sábado, 10 de agosto de 2024

V- REFLEXÃO DOMINICAL II: Homilia do Pe. André Luís Buchmann de Andrade – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B “Eu sou o Pão Vivo Descido do Céu” (Jo 6,51).

 

V- REFLEXÃO DOMINICAL II:

Homilia do Pe. André Luís Buchmann de Andrade – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

 

“Eu sou o Pão Vivo Descido do Céu” (Jo 6,51).

“…estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos” (Jo 6,26)

I. Interesse disfarçado de Fé.

Não faz muito tempo, ouvimos no Evangelho da Santa Missa Dominical a narração de uma das multiplicações de pães operada por Jesus, Nosso Senhor.

No domingo passado, ouvimos que a multidão correu para o outro lado do mar a fim de procurar, às pressas, a Jesus depois daquela multiplicação e ouviu d’Ele uma constatação um tanto triste: “…estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos” (Jo, 6,26).

A multiplicação em apreço ocasionou um imediato interesse nas pessoas: ficaram maravilhadas não somente com o pão multiplicado, mas com a possibilidade de seguir um líder religioso que operava prodígios em seu benefício direto e indireto, e também proporcionava-lhes um certo status psicológico.

Hoje em dia acontece a mesma coisa com as pessoas que seguem certas igrejas – que, diga-se de passagem, pouco ou nada de cristão têm – propagadoras de pretensos sinais portentosos.

Qual é a pessoa com necessidade de afirmação que não gostaria de dizer que a sua igreja é o lugar da cura de todos os males?

Qual o freqüentador, com interesse em resolver seus problemas pessoais, não gostaria – se recebesse um favor, uma melhora em sua situação, um carinho proporcionado pela acolhida – de dizer que o seu pastor faz milagres?

Muitos da multidão que seguia Jesus naquela multiplicação de pães não O reconheceram como o Filho de Deus, o Deus verdadeiro vindo até eles, mas projetaram n’Ele apenas a visão de um  líder que correspondia a seus anseios não somente espirituais, como também materiais e psicológicos.

Nós, os católicos, também corremos este risco. Se os fiéis buscassem na Igreja somente o apoio às suas intenções comerciais ou se encontrassem nela somente um álibi para uma suposta boa fama, estariam muito errados. Se, ainda, fôssemos freqüentadores da Igreja, se rezássemos, mas somente para obtermos favores de Deus, para termos nossos pedidos atendidos, estaríamos também fazendo algo muito errado.

A fé é dom de Deus, todavia não deixa de ser uma obrigação e uma necessidade nossa no sentido de que é Deus quem nô-la concede, porém, nós temos o dever de corresponder a este carinho de Deus por um único motivo: amor a Ele.

Santidade é algo objetivo: é corresponder ao amor de Deus com amor dirigido a Ele e ao próximo com oração, boas obras, virtudes, etc.

Não posso endeusar a ninguém apenas pelo fato de que me fez um ou vários favores. O reconhecimento da santidade vai muito além disso.

Os beneficiados pela multiplicação dos pães – pelo menos grande parte deles – não reconheceram a divindade de Cristo por aquele sinal grandioso, mas tiveram seus olhos brilhando perante a possibilidade de seus anseios serem satisfeitos.

Os milagres podem levar à fé – objetivo dos sinais prodigiosos realizados por Nosso Senhor – ou a uma interpretação distorcida por parte de quem o experiencia, que conduz à perda da fé.

Vivemos numa época da proliferação de milagres, ou melhor, de pretensos milagres. Basta ligar a televisão ou o rádio! Prometem-se milagres a torto e a direito que vão desde a obtenção da casa própria até a cura da catarata, passando por conseguir um emprego ideal até o casamento dos sonhos. Esta, na realidade, não foi a atuação de Jesus. Ele não curou todas as pessoas que o procuravam. O Evangelho afirma que, em determinadas ocasiões ou lugares, Ele não fez muitos ou nenhum milagre. Jesus, quando passou pela Terra Santa, “fez bem todas as coisas” (Mc. 7,37), no entanto, com o devido respeito, podemos afirmar que não fazia milagres vinte e quatro horas por dia.

II. Seguir a Jesus de Verdade.

Como podemos seguir Nosso Mestre e Senhor de verdade?

Santa Teresa d´Ávila diz, num poema, que não devemos amar a Deus nem pelo interesse de irmos para o Céu, nem por medo de ir para o inferno. Devemos amá-Lo porque o amamos e pronto.

“Não me move, meu Deus, para querer-te

O céu que me hás um dia prometido:

E nem me move o inferno tão temido

Para deixar por isso de ofender-te.

Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te

Cravado nessa cruz e escarnecido.

Move-me no teu corpo tão ferido

Ver o suor de agonia que ele verte.

Moves-me ao teu amor de tal maneira,

Que a não haver o céu, ainda te amara

E a não haver o inferno te temera.

Nada me tens que dar porque te queira;

Que se o que ouso esperar não esperara,

O mesmo que te quero te quisera”.[note] Santa Teresa d´Ávila, Verdadeiro amor a Deus. [/note]

A mesma coisa se aplique à Religião. Vivemos na Igreja, somos parte da Igreja porque amamos a Deus.

É óbvio que ninguém é obrigado a procurar desvantagens em sua vida, entretanto é bom refletirmos a respeito de como buscamos as vantagens. Há católicos que participam de instituições contrárias à Igreja, ou ao Evangelho, ou à doutrina católica por status. Um dia prestarão contas a Deus. Jesus, verdadeiro Deus, sabe das coisas e as nota e anota: “…estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos” (Jo, 6,26).

O que pensamos que seja vantagem para nós nem sempre o é. Um dia, um sábio passando por uma pequena propriedade rural viu uma casinha simples, habitada por uma família humilde, composta de pessoas magras que tinham como única fonte de alimento uma vaca também magra que lhes fornecia alguns poucos litros de leite por dia. Despedindo-se da família tomou a estrada morro acima e ficou surpreso ao encontrar no alto do monte a vaca. De lá de cima ele enxergava a casa que visitara e pensou naquela família tão pobre e no futuro daquelas pessoas. Não teve dúvida. Empurrou a vaca que rolou morro abaixo morrendo imediatamente. Alguns anos depois, passando pelo mesmo lugar, avistou uma casa bonita no lugar do casebre de então, habitado por pessoas bem nutridas. Conversando notou que eram as mesmas pessoas que lhe contaram uma história interessante dizendo-lhe que eram pobres, só tinham uma vaca que garantia sua pobre alimentação, mas que um dia esta vaca morreu e eles acordaram para a necessidade de se virar, se de esforçar mais e conseguiram melhorar muito a sua vida. Moral da história: nem tudo que parece vantagem o é. Temos de sempre consultar a sabedoria de Deus para que ele nos faça entender quais são as verdadeiras vantagens nesta vida. Às vezes, a vaca ir para o brejo ou rolar morro abaixo é uma grande vantagem para nós.

III. Não Escandalizar-se do que Jesus nos Ensina e Quer de Nós.

Enquanto multiplicava os pães Jesus era querido e admirado. Quando disse que era o Pão da Vida, que Sua Carne deveria ser comida e Seu Sangue bebido, os ouvintes se escandalizaram e deixaram de seguir o Senhor.

Seguir o Senhor nas facilidades é cômodo e prazeroso. Seguir a Igreja nas coisas fáceis não tem muito segredo. Seguir o Papa em temas hoje politicamente corretos é uma honra. Mas e as questões difíceis.

Desde jovem notava que o Papa São João Paulo II era muito aplaudido quando falava sobre a paz mundial, sobre os pobres e duramente criticado quando tratava de condenar o aborto, quando defendia o celibato sacerdotal, quando falava da seriedade da liturgia e da doutrina da Igreja. Ao mesmo Papa chamavam de inovador e, curiosamente, de conservador. O mesmo se deu e se dá com os Papas Bento e Francisco.

Não podemos escolher os artigos da fé como quem escolhe artigos na prateleira do mercado. Ou seguimos o Cristo e a Igreja, ou não os seguimos.

Aproveitemos o Evangelho e a reflexão deste domingo para fazermos um bom exame de consciência perguntando-nos: por que sigo a Cristo e à Igreja? Qual o verdadeiro motivo? O que posso fazer para segui-los com intenção mais reta? O que devo deixar, abandonar de vez na minha conduta, que está me atrapalhando de pertencer totalmente a Cristo e à Sua Igreja?

Que cada um conte com a assistência do Divino Espírito Santo e a materna intercessão de Maria Santíssima para ser bem feliz nas respostas a estes questionamentos e bem feliz também nas suas escolhas para melhorar e converter-se.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Pe. André Luís Buchmann de Andrade

 https://presbiteros.org.br/homilia-do-pe-andre-luis-buchmann-de-andrade-xix-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

 

 

 

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