou-se professor de retórica. Mas o lugar era
pequeno demais para suas ambições e brilhantismo. Retornou a Cartago, onde suas
carreira deslanchou a ponto de buscar novos horizontes na capital do Império,
Roma.
Ao
partir da África, já tinha se desligado dos maniqueístas - perseverar em furada
não era mesmo a dele. A princípio, não adotou uma nova fé, decidiu esperar para
que a verdade se apresenta-se a ele com plena certeza.
DEUS
E PLATÃO
Em
Roma, abriu a Cátedra de Retórica nos mesmos moldes que havia feito em Tagaste
e em Cartago. Seus primeiros alunos eram os mesmos que o acompanhavam desde
Cartago, e a esses juntaram-se novos e tanto uns quantos outros que não pagavam
um centavo.
Para
se sustentar, Santo Agostinho arrumou um emprego na Cátedra de Milão, onde
entrou em contado com a obra de Platão que tinha acabado de ser traduzida por
Vitoriano do grego para o latim (observem que JÁ EXISTIA TRADUÇÕES DE PLATÃO EM
LATIM NO SÉCULO IV. Quem é que precisava de árabes, bwana!!!????). Foi o velho
filósofo que mostrou a Agostinho que a visão maniqueísta de um Deus basicamente
materialista nada tinha a ver com a realidade de um Deus criador.
AS
ORAÇÕES DE SANTA MÔNICA
Platão
foi o primeiro passo da conversão de Santo Agostinho, mas ainda não era
suficiente, pois este mostrava o verdadeiro Deus, mas não mostrava o caminho
para o convívio dos eleitos. Essa segunda etapa só seria possível ao
entregar-se nos braços de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foram as orações de sua
mãe Santa Mônica que possibilitaram esta graça. Foi a santa juntar-se ao filho
amado em Milão.
A
primeira coisa com que ela teve que lidar foi com a união ilegítima de
Santo Agostinho com a mãe de seu filho Adeodato. A mãe do menino era um mulher
de bom coração, e consentiu em separar-se de Adeodato e retornar a Tagaste,
onde viveu seus dias em retiro, servindo a Deus. Agostinho ainda não sentia-se
pronto para entregar-se a Cristo e ainda era prisioneiro de suas paixões.
Foi
por meio da mediação de Santa Mônica que Agostinho conheceu Santo
Ambrósio, bispo de Milão, de quem se tornou discípulo. Santo Ambrósio que
colocou Santo Agostinho na linha de uma vez por todas. Baixando a bola, ele
venceu seu orgulho e voltou a ler e estudar as Escrituras, em especial as
Epístolas de São Paulo, onde encontrou a cura para suas tentações do mundo (eu
mesmo preciso fazer isso sempre e sempre devemos fazê-lo, para salvação de
nossas almas).
Outro
fato interessante e que teve forte impacto em Santo Agostinho foi a conversão
de Vitorino, o filósofo que havia traduzido Platão para o latim.
ENFIM,
A CONVERSÃO
Agosto
de 386. Agostinho vivia em Milão com sua mãe, seu filho e alguns amigos. Entre
esses amigos, havia um certo Alípio, que servia-lhe como confessor de suas
angústias espirituais. Receberam um dia a visita de Ponticiano que, vendo
espalhadas sobre a mesa as cartas de São Paulo, congratulou Agostinho por se
ocupar daquele tipo de leitura.
Mas
Ponticiano não era exatamente uma sumidade intelectual; o fato daquele humilde
amigo estar mais próximo de Deus do que ele naquele momento, mesmo com toda sua
inteligência, deixou Agostinho perturbado. Agostinho parecia dividido
entre o chamado de Deus e o chamado do mundo, exatamente como quase todos
nós. Foi ao ler a seguinte passagem das cartas de São Paulo que se fez
luz em sua alma:
"Nada
de comilança, nem bebedeiras, nada de luxúria, nem de desfreamento, nada de
brigas nem invejas; ao contrário, revesti-vos de Jesus Cristo, o Senhor, e não
busqueis satisfazer os baixos instintos" (Romanos).
O
batismo de Santo Agostinho foi realizado por Santo Ambrósio, em Milão. Eles
compuseram juntos na ocasião o cântico "Te
Deum laudanus", que se tornou o hino litúrgico de ação de
graças de toda Igreja Católica. Um momento de enorme dor seguiu-se: pouco
tempos depois, Adeodato, o filho de Santo Agostinho, morreu.
Convertido,
Agostinho retornou à África, tendo junto consigo Santa Mônica. Durante a longa
viagem, fizeram uma parada em Óstia, e aí sua mãe veio a adoecer e faleceu,
cinco dias depois.
O
APOSTOLADO DE SANTO AGOSTINHO
Depois
de prantear sua mãe, Santo Agostinho iniciou seu projeto de vida religiosa. O
então bispo de Hipona, Valério, conferiu-lhe o sacerdócio em 391. A partir daí,
Santo Agostinho instituiu uma ordem religiosa (que subsiste até hoje e segue a
mesma regra) que unia o apostolado com os exercícios de claustro. Fundou também
um convento, do qual sua irmã mais velha tornou-se a primeira superiora.
Foi
após a morte de Valério que Santo Agostinho se tornou Bispo de Hipona. Suas
principais atividades como bispo foram: direção de monastérios, instrução dos
fiéis e defesa da Igreja a contra as heresias. Foi o mais severo demolidor dos
hereges arianos, maniqueístas, pelagianos e donatistas. Por jogar por terra as
ideias de todos esses manés, ficou conhecido como "Martelo dos
hereges". Acabou com o cisma dos donatistas, que destruíram o Norte da
África. Defenestrou com o pelagianismo, heresia que dizia que a graça de Deus
não era necessária para a salvação, o que lhe valeu um outro famoso título
"Doutor da Graça".
Talvez
o seu pior embate tenha sido com os arianos (para entender o que é
arianismo, clique
aqui). Os vândalos, o
nome de etnia que virou sinônimo de desordeiro, estavam destruindo tudo em seu
caminho de conquista - e eles eram adeptos do arianismo. O velho "Doutor
da Graça" já não tinha mais forças e, antes que os vândalos finalizassem o
cerco de Hipona, Santo Agostinho adormeceu e faleceu placidamente. Tinha 76
anos de idade. Seu corpo foi levado para a Itália. Em Pávia, na Lombardia, seus
restos repousam até hoje.
Fiquem
na Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
https://ocatequista.com.br/blog/item/13403-santo-agostinho-da-esbornia-a-santidade
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