VI- REFLEXÃO DOMINICAL I: "A FONTE DO BEM E DO MAL"
Na relação com Deus, o moralismo exacerbado é algo abominável,
nascido no rigorismo de normas e preceitos, sendo um fardo insuportável que as
pessoas vão arrastando vida afora, achando que isso as faz merecedoras da
Salvação que Deus oferece. Os inventores dessas mil “regrinhas” para se
conseguir a salvação, se deleitam em ensinar as pessoas a andarem, naquilo que
eles têm a coragem de chamar de “caminhos do Senhor”. A Santa Igreja tem o seu
Código de Direito Canônico, que tem como objetivo ajudar o cristão membro da
Igreja, a viver santamente desfrutando ao máximo da graça e santidade que Jesus
oferece, entretanto, não é a pura observância dos cânones, que irá levar alguém
a fazer a experiência de Deus em sua vida.
O problema está em que, com tantas regras e normas, muitas vezes
inventadas por lideranças religiosas, pastorais, movimentos e associações,
abafa-se na vida do cristão aquilo que é essencial, uma relação com Deus a
partir do seu íntimo, isso é, a partir do coração, centro de decisão e da Vida.
A pregação de que devemos fugir das coisas do mundo e só buscar as coisas de
Deus, é perigosamente alienadora, pois agindo nessa linha, tudo aquilo que é
humano, e que não faz parte da esfera do sagrado, torna-se profano e portanto,
motivo de condenação ao pecador.
Conheci um deficiente visual, que tocava sanfona no Mercado
Municipal, para ganhar uns trocados, e o seu repertório, bastante variado,
agradava a todas as idades. No final do dia embolsava as doações e ia embora,
todo feliz. Sempre alegre e extrovertido, era alguém feliz e que sabia fazer
feliz as pessoas que o rodeavam para ouvir suas músicas ou suas histórias
engraçadas. Um dia alguém o levou a uma igreja cristã e depois de algumas
participações começou o processo de sua conversão, e daí uma vez convertido, e
tendo conhecido Jesus, foi orientado para que não mais tocasse aquelas músicas
do mundo, que eram pecaminosas diante de Deus, e assim, o “Ceguinho da Sanfona”
como era mais conhecido, mergulhou numa grande tristeza que acabou em
depressão, nunca mais o vi.
Os Fariseus eram pessoas muito piedosas e fiéis ao judaísmo, mas
entre eles havia os “fanáticos” que observavam rigorosamente todas as leis e
normas, e adoravam impor o cumprimento da mesma aos demais. Os discípulos de
Jesus andavam muito felizes por tê-lo encontrado, e a alegria era tanta que nem
se importavam com certas regras, entre elas a de lavar as mãos antes de tomar
refeições, e não o faziam por despeito ou por provocação aos Fariseus, é que
realmente o encontro com Jesus de Nazaré despertara neles algo novo e inaudito,
que nenhuma religião tinha ainda oferecido, era algo que vinha de dentro, do
mais íntimo do seu ser, mas os Judeus do Farisaísmo cobraram de Jesus a
observância da lei “Por que os seus discípulos não lavam as mãos antes de
comer, como faz um judeu piedoso?”. A novidade maravilhosa que Jesus oferecia,
não era mais importante do que o cumprimento da lei.
Como é triste quando na comunidade as pessoas são cobradas por
alguns, que se julgam justos e Santos, cobra-se conversão, exige-se coerência
de vida, retidão de caráter, testemunho de vida, conduta moral irrepreensível,
principalmente desprezar e fugir de tudo o que não é sagrado. Ocorre que as
pessoas que não tem esse perfil, ou não são perseverantes acabam deixando a
comunidade, uma vez que se sentem constrangidas por ficarem ouvindo “pelas
costas” a respeito de sua vida “torta”.
Jesus dá um basta a toda essa hipocrisia e coloca uma relação
nova com o Pai, não mais a partir da conduta e aparência exterior, mas sim do
coração, fonte do bem e do mal, sendo que o que dele provém é que determina as
nossas ações, podendo contaminar com o mal, ou contagiar com o Bem. A partir
dessa verdade, ninguém mais poderá ser julgado, uma vez que só Deus tem acesso
ao coração humano, onde o seu amor de Pai, manifestado em Jesus, transborda o
coração dos que nele creem, fazendo-o irradiar esse amor por onde andam,
pautando todas as suas decisões e atitudes, a ponto de São Paulo dizer, “que o
amor é a plenitude da lei.”
E que adianta saber lavar corretamente jarras e copos, ou tomar
banho cada vez que se chega da praça, como os fariseus? Não frequentar certos
ambientes ou casas, evitar a companhia de certas pessoas, não ler certas
revistas, não assistir certos filmes, mas ter o coração cheio de mágoa, rancor,
amargura? E mais ainda, destilar o veneno da intriga, da desconfiança, provocar
ou sentir inveja, ciúmes? Toda e qualquer preocupação com ações exteriores, só
será edificante se o coração estiver convertido, caso contrário, ressoará em
nossos ouvidos a severa advertência do Senhor, com relação ao Farisaísmo desde
século “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”.
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0290.htm#msg02
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