XIII-SANTO AGOSTINHO E SÃO JERÔNIMO
As discussões entre Santo
Agostinho e São Jerônimo sobre Gálatas 2,11
Estudo feito em consideração ao
artigo Jerônimo e Agostinho debatendo sobre doutrina e
interpretação bíblica.
Na querela que surgiu entre São Jerônimo e Santo Agostinho sobre
a passagem de Gálatas 2,11, São Jerônimo escreve que a oração de ambos os
debatedores é que a verdade prevaleça.[i]
Um dos princípios cristãos católicos de interpretação da Bíblia
é descrito por Santo Agostinho, em sua carta a São Jerônimo, e repetido por São
Jerônimo, de que a interpretação deve ser literal.[ii]
São Jerônimo inicia mostrando que sua interpretação do evento em
Gálatas aludido acima foi condicionada por leituras de outros autores e que
estava à disposição do leitor julgá-la correta ou errônea.[iii]
Não querendo ser dogmático naquela questão, sugere a Santo Agostinho escrever
sua doutrina e procurar persuadir os bispos a concordar com ele na sua
interpretação.[iv]
Falando sobre Gl 1, 18 explica que São Paulo foi a Jerusalém por
reconhecer a grande autoridade de São Pedro, e que Paulo não confiaria em sua
pregação se não fosse confirmado por Pedro e pelos outros apóstolos.[v]
Pedro estava agindo como que em clara discordância com sua
própria regra.[vi] Essa afirmação mostra a autoridade
de Pedro.
Então, São Jerônimo escreve a Santo Agostinho para que ele
considere, pelo contrário, não as pequenas opiniões dele em seus comentários,
mas das seitas heréticas, dos Nazarenos, que eram e sua forma entremeada de
Judaísmo e Cristianismo, e tinham introduzido heresia pestilenta.
O ponto mais importante nessa controvérsia, e que São Jerônimo
não entendeu, foi que as cerimônias judaicas observadas fortuitamente por um
cristão judeu não deveria ser como se fossem salvíficas. São Jerônimo não via
motivo para observar algo que não servisse para a salvação, e isso foi sua
dificuldade em entender o que escreveu Santo Agostinho.
Chegando ao fim da sua resposta sobre o episódio de Pedro e
Paulo na epístola aos Gálatas, São Jerônimo afirma que sua opinião e a de Santo
Agostinho são praticamente idênticas.[vii]
Expressando humildade em sua opinião, São Jerônimo afirma que se
Santo Agostinho escrever mais uma carta a ele, que está tão distante
geograficamente, a Itália e Roma conhecerão o conteúdo da mesma antes que ele a
leia.[viii] É como afirmar que, por questão de
resolução de São Jerônimo, as discussões ulteriores passarão primeiro pela
autoridade magisterial de Roma.
E no final, mencionando sua idade avançada, e sua vida no monastério,
fala a Santo Agostinho, que era jovem, e bispo, a entregar-se ao ensino e
trazer frutos espirituais do mesmo a Roma.[ix]
1. As
divergências entre Santo Agostinho e São Jerônimo não tocavam o dogma.
Divergiam na interpretação de passagens bíblicas, chegando no final à mesma
conclusão. Ambos criam que a Lei judaica havia sido abolida, e que não mais
obrigava os cristãos, e que os apóstolos Pedro e Paulo, quando praticavam a
Lei, faziam por motivos que não fossem contrários ao evangelho.
2. Magistério
infalível existia, embora não foi explicitamente citado na carta. Argumento do
silêncio. Mas, ao falar que a carta seria lida primeiro em Roma infere-se o
magistério, ou melhor, a autoridade do papa está implícita na carta.
3. Levando
logicamente o que entendeu de Santo Agostinho, disse que isso seria cair na
heresia de Cerinto e Ebion. Isso não significa que o mesmo acusasse santo
Agostinho de seguir Cerinto e Ebion, ou de ter doutrina semelhante, mas que por
suas palavras a lógica levaria a isso. Sabia, porém, que Santo Agostinho tinha
a mesma doutrina e prática que ele.[x]
4. Agostinho
não ensinava diferentemente de Jerônimo.
5. Portanto,
era uma questão de levar às últimas consequências as palavras de Agostinho que
poderia chegar a ser “doutrina de perdição”, e não que a realidade fosse essa.
Prova essa que Jerônimo pede a Agostinho que use sua pena contra as ideias da
seita de Cerinto e Ebion, e não contra as suas, que não passagem de um resumo
de comentários antigos.
Queira o Senhor Jesus que todas
as divisões sejam tais como as que tiveram Santo Agostinho e São Jerônimo como
vimos acima.
Gledson Meireles.
[i] cf.
I am well assured that your prayer as well as
mine is, that in our contendings the victory may remain with the truth.
[ii] but
that all things in Scripture are to be received literally as they stand.
[iii] By
which I have made it manifest that I did not adopt finally and irrevocably that
which I had read in these Greek authors, but had propounded what I had read,
leaving to the reader's own judgment whether it should be rejected or approved.
[iv] I
do not presume to dogmatize in regard to things of great moment.
[v] In
the following context, again, he adds: Then, fourteen years after, I went up
again to Jerusalem with Barnabas, and took Titus with me also. And I went up by
revelation, and communicated unto them that gospel which I preach among
the Gentiles;
proving that he had not had confidence in his preaching of the gospel if he had
not been confirmed by the consent of Peter and those who were with him.
[vi] No
one can doubt,
therefore, that the Apostle Peter was himself the author of that rule with
deviation from which he is charged.
[vii] Nor
is there, after all, a great difference between my opinion and yours: for I say
that both Peter and Paul, through fear of the
believing Jews,
practised, or rather pretended to practise, the precepts of the Jewish law; whereas you
maintain that they did this out of pity, not with the subtlety of a deceiver,
but with the sympathy of a compassionate deliverer. But by both this is equally
admitted, that (whether from fear or from pity)
they pretended to be what they were not. As to your argument against our view,
that he ought to have become to the Gentiles a Gentile,
if to the Jews he
became a Jew, this favours our opinion rather than yours: for as he did not
actually become a Jew, so he did not actually become a heathen; and as he did not
actually become a heathen,
so he did not actually become a Jew. His conformity to the Gentiles consisted in
this, that he received as Christians the
uncircumcised who believed in Christ, and left them free
to use without scruple meats which the Jewish law prohibited;
but not, as you suppose, in taking part in their worship of idols. For in Christ Jesus,
neither circumcision avails
anything, nor uncircumcision, but the keeping of the commandments of God.
[viii] And
if you happen to write me a letter, Italy and Rome are
sure to be acquainted with its contents long before it is brought to me, to
whom alone it ought to be sent.
[ix] Do
you, who are young, and who have been appointed to the conspicuous seat of
pontifical dignity, give yourself to teaching the people, and enrich Rome with
new stores from fertile Africa.) [From Jerome to Augustine (A.D. 404) em http://www.newadvent.org/fathers/1102075.htm]
[x] for
I know that
you are a Christian,
and will not be guilty of a profane action
https://heresiasrefutadas.blogspot.com/2015/11/as-discussoes-entre-santo-agostinho-e.html
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