IX-REFLEXÃO DOMINICAL III: Solenidade de
Todos os Santos
A santidade é a
perfeição de vida que se conquista no dia-a-dia, com altos e baixos, momentos
de alegria e momentos de tristeza
Irmãos e irmãs,
Ao se aproximar o final do Ano
Litúrgico, a Santa Igreja oferece-nos momentos especiais para a meditação do
que há-de vir. Neste mês de novembro, especialmente, três solenidades marcam
este momento: a celebração de Todos os Santos, a solenidade de Fiéis Defuntos
e, ao final do mês, Cristo Rei. São três instantes marcantes: a celebração da
Igreja Triunfante, a da Igreja Padecente e o triunfo de Nosso Senhor ao final
dos séculos.
No Brasil, por especial concessão
da Santa Sé, as festas de guarda são permitidas transferirem sua celebração
para o domingo seguinte, quando caem durante a semana. Este ano, como a
celebração de Finados foi celebrada durante a semana e trata-se, também, de uma
solenidade, celebramos Todos os Santos no domingo subsequente, conforme o
Diretório para a Liturgia da CNBB.
Envolvido pela grandeza desta
solenidade, vem-me à lembrança as palavras de um pregador que fascinaram-me na
infância, povoando minha imaginação com aquela homilia fenomenal: “Hoje o céu
assume a terra. A terra assume o céu. A Igreja militante neste mundo se une à
Igreja Padecente do Purgatório para glorificar e louvar a Igreja Triunfante do
Céu, na presença da Trindade Santíssima”.
Com estas lembranças que enchem a
minha alma de doce saudade e esperança cristã, celebramos a festa do José, da
Maria, do Antônio, do Pedro, da Conceição, santos da terra unida à multidão de
santos consagrados e anônimos, como Ambrósio, Inácio de Loyola, Pedro e Paulo,
Bento, Atanásio, Clara, Rita de Cássia, Teresa de Jesus, Teresa do Menino
Jesus, Paulina, José, Anchieta, Camilo de Léllis, Affonso de Ligório, Escrivá,
Hurtado, Antônio de Pádua, Geraldo Majela, Antônio Galvão, Nhá Chica, João
Paulo II, João XXIII, Paulo VI e tantos outros santos de nossa devoção que nos
ensinam o cotidiano da vida cristã, rumo à Jerusalém Celeste.
Celebramos hoje as três dimensões
de nossa vida cristã: a vocação à santidade futura no céu; a santidade do
passado – daqueles que nos precederam na visão beatífica – e celebramos a
santidade gratuita de Deus na nossa caminhada neste vale de lágrimas rumo ao
Absoluto.
A Mãe Igreja nos convida hoje
para celebrar os seus filhos, os canonizados e os não canonizados, os
conhecidos e os desconhecidos, os que morreram em defesa da fé, como mártires,
e os que também tombaram confessando com fidelidade a nossa fé. Celebramos
todos os santos que uniram fé e práxis de vida comunitária, testemunhando Jesus
Ressuscitado na sua realidade e em seu estado de vida.
Mas por que celebrar os santos do
céu e da terra? Porque todos nós somos convidados à vida de santidade atendendo
ao mandato bíblico: “Vivei a santidade, santificando uns aos outros, porque
Deus, o Poderoso, é o Santo dos Santos”.
A santidade é um caminho
espinhoso. Combatendo o bom combate, todos são convidados a trilhar este árduo
caminho, especialmente a partir da dimensão comunitária, a dimensão paroquial,
de engajamento no projeto de evangelização, para aproximar-se mais e mais da
plenitude da eternidade, no amor de Deus.
O Evangelho desta festa é a doce
alegria cristã das Bem-aventuranças(Mt 5,1-12a). Bem-Aventuranças que é o
programa, o ideário, o caminho ideal para se alcançar a santidade de estado e
de vida. A santidade ela é uma conquista, é a vitória no “combate espiritual”
que pugnamos no dia-a-dia, sempre tendo presente que a santidade provém de
Deus.
E como a santidade chega aos
homens? Com a encarnação do Redentor, pela sua morte na Cruz, pela remissão dos
pecados de todo o gênero humano, homens e mulheres devem se espelhar neste
maravilhoso evento onde se haure a santidade divina.
As bem-aventuranças, apresentadas
na Liturgia da Palavra, devem ser consideradas como o caminho da felicidade. A
CNBB nos convida, com as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil,
a reler este Evangelho como caminho de santidade, lançando as redes em águas
mais profundas, atentos à exortação de São João Paulo II: “Duc in altum!”.
Mas, queridos irmãos, o que é ser
santo? O Concílio Ecumênico Vaticano II nos ensina que, considerando a vida
daqueles que seguiram fielmente a Cristo, “somos incitados a buscar, por novas
motivações, a cidade futura e, simultaneamente, instruídos sobre o caminho
seguríssimo pelo qual, entre as vicissitudes do mundo, segundo o estado e a
condição de cada qual, podemos chegar à perfeita união com Cristo, ou seja, à
santidade”.
Ser santo, portanto, é seguir e
imitar os exemplos, palavras e obras de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ser santo é
ser pobre, no sentido de desprendido dos bens do mundo, e ávido pelos bens do
céu, aberto aos excluídos sob todos os aspectos, aos famintos da graça divina,
aos mendigos da misericórdia de Deus.
Ser santo é acolher e perdoar.
Ser santo é ser pacífico, é ser generoso, é ser caridoso, é ser acolhedor, é
chorar com os que choram, é dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem
sede. Ser santo é tirar o seu agasalho e agasalhar a quem tem frio e está no
relento.
Num mundo tão cruel, com tanta
fome, tanta miséria, tanta guerra, tanta violência, tanto desentendimento, a
exemplo dos santos e santas que a Igreja no-los apresenta, devemos anunciar o
Evangelho da acolhida, do amor, do perdão e da multiplicação de dons e bens.
Irmãos caríssimos,
O convite para lançar as redes
nas águas mais profundas é o comovente convite para a busca incessante da
santidade. Todos, pecadores e santos, somos convidados, porque Deus conhece os
nossos corações e nos chama à conversão. Somos convidados a ser santos, santos,
santos e cada vez mais santos e imaculados. A vocação universal dos cristãos é
a santidade: “Sede santos, como o Pai celeste é santo” (Mt 5,48).
A santidade é o doce chamado
desta liturgia sagrada. Uma santidade que começa na família, na comunidade, na
Paróquia, entre os amigos, no trabalho, enfim, que permeia a vida como um todo.
A santidade não é inatingível, porque ela deve ser vivenciada nas coisas
simples, nas coisas comuns, no cotidiano da vida cristã, procurando viver os
mandamentos cristãos com grande e eloqüente simplicidade, em íntima sintonia
com a Santíssima Trindade.
Ao mirarmos a imagem dos santos –
ao contrário do que os injuriosos e incompreendidos dizem que adoramo-las –
recordamos os exemplos edificantes de vida desses paradigmas de vida cristã, de
constante sintonia com o Deus Trindade, e inspirados neles traçamos nossa
caminhada rumo ao definitivo, à visão beatífica de Deus.
Ter a um santo ou a uma santa
como intercessor junto de Deus é como olhar o porta-retrato do pai ou da mãe no
criado-mudo da cama e passar a mão naquela fotografia que nos relembra a pessoa
querida e nos interpela a ser santo ou a evangelizar como aquela pessoa, cuja
ausência se torna uma presença pelo amor que lhe devotamos.
Adoramos o Deus Trindade. Veneramos
nossos santos e a Virgem Maria, presença forte, determinante, inspiradora para
todos os cristãos. Afinal, quem não se ufana da Mãe que tem? Sem o amor
sacrossanto do papai com a mamãe, não estaríamos hoje aqui. Por isso, veneramos
nossos santos, como nossos pais, como nossos motivadores para a santidade de
vida.
A primeira leitura(Ap 7,2-4.9-14)
realça que as primeiras perseguições tinham feito destruições cruéis nas
comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades, acabadas de
fundar, desaparecer? As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de
esperança nesta provação.
É uma linguagem codificada, que
evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear diretamente, aplicando-lhe
o qualificativo de Babilônia. A revelação proclamada é a da vitória do
Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro da
Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em
caminho de vida para todos aqueles que o seguem, em particular pelo martírio, e
eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.
A segunda leitura(1Jo. 3,1-3)
desta solenidade proclama nossa atual santidade, por sermos filhos de Deus e
templos do Espírito Santo, embora ainda não seja manifesto o que “seremos” após
o Juízo, de acordo com a nossa caminhada de fé. Por isso, celebramos hoje,
também, a Igreja Militante, que caminha neste mundo, com suas alegrias e
misérias, sob a inspiração da Igreja Triunfante, com muita vontade de lançar as
redes em águas mais profundas, em busca da santidade que nos envolve e nos
eleva: “Duc in altum”.
A tudo isso se une a primeira
leitura, com a visão antecipada do Apocalipse sobre a plenitude de todos
aqueles que aderiram a Deus. Quem aderiu a Deus participará das núpcias do
Cordeiro, como eleitos.
Eis, pois, como todos somos
convidados a santidade. Nós, Igreja Militante, com homens e mulheres do povo
sofrido, somos convidados a caminhar rumo à Igreja Triunfante, na firme certeza
de que a santidade é a meta básica da vida cristã. É preciso ser santo: isso é
o principal! O resto é conseqüência do amor gratuito de Deus pelos homens.
A santidade é a perfeição de vida
que se conquista no dia-a-dia, com altos e baixos, momentos de alegria e
momentos de tristeza. Nossa grande esperança, a armadura que com que nos
revestimos confiante nessa batalha, é a cruz que venceu o medo, o pecado e a
morte, o capacete da vitória cristã.
Em tudo isso está a frase que
marcou o meu cristianismo: “Enquanto o mundo, gira a cruz permanece de pé! Cruz
da vitória da morte sobre o pecado. Cruz da vitória de Deus contra a soberba.
Cruz, sofrimento diário que abre as portas do Céu”.
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