II-
Liturgia do 14.º
Domingo do Tempo Comum– Ano B
- A liturgia deste domingo revela que Deus
nos chama, continuamente, para testemunhar no mundo seu projeto de salvação.
Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas. A força de Deus
revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que
Deus escolhe e envia.
- A primeira Leitura apresenta-nos o relato
da vocação de Ezequiel. A vocação profética é apresentada como uma iniciativa
de Deus. Ele chama um "filho de homem", isto é, um homem
"normal", com os seus limites e fragilidades, para ser, no meio do
seu povo, a voz de Deus. A vida de Ezequiel realizou integralmente o projeto de
Deus. Chamado pelo Senhor, ele foi, no meio do Povo exilado na Babilônia. Uma
voz humana através da qual Deus apresentou ao seu Povo o caminho para a vida
plena e verdadeira. É essa a missão do profeta. Os "profetas" não são
um grupo humano extinto há muitos séculos, mas são uma realidade com que Deus continua
a contar para intervir no mundo e para recriar a história. Quem são, hoje, os
profetas? Onde estão eles?
- No
Batismo, fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Hoje a missão
profética é nossa. De muitas formas Deus entra na nossa vida e, desafia-nos para
a missão. Devemos estar atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e
através dos quais Ele nos diz, dia a dia, o que quer de nós. O profeta é o
homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a
Bíblia, na outra a vida). Temos a noção de que somos a "boca" através
da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens? As fragilidades que fazem parte
da nossa humanidade não podem, em nenhuma circunstância, servir de desculpa
para não cumprirmos a nossa missão profética no mundo.
- Na
segunda Leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto que Deus atua e
manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos finitos e limitados. Na
vida e na ação do apóstolo, vivendo na condição de finitude, vulnerabilidade e
debilidade, manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.
- O Evangelho,
ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma
uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus
manifesta-se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se
recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de
descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes
apresenta.
- Depois de escutarem Jesus os seus
conterrâneos traduzem a sua perplexidade através de várias perguntas que dizem
respeito à origem e à qualidade dos seus ensinamentos: "de onde lhe vem
tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E os milagres realizados por
suas mãos?" Numa espécie de contraponto à impressão que Jesus lhes deixou,
eles recordam o seu ofício e a normalidade da sua família. Para eles, Jesus é o
"carpinteiro", não é um "mestre", não estudou as Escrituras
com nenhum mestre conceituado e não tem qualificações para dizer as coisas que
diz. Por outro lado, eles conhecem a identidade da família de Jesus e não
descobrem nela nada de extraordinário. Ele é o "filho de Maria" e os
seus irmãos e irmãs são gente "normal". Desde o primeiro momento, os
comentários dos habitantes de Nazaré eram depreciativos em relação a Jesus. Nem
sequer se referem a Ele pelo próprio nome. Depois, chamam-no depreciativamente
como "o filho de Maria". O costume era o filho ser conhecido em
referência ao pai e não à mãe. Há na vila uma espécie de indignação porque
Jesus, apesar de ter sido desautorizado pelos mestres reconhecidos do judaísmo,
continua a desenvolver a sua atividade à margem da instituição judaica. Jesus
responde aos seus concidadãos, com um conhecido provérbio: "nenhum profeta
é respeitado no seu lugar de origem". Nessa resposta, Jesus assume-se como
profeta, um enviado de Deus. Atua em nome de Deus e tem uma mensagem para
oferecer aos homens. Os ensinamentos que Jesus propõe não vêm dos mestres
judaicos, mas do próprio Deus. A vida que Ele oferece é a vida plena e
verdadeira que Deus quer propor aos homens. A recusa da proposta que Jesus traz
coloca-o na linha dos grandes profetas de Israel. O povo teve sempre
dificuldades em reconhecer o Deus que vinha ao seu encontro, na palavra e nos
gestos proféticos. E o descrédito enfrentado por Jesus se baseia na sua origem
simples.
- Peçamos ao Senhor a capacidade de perceber
a sua presença em nosso meio. Que confiemos na força de sua Palavra, ouçamos a
sua voz e apliquemos na vida as lições que nos vêm do Evangelho. Esforcemo-nos
para não oferecer resistência e rejeição à mensagem do Reino de Deus. Abramos
nossos corações à transformação que a Palavra faz em nossas vidas, famílias,
comunidades e em todas as nossas relações.
https://diocesedesaomateus.org.br/wp-content/uploads/2024/06/07_07_24.pdf
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