Luminoso legado de Edith Stein: filosofia como modo de vida
e a vida como vocação
Intelectual
judia que virou ateia e depois se converteu à fé católica, Santa Teresa
Benedita da Cruz foi martirizada no campo de concentração de Auschwitz
Santa
Teresa Benedita da Cruz,
nascida Edith Stein,
mulher, judia, filósofa, escritora, professora, enfermeira, convertida ao
catolicismo, carmelita, mártir, santa e co-padroeira da Europa, foi morta em 9
de agosto de 1942 nas câmaras
de gás de Auschwitz e representa, para católicos e não
católicos, um modelo
de mulher integral, dos pés à cabeça: enraizada no mundo,
apaixonada pelo conhecimento da realidade e voltada convictamente para a
eternidade, ela repropõe um autoexame premente a uma Europa submersa em
profunda crise de identidade, fragilizada, fragmentada, secularizada, marcada
pelo selo da ideologia em todos os âmbitos da vida, inclusive no religioso.
Reconhecido
filósofo contemporâneo de Santa Teresa Benedita da Cruz, Ludwig Wittgenstein observou
que “o ser humano vive a
vida diária com o brilho de uma luz da qual não se dá conta até que se apague“.
Santa Teresa Benedita da Cruz reflete uma luz que brilha na mais completa escuridão.
Invocá-la
é evocar grandes
contribuições dessa grande mulher ao nosso tempo: a sua
concepção da filosofia
como modo de vida e a vida entendida como vocação,
especialmente na beleza da vida em comunidade em contraposição à solidão do
individualismo contemporâneo.
Filosofia
como modo de vida
Estamos
acostumados a viver num mundo virtual, de relações fictícias, como se a cada
momento tivéssemos de seguir instruções. Empobrecemos a nossa razão porque
empobrecemos a nós mesmos. A filosofia nos ajuda a viver a vida com densidade,
a crescer, a levar
a sério a nossa existência.
A
figura de Edith Stein não representa apenas a recuperação de um modo de
conhecimento como o filosófico, mas a recuperação da própria razão. Edith nos
ensina que a razão se amplia, é viva, histórica, inclusiva, não se detém diante
dos próprios limites, mas é abraçada e acolhida pelo Mistério que a engrandece.
Vida
humana entendida como vocação
Vocação
é chamado, origem e
destino. Vocação a ser mais nós mesmos. Vocação é a
característica que mais nos define. A verdadeira vocação é a entrega, a
capacidade de amar, que é o sustento fundamental da vida comunitária. Essa
vocação, como a própria Edith descreveu em várias conferências, se manifesta na
dignidade da mulher, esposa e mãe, sustento da vida, protetora da vida
nascente, e também na Igreja,
como esposa de Cristo,
que abraça a sua vocação de serviço à vida humana em todas as suas dimensões a
partir de uma lógica nova, a do dom e do sacramento, porque Cristo é quem faz
novas todas as coisas.
E
isto é o que precisamos recuperar com urgência para voltar a ser o que somos:
homens livres, criados à imagem e semelhança de Deus, que conquistam, no
serviço aos outros, o nome com que foram chamados; o seu verdadeiro nome.
O
carmelo, um cenário de plenitude
Edith
Stein encontrou no carmelo essa
vocação de serviço à humanidade. Tornar-se carmelita não foi uma fuga do mundo
intelectual em que tinha dado tantos frutos: foi simplesmente um modo de se
entregar mais e servir melhor a partir da verdade que tinha encontrado. Não há
amor sem verdade e não há verdade sem amor.
Santa
Teresa Benedita da Cruz ofereceu a vida por todos os homens e pela paz
verdadeira. Ela foi presa em vingança pela sua denúncia pública, lida em todas
as igrejas da Holanda, contra a perseguição perpetrada pelas autoridades nazistas. Foi então
emitida a ordem de encarceramento contra todos os judeus do país que tivessem
se convertido ao catolicismo. Edith entregou sua vida unida ao destino do seu
povo, a partir da convicção de que, em Cristo, cumprem-se as promessas feitas
ao povo de Israel.
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