sábado, 6 de julho de 2024

II- Liturgia do 14.º Domingo do Tempo Comum– Ano B

 

II-            Liturgia do 14.º Domingo  do Tempo Comum– Ano B

- A liturgia deste domingo revela que Deus nos chama, continuamente, para testemunhar no mundo seu projeto de salvação. Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas. A força de Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que Deus escolhe e envia.

 - A primeira Leitura apresenta-nos o relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é apresentada como uma iniciativa de Deus. Ele chama um "filho de homem", isto é, um homem "normal", com os seus limites e fragilidades, para ser, no meio do seu povo, a voz de Deus. A vida de Ezequiel realizou integralmente o projeto de Deus. Chamado pelo Senhor, ele foi, no meio do Povo exilado na Babilônia. Uma voz humana através da qual Deus apresentou ao seu Povo o caminho para a vida plena e verdadeira. É essa a missão do profeta. Os "profetas" não são um grupo humano extinto há muitos séculos, mas são uma realidade com que Deus continua a contar para intervir no mundo e para recriar a história. Quem são, hoje, os profetas? Onde estão eles?

 - No Batismo, fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Hoje a missão profética é nossa. De muitas formas Deus entra na nossa vida e, desafia-nos para a missão. Devemos estar atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais Ele nos diz, dia a dia, o que quer de nós. O profeta é o homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a Bíblia, na outra a vida). Temos a noção de que somos a "boca" através da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens? As fragilidades que fazem parte da nossa humanidade não podem, em nenhuma circunstância, servir de desculpa para não cumprirmos a nossa missão profética no mundo.

- Na segunda Leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto que Deus atua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos finitos e limitados. Na vida e na ação do apóstolo, vivendo na condição de finitude, vulnerabilidade e debilidade, manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.

- O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes apresenta.

- Depois de escutarem Jesus os seus conterrâneos traduzem a sua perplexidade através de várias perguntas que dizem respeito à origem e à qualidade dos seus ensinamentos: "de onde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E os milagres realizados por suas mãos?" Numa espécie de contraponto à impressão que Jesus lhes deixou, eles recordam o seu ofício e a normalidade da sua família. Para eles, Jesus é o "carpinteiro", não é um "mestre", não estudou as Escrituras com nenhum mestre conceituado e não tem qualificações para dizer as coisas que diz. Por outro lado, eles conhecem a identidade da família de Jesus e não descobrem nela nada de extraordinário. Ele é o "filho de Maria" e os seus irmãos e irmãs são gente "normal". Desde o primeiro momento, os comentários dos habitantes de Nazaré eram depreciativos em relação a Jesus. Nem sequer se referem a Ele pelo próprio nome. Depois, chamam-no depreciativamente como "o filho de Maria". O costume era o filho ser conhecido em referência ao pai e não à mãe. Há na vila uma espécie de indignação porque Jesus, apesar de ter sido desautorizado pelos mestres reconhecidos do judaísmo, continua a desenvolver a sua atividade à margem da instituição judaica. Jesus responde aos seus concidadãos, com um conhecido provérbio: "nenhum profeta é respeitado no seu lugar de origem". Nessa resposta, Jesus assume-se como profeta, um enviado de Deus. Atua em nome de Deus e tem uma mensagem para oferecer aos homens. Os ensinamentos que Jesus propõe não vêm dos mestres judaicos, mas do próprio Deus. A vida que Ele oferece é a vida plena e verdadeira que Deus quer propor aos homens. A recusa da proposta que Jesus traz coloca-o na linha dos grandes profetas de Israel. O povo teve sempre dificuldades em reconhecer o Deus que vinha ao seu encontro, na palavra e nos gestos proféticos. E o descrédito enfrentado por Jesus se baseia na sua origem simples.

- Peçamos ao Senhor a capacidade de perceber a sua presença em nosso meio. Que confiemos na força de sua Palavra, ouçamos a sua voz e apliquemos na vida as lições que nos vêm do Evangelho. Esforcemo-nos para não oferecer resistência e rejeição à mensagem do Reino de Deus. Abramos nossos corações à transformação que a Palavra faz em nossas vidas, famílias, comunidades e em todas as nossas relações.

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