REFLEXÃO
DOMINICAL III
"A PERIGOSA FÉ DA MAGIA..."
Gosto
muito de ouvir histórias de pessoas que montaram um pequeno negócio, e após
muito esforço foram bem sucedidas, tornando-se gestores de grandes empresas,
agindo sempre com ética e honestidade. O bom empreendedor é sempre ousado e
pensa “grande”, tendo uma visão audaciosa do futuro, atitude muitas vezes até
criticada e questionada pelos acomodados que pensam “pequeno” porque têm medo
de arriscar. Se o empreendedorismo é fator dos mais importantes no
desenvolvimento de uma nação, de uma empresa ou de qualquer negócio, no reino
de Deus não poderia ser diferente, porém, é preciso ter os pés no chão,
trabalhando a cada dia com vistas à grandiosidade que se vislumbra, pois o
homem de fé, mais do que ser otimista, já vai construindo no hoje da história,
o reino de Deus alicerçado pelo próprio Cristo.
No
evangelho desse quinto domingo do tempo comum, podemos perceber nitidamente
essa diferença no modo de pensar e agir, entre Jesus e os seus discípulos.
Enquanto o mestre pensa em algo grandioso, querendo expandir o projeto recém
iniciado, os discípulos estão seguros de que já alcançaram o sucesso e
demonstram grande interesse em montar ali, na casa de Simão, uma “Tenda dos
Milagres”, pois o carisma de Jesus já tinha atraído uma grande e imensa
clientela, ao curar os enfermos e expulsar os demônios, por isso aonde ele ia,
a multidão maravilhada com os sinais prodigiosos, o seguia.
Há
nesta fé da magia, a perspectiva de um negócio altamente lucrativo em todos os
sentidos, pois Jesus tem o perfil do Messias esperado, poderia ser ele o
salvador da pátria, capaz de dar a grande virada na história de Israel, e um
populismo assim, era tudo que eles queriam para concretizar a libertação com
que sonhavam. Não conseguiam vislumbrar em Jesus algo além dos seus ideais
humanos, que também eram importantes e tinham o seu valor, mas Jesus não veio
para ser o Rei dos Milagreiros, nem para ser um libertador político, pensar
assim é pensar “pequeno”, ter uma fé com essa expectativa de um Cristo
prodigioso, que interfere com seu poder na vida das pessoas, quando essas fazem
por merecer, realizando milagres e curas inexplicáveis, é menosprezar toda a
obra da Salvação, é fazer da Igreja uma simples tenda dos milagres, é abusar de
certos carismas recebidos, explorando assim a boa fé das pessoas, e
Cristianismo não é isso.
Curas
de enfermidades o Cristo as realizou ontem, e realiza também hoje, mas estas
são simples sinais de algo maior, de um empreendimento mais arrojado, com o
qual todos têm de se comprometer, acreditar, deixar de ser um torcedor para
entrar em campo e “suar a camisa” por aquilo em que se acredita. E como é que
podemos, com nossas limitações e fraquezas, sermos parceiros de Deus nesse
projeto tão arrojado, que plenifica e ao mesmo tempo transcende, qualquer empreendimento
humano?
O
evangelho responde em seu início, logo que Jesus sai da sinagoga e vai á casa
de Simão, onde os discípulos correm para lhe falar que a sogra de Pedro estava
acamada e com muita febre. Era uma pessoa debilitada, entregue ao desânimo, que
muitas vezes chega à vida de alguém, que doença seria essa? O comodismo e o
desânimo, o egocentrismo, a indiferença na relação com as pessoas, nas
comunidades cristãs há pessoas assim, que precisam de ajuda, para cair na
realidade. Jesus não diz uma só palavra, mas apenas estende a mão e a ajuda a
levantar-se do seu leito. Como é bom quando sentimos que o outro nos estende a
mão, em um grandioso gesto de ajuda...
Como
é bom agarrar com firmeza a mão amiga, que nos permite levantar e dar a volta
por cima, diante de tantas situações difíceis da nossa vida.Amor que se traduz
em gestos de solidariedade, um toque de mão que transmite segurança, afeto,
ânimo e esperança, sem muito ritual pomposo, sem êxtases arrebatadores. Como
resultado desse gesto de ajuda, a mulher se levanta a febre a deixa e agora se
põe a servir a comunidade. É na oração íntima com Deus Pai, que Jesus de Nazaré
fortalece a sua missão, cumprindo a vontade daquele que o enviou, pois sem a
oração, a nossa igreja seria apenas um Posto de atendimento de serviço
religioso ou balcão de Sacramentos.
É
na oração que acontece este colóquio com o Pai, aonde vai se descortinando para
nós a plenitude do Reino, que humildemente vamos construindo com gestos simples
como o de Jesus, capaz de erguer as pessoas que estão ao nosso lado.
Os
discípulos, encantados com o carisma e o Poder do mestre, querem urgentemente
abrir um “pequeno negócio”, um salãozinho de fundo de quintal, onde eles teriam
naturalmente o monopólio sobre Jesus e seus milagres, mas o Mestre pensa
grande, ele não veio para que as pessoas o buscassem, mas para ir ao encontro
delas, curando de suas enfermidades e as libertando dos males físicos e
espirituais, como um sinal da libertação plena.
É
esse o Cristo que devemos anunciar como Igreja missionária, pois qualquer outra
imagem diferente da que nos apresenta o evangelho, seria apenas uma caricatura
grotesca, uma cópia falsificada de um mero “Salvador da Pátria”, desses que vez
ou outra, o povo gosta de aclamar como Rei...
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0127.htm#msg01
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