SANTO
AGOSTINHO
Do
Tratado sobre o Evangelho de João
Eu sou a videira e vós os ramos
Eu sou a videira e vós
os ramos. O que está em mim e eu nele, este dará muito fruto, porque sem mim
nada podeis fazer. E
para evitar que alguém pudesse pensar que o ramo pode produzir algum fruto,
mesmo que pouco, depois de ter dito que este dará muito fruto, não diz que sem
mim “pouco” podeis fazer, mas diz: Sem mim “nada” podeis fazer.
Logo, seja pouco, seja muito, não se pode fazer sem aquele sem o qual não se
pode fazer nada. E se o ramo dá pouco fruto, o agricultor o podará para que dê
fruto mais abundante; mas, se não permanece unido à videira, não poderá
produzir fruto algum. E visto que Cristo não podia ser a videira se não fosse
homem, não podia comunicar esta virtude aos ramos se não fosse também Deus.
Mas, como ninguém pode
ter vida sem a graça, e somente a morte está debaixo do poder do
livre-arbítrio, segue dizendo: O que não permanecer em mim será jogado
fora, como o ramo seco, o colherão e o jogarão ao fogo e queimará. Os ramos
da videira são tantos mais desprezíveis fora dela quanto o são mais gloriosos
unidos a ela e, como diz o Senhor pelo Profeta Ezequiel, cortados da videira
são inteiramente inúteis ao agricultor, e não servem para fazer nenhuma obra de
arte. O ramo há de estar em um destes dois lugares: ou na videira ou no fogo;
se não está na videira, estará no fogo. Permaneça, pois, na videira para
livrar-se do fogo.
Se permanecerdes em
mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedireis quanto quiserdes e vos será
concedido. Estando
unidos a Cristo, o que podem querer a não ser aquilo que não é indigno de
Cristo? Queremos algumas coisas por estar unidos a Cristo e queremos outras por
ainda estarmos neste mundo. E, pelo fato de viver neste mundo, algumas vezes
nos vem a ideia de pedir coisas cujo prejuízo desconhecemos. Porém, nunca
tenhamos o desejo de que nos sejam concedidas, se queremos permanecer em
Cristo, o qual somente nos concede aquilo que nos convém.
Permanecendo, pois, nele,
e tendo em nós suas palavras, pediremos quanto queiramos, e tudo nos será
concedido. Porque, se não obtemos o que pedimos, é porque não pedimos o que
nele permanece nem o que se contém em suas palavras, que permanecem em nós; a
não ser que pedimos o que deseja nossa cobiça e a fraqueza da carne, que não se
encontram nele, nem nelas permanecem suas palavras, entre as quais está a
oração em que nos ensinou a dizer: Pai nosso, que estais nos céus...
Em nossas petições não
nos distanciemos das palavras e do sentido desta oração, e obteremos quanto
pedimos. Porque somente então permanecem em nós as suas palavras, quando
cumprimos seus preceitos e vamos atrás de suas promessas. Mas quando suas
palavras estão somente na memória, sem refletir-se em nosso modo de viver,
somos como o ramo fora da videira, que não recebe a seiva da raiz. A esta
diferença faz alusão o salmo quando diz: Guardam na memória seus
preceitos para cumpri-los.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 353-354. Para
adquiri-lo no site da Editora Vozes,
https://pilulasliturgicas.blogspot.com/2018/04/homilia-v-domingo-de-pascoa-ano-b.html
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