12-
SANTO AGOSTINHO
“Deus
escolheu o que é insensato segundo o mundo”
I.
O divino Redentor compara o reino dos céus, isto é, a sua Igreja, a um grão de
mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. E com razão; pois, assim
como a mostarda é a menor das sementes, assim a Igreja de Jesus Cristo foi na
sua origem muito pequena e desprezível aos olhos dos homens.
— Pequena e desprezível
em seu fundador; que, posto que fosse Deus, quis passar sua vida na obscuridade
e nas humilhações e afinal morreu crucificado entre dois ladrões, pelo que
dizia o Apóstolo que Jesus foi para os judeus escândalo e para os gentios
loucura (1).
— Pequena também e
desprezível em sua doutrina; porque quanto à fé impõe para crer dogmas
superiores e, na aparência, contrários à razão humana; quanto às obras, ensina
máximas bastante difíceis e humilhantes: manda-nos sofrer as injúrias, perdoar
aos inimigos, renunciar a nós mesmos.
— Pequena finalmente e
desprezível nos meios para se propagar; pois que para a sua dilatação foram
escolhidos doze pobres pescadores, homens sem prestígio e sem instrução: Quae stulta sunt huius mundi elegit
Deus (2) — “Deus escolheu o que é insensato segundo o mundo”.
Mas assim como o grão de
mostarda, “quando tem
crescido, é a maior de todas as hortaliças e se faz árvore, de maneira que vêm
as aves do céu e se aninham em seus ramos”, assim também a Igreja
de Jesus Cristo, pequena e desprezível na sua origem, com o auxílio de Deus
cresceu em breve tempo de tal maneira, que uma multidão de pessoas, e entre
estas reis, imperadores e sábios, a ela vieram abrigar-se, achando a verdadeira
felicidade.
— Meu irmão, dá graças
ao Senhor por teres nascido no grêmio desta Igreja; cuida, porém, que não sejas
um membro morto ficando no estado de pecado, ou moribundo, vivendo em tibieza
voluntária.
II.
O grão de mostarda, como observa Santo Agostinho, tem virtude medicinal, pois
que expele do corpo os humores nocivos e fortalece os estômagos fracos. Nesta
propriedade os santos intérpretes veem uma figura, não só da Igreja em geral,
mas também das verdades evangélicas, e especialmente daquelas máximas que
apagam o ardor da concupiscência e nos confirmam no exercício do bem começado.
Mas para experimentarmos efeito tão salutar, não nos devemos contentar com o
conhecimento e a crença nestas santas máximas. À imitação do homem da parábola,
devemos além disso semeá-las no campo do nosso coração, isto é, considerá-las
muitas vezes antes de nossas ações, e por assim dizer, mastigá-las por uma
meditação refletida; pois que também neste particular são semelhantes ao grão
de mostarda, o qual, na palavra de Santo Ambrósio, é tanto mais cheiroso,
quanto mais se esfrega: Quanto
plus teritur, tanto plus redolet.
Ó
meu Deus, que graças Vos poderei dar por me haverdes chamado com tanto amor a
fazer parte da vossa família? Como podia merecer tão grande graça apesar da
previsão de tantas injúrias que Vos havia de fazer?! E eu tenho a ventura de
estar no seio da vossa Igreja (de ser admitido a viver na vossa casa), na
companhia de tantos servos vossos, com os mais abundantes meios para a minha
santificação.
Meu
Senhor, espero agradecer-Vos melhor no céu, e ali cantar eternamente as vossas
misericórdias para comigo. Entretanto sou vosso, e vosso quero ser sempre; já
me dei todo a Vós, agora renovo a minha consagração. Quero ser-Vos fiel; não
Vos quero mais ofender, custe o que custar; quero, numa palavra, ser católico
(eclesiástico, religioso), não só pelo nome, mas pelo fato. — Vós, porém, ó
Deus todo-poderoso, ajudai-me com a vossa graça. “Fazei que esteja sempre
ocupado em meditar as vossas santas máximas, e que as minhas palavras e obras
sejam sempre conformes ao vosso divino beneplácito.” (3)
Referências:
(1)
1 Cor 1, 23
(2) 1 Cor 1, 27
(3) Or. Dom. curr.
https://rumoasantidade.com.br/grao-mostarda-igreja-catolica/
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